Esporte

Em jogo duro, Brasil vence a Grã-Bretanha por 2 x 1 na estreia do futebol de 7

Com gols de Leandrinho e Maycon, Brasil conquistou os três pontos na primeira partida da modalidade nos Jogos Paralímpicos

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O Estádio de Deodoro recebeu na manhã desta quinta-feira (08.09) a estreia da seleção brasileira de futebol de 7 nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Prata em Atenas 2004 e bronze em Sidney 2000, o Brasil começou a caminhada pelo ouro inédito com vitória sobre a Grã-Bretanha por 2 x 1, com gols de Leandrinho e Maycon. David Porcher descontou para os britânicos. Com o resultado, o Brasil somou três pontos no Grupo A da competição. O próximo compromisso será diante a Irlanda, no sábado, a partir das 19h.

O técnico brasileiro, Paulo Cabral, avaliou positivamente a postura de seus comandados no primeiro embate. "Qualquer estreia em qualquer torneio que você vá é difícil. Todo mundo quer ganhar do Brasil, principalmente em casa. A Grã-Bretanha veio firme, no segundo tempo melhoraram muito, nós ficamos até um pouco acuados, mas com as mexidas conseguimos controlar a equipe deles e administrar o resultado. O positivo era sair com a vitória, independentemente do placar", avaliou.

Brasil e Grã-Bretanha fizeram um jogo bastante disputado em Deodoro. Foto: Cleber Mendes/MPIX/CPB

Destaque brasileiro na partida e autor do primeiro gol dos Jogos, Leandrinho aposta na evolução da equipe no restante do torneio. "Foi um jogo difícil, um pouco nervoso pela estreia, mas o time soube lidar bem. Acredito que no decorrer da competição nós vamos nos soltando um pouquinho mais e, se Deus quiser, ganhar o ouro tão sonhado para o Brasil", disse.

"Qualquer estreia em qualquer torneio que você vá é difícil. Todo mundo quer ganhar do Brasil, principalmente em casa. A Grã-Bretanha veio firme, no segundo tempo ficamos até acuados, mas com as mexidas conseguimos controlar a equipe deles"

Paulo Cabral

O meio-campista, no entanto, lamentou algumas oportunidades de gol desperdiçadas, principalmente na primeira etapa. "Após conseguirmos o primeiro gol, o time teve várias chances para ampliar. Quando se tem a possibilidade, tem que matar o jogo. Não matamos e no segundo tempo tomamos um gol, mas isso é normal. O time deles ia vir na pressão e infelizmente sofremos até o final, mas conseguimos a vitória, que é o mais importante", afirmou.

Autor do segundo gol, Maycon admitiu ter sentido um pouco a pressão da estreia. "Deu um pouquinho de frio na barriga, mas a gente mantém a calma e o pezinho no chão. Fui sorteado com um gol, mas temos que dar parabéns à equipe, jogamos bem até o final. Agora é focar na Irlanda, temos que pensar neles já depois de amanhã. Vamos rumo a essa medalha de ouro, que é um sonho para a gente", destacou. Para o meia, estreante em Jogos Paralímpicos, a experiência dos companheiros foi fundamental para que a equipe saísse com a vitória. "Tem uma rapaziada aqui que já jogou em 2012, em Londres, e sabe como é o calor da estreia. E, em casa, é mais complicado, né? Mas mantivemos a calma e conseguimos fazer uma boa partida", opinou.

Um dos atletas mais experientes da equipe, com 38 anos, José Carlos Monteiro previu confrontos duros durante toda a competição, mesmo com o apoio da torcida. "A gente sabe que vai encontrar dificuldades e que futebol se ganha dentro de campo. Não é porque estamos em casa que somos melhores, não é nada disso. A gente tem que mostrar", afirmou. Vice-campeão em Atenas 2004 e quarto colocado nas Paralimpíadas de Pequim 2008 e Londres 2012, Zeca, como é conhecido, afirmou que os Jogos do Rio devem marcar a sua despedida da seleção. Atleta da Andef, porém, o carioca ainda deve representar o clube em pelo menos mais três campeonatos brasileiros. O atacante, que antes de se dedicar integralmente ao paradesporto trabalhou como entregador de quentinha na comunidade da Mangueira e ascensorista, disse que o futebol de 7 mudou a sua trajetória. "O esporte me deu uma vida melhor, eu consegui obter algumas coisas, consegui comprar a minha casinha. Também temos o apoio do governo federal, do ministério do Esporte, do CPB, da Ande, que dão o suporte para a gente poder estar aqui hoje representando o nosso país", finalizou.

