Expressão da identidade afro

Cantor baiano lança EP "Borí" que explora conexão com ancestralidade africana

O lançamento é um trabalho autoral do artista Moisés Victório

Foto: Borí/Divulgação
Foto: Borí/Divulgação

Está disponível nas principais plataformas de streaming de música o EP “Borí” do artista interdisciplinar Moisés Victório, que apresenta seu novo trabalho autoral composto por cinco faixas inéditas que exploram as conexões entre música, fé, memórias e ancestralidade africana. O projeto representa um marco significativo na trajetória do artista, traduzindo em sons sua busca pela (re)construção de uma identidade africana como indivíduo da diáspora atlântica.

“O processo de transformar essas referências em sonoridades foi muito espontâneo para mim, muito natural”, explica Moisés. “Primeiro porque essa ancestralidade africana está à nossa volta o tempo inteiro. Não tem como conviver e transitar em Salvador sem estar imerso nessa herança. Por outro lado, a conexão com a espiritualidade vem da minha formação familiar. Cresci em terreiros de candomblé, e essa primeira formação musical veio dos cânticos, das rezas, dos orikis que entoávamos rotineiramente.”

Bacharel em artes pela Universidade Federal da Bahia, Moisés vem desenvolvendo pesquisas sobre as relações criativas entre arte, novas tecnologias e cultura eletrônica, estabelecendo relações com o estudo das culturas, línguas e cosmogonias africanas, em especial a cultura nagô-yorubá. Esse encontro entre contemporaneidade e ancestralidade é a essência de “Borí”.

O EP nasce das experiências pessoais do artista, que teve sua formação musical nos terreiros de candomblé durante sua infância.

“Borí é ritual, é transcendência, é orixá, é essência”, afirma Moisés. “A partir da mundivisão nagô-iorubá, podemos entender figurativamente o conceito de Borí como um processo de conexão interna, de autoconhecimento, de expansão de si para o mundo – através do seu lugar de fala e origem”.

Parte do trabalho foi concebido durante sua Residência Artística no Instituto Sacatar em 2023, onde Moisés colaborou com pesquisadores e artistas afro americanos da Universidade de Stanford (EUA). Dessa experiência surgiu a participação especial de Amara Tabor-Smith na faixa “Obìnrin”.

Então, a produção musical do EP conta com a colaboração do maestro e arranjador Cassius Cardozo. Além disso, o engenheiro de áudio Carlos Eduardo Andrade (Cají) concebeu a masterização e finalização.

Sobre a faixa

A primeira faixa “ÈṢÙ”, que abre o EP, já está disponível com videoclipe no YouTube. A obra traduz um universo construído nas intersecções do orixá da comunicação, do guardião dos caminhos, daquele que traz as notícias e elabora a sorte.

“Essa faixa é muito especial porque ÈṢÙ é o orixá da comunicação, o mensageiro que conecta os mundos”, comenta Moisés. “Na cultura tradicional iorubá e afro-brasileira, antes de iniciar qualquer ritual, qualquer celebração, é essencial saudar Exú. Por isso, a faixa abre o disco e também foi a primeira a ganhar um videoclipe”.

“Borí” representa, portanto, uma metáfora da memória, um portal para o autoconhecimento, é uma celebração da herança africana na diáspora atlântica.

“Espero que as pessoas se conectem com esse trabalho pela força da simbologia que carrega”, reflete o artista. “Este EP é um resgate de memórias da minha infância nos terreiros, mas também é uma discussão sobre cultura, identidade, ancestralidade, visões de mundo. Ele dialoga e protagoniza narrativas que precisam ser mais ouvidas”.

Bori é uma realização da Bogum Ambiente Criativo em parceria com a Multi Planejamento Cultural. Ela tem apoio financeiro do Governo da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) visa efetivar ações emergenciais de apoio ao setor cultural, cumprindo a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022.

Foto: Reprodução/Youtube Moisés Victorio

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