O velocista potiguar Vicente Lenílson de Lima recebeu com surpresa e um misto de alegria e frustração a notícia de que, mais uma vez, seria um medalhista olímpico. Ele e os colegas Sandro Viana, Bruno Lins e José Carlos Moreira, o Codó terminaram a prova de revezamento 4×100 metros da Olimpíada de Pequim-2008 em quarto lugar, mas herdaram a medalha de bronze, quase nove anos depois, nesta quarta-feira. O Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou a punição à equipe jamaicana, vencedora da prova, devido ao uso de doping por parte do atleta Nesta Carter, companheiro de Usain Bolt. Aos 39 anos e aposentado do esporte de elite, Vicente Lenílson se disse contente com a novidade, mas lamentou a perda de um prêmio milionário.
“Eu jamais imaginei em tirar uma medalha do Bolt (risos). Claro que estou feliz, mas também é frustrante porque meu antigo clube, a Rede Atletismo, pagava 1 milhão de dólares por medalha. Como o clube acabou, eu jamais vou ver esse dinheiro”, afirmou o Lenílson. A equipe Rede Atletismo, ironicamente, deixou de existir em 2010, justamente por causa de um escândalo de doping do qual Vicente não participou– Bruno Lins, outro que deve herdar a medalha, também fazia parte do clube e estava envolvido – clique e relembre o caso.
“Pra mim é menos frustrante, porque eu já subi no pódio uma vez. O pior é perder essa oportunidade por causa da ganância dos outros competidores”, afirmou o ex-atleta, que em 2000 conquistou a histórica medalha de prata no revezamento dos Jogos de Sidney, ao lado de Claudinei Quirino, Edson Luciano e André Domingos.
Vicente conta que, na época, estranhou a forma física do jamaicano Nesta Carter na China. “Eu me lembro de ter disputado várias provas com ele, ele era magrinho, e de repente em Pequim ele estava grandão. Eu sempre achei muito estranho, mas nunca falei nada.” Reanálise dos exames mostrou que o jamaicano utilizou metilhexanamina, substância banida pelo Código da Agência Mundial Antidoping (APA ) desde 2004. Nascido em Currais Novos (RN), Vicente hoje vive em Cuiabá (MT), onde é terceiro sargento das Forças Armadas e mantém o Instituto Vicente Lenílson, que inicia mais de 80 crianças no atletismo. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) ainda não o procurou para dizer quando e como a medalha deve ser entregue. Nesta Carter ainda pode recorrer à Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês).
Reprodução: Revista Veja