 

O jogo

A equipe canarinho entrou em campo com Marcão, Fernandes, Zeca, Diego Delgado, Leandrinho, Maycon e Felipe Rafael. Com toque de bola envolvente, o Brasil comandou as ações desde o início. Fechados no campo de defesa, os britânicos tentavam recuperar a bola para encaixar um contra-ataque, o que não aconteceu. Aos dez minutos, após bate e rebate na entrada da área, Leandrinho bateu rasteiro sem chances para Giles Moore e abriu o placar. Aos 22, Diego Delgado, o "Di María", fez linda jogada pela direita e cruzou para Maycon, sozinho, ampliar na segunda tentativa após rebote do goleiro.

O primeiro tempo terminou assim, 2 x 0. Com o resultado adverso, a Grã-Bretanha voltou um pouco mais ofensiva na segunda etapa. Logo aos três minutos, o meio campista David Porcher aproveitou descuido da zaga brasileira e chutou da entrada da área para diminuir a vantagem, 2 x 1. Após o gol, a seleção voltou a ter o domínio da partida, principalmente nas investidas do defensor canhoto Felipe Rafael e do meia Leandrinho. Após chances desperdiçadas pelas duas equipes, o placar, no entanto, permaneceu inalterado. 

A modalidade

O futebol de 7 é praticado pro atletas com paralisia cerebral, decorrente de sequelas de traumatismo crânio-encefálico ou acidentes vasculares cerebrais. As regras são da Federação Internacional de Futebol (Fifa), mas com algumas adaptações feitas pela Associação de Internacional de Esporte e Recreação para Paralisados Cerebrais (CP-ISRA). Os jogadores pertencem às classes menos afetadas pela paralisia cerebral e não utilizam cadeira de rodas.

No Brasil, a modalidade é administrada pela Associação Nacional de Desporto para Deficientes (Ande). Os jogadores são distribuídos em classes de 5 a 8, de acordo com o grau de comprometimento físico. Quanto maior a classe, menor o comprometimento do atleta. Durante a partida, o time deve ter em campo no máximo dois atletas da classe 8 (menos comprometidos) e, no mínimo, um da classe 5 ou 6 (mais comprometidos).

Desde 2010, o Ministério do Esporte celebrou 17 convênios com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que somam R$ 67,3 milhões. Os convênios contemplaram a preparac?a?o das selec?o?es permanentes em várias modalidades (atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, ciclismo, esgrima em cadeira de rodas, futebol de 5, futebol de 7, goalball, halterofilismo, judô, natação, remo, rúgbi em cadeira de rodas, tiro esportivo, vela, e voleibol sentado) para o ciclo de 2016. A preparação incluiu a realização de treinamentos no Brasil e no exterior, e a participação em competições internacionais.

A pasta também investiu R$ 187 milhões na construção e equipagem do Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, instalado em São Paulo. O complexo, principal legado dos Jogos Paralímpicos Rio 2016, é o maior do mundo em número de modalidades contempladas (15) e segue o conceito de países potência nos esportes adaptados, como Ucrânia, China e Coreia do Sul.

Entre 2012 e 2015, o Ministério também investiu na modalidade por meio do Bolsa Atleta, maior programa de patrocínio individual do mundo. Foram concedidas no período 149 bolsas, nas categorias Atleta de Base, Estudantil, Nacional, Internacional e Paralímpico, num investimento da ordem de R$ 2,7 milhões.

Fonte: Brasil 2016