Atletas de diferentes clubes do futebol brasileiro começam a se organizar para que o Brasileirão não tenha a última rodada disputada – em função da tragédia que vitimou 71 pessoas no acidente aéreo da Chapecoense. Jogadores conversam por grupos de whatsapp e tentam arquitetar uma decisão coletiva. O objetivo, com isso, é passar uma mensagem de solidariedade aos 19 atletas mortos na Colômbia. O elenco do Inter já foi a público nesta quinta-feira para pedir que a rodada não seja disputada. Boa parte do grupo do Palmeiras, campeão brasileiro, também é contrário a ir a campo na última rodada. Em outros clubes, alguns atletas afirmaram desconhecer a iniciativa.
O movimento é uma ação de atletas – não envolve, inicialmente, as diretorias. A ação é embrionária. Ainda está ganhando corpo – os jogadores querem que ela cresça a ponto de se tornar unânime. Ela parte de atletas experientes – alguns deles formaram a organização do Bom Senso FC e pertencem a clubes variados.
Os jogadores pretendem que a decisão seja global para evitar punições da CBF. Eles entendem que quanto mais clubes participarem, menos poder a entidade terá para eventuais sanções para quem não for a campo. Por isso, buscam um acordo nacional: que envolva os 20 elencos. Esse consenso ainda está longe de ser alcançado. Há questões delicadas a ser resolvidas – especialmente, se a situação de cada clube na tabela será respeitada como posição final.
Jogadores do Inter, em luta contra o rebaixamento, decidiram que aceitarão a queda se essa for uma decisão coletiva. Trata-se de uma opinião dos atletas, não necessariamente da diretoria. Eles ficaram incomodados com declarações do vice-presidente de futebol do Inter, Fernando Carvalho, que afirmou ver prejuízo ao clube gaúcho no adiamento da rodada final do dia 4 para o dia 11 de dezembro. Foi também por isso que decidiram ir a público – para se desvincular da opinião do dirigente (que depois se desculpou pelo que disse).
Ao menos outros dois clubes já se manifestaram contrários a ir a campo na última rodada. São eles o Atlético-MG e a Chapecoense, que se enfrentariam no dia 11. O Galo afirmou que não disputará a partida, dada a situação do adversário – que teve o elenco dizimado pela tragédia na Colômbia. A Chape, por motivos óbvios, concorda. A CBF é a favor da realização da partida e diz que manterá sua organização. O América-MG também deu sinais de que não gostaria de ir a campo.
O que pode acontecer
Um eventual abandono coletivo, de tão inusitado, não é previsto na legislação esportiva. O regulamento geral de competições prevê que uma equipe será decretada perdedora por 3 a 0 caso não apareça para jogar. Se nenhum dos dois times for a campo, ambos serão punidos assim.
Uma equipe que deixar de comparecer para jogar também pode ser excluída da competição – desde que isso influencie na situação de terceiros na tabela. Por isso, a ação coletiva inibiria a punição. O STJD não teria, politicamente, como excluir todas as equipes do campeonato. Daí a busca dos atletas por um movimento coletivo.
Aos clubes, claro, poderá restar a possibilidade de só utilizar jogadores que porventura não participem da ação.
Reprodução: G1