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A disparada do dólar nos últimos dias foi motivada pelo desfecho que teve a greve dos caminhoneiros, associada ao retrocesso da economia e às dúvidas sobre o rumo da política econômica após as eleições – quase uma tempestade perfeita, na avaliação de economistas. O temor dos investidores é que o quadro eleitoral que vem se desenhando nas pesquisas – sem um candidato de centro no segundo turno – se confirme.
“Tudo está vinculado às eleições, sendo que as pesquisas eleitorais apontam para um segundo turno com dois extremos, um de direita e outro de esquerda. Algo a que o investidor, principalmente o externo, tem forte rejeição, especialmente com o histórico da América Latina”, diz o ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carlos Langoni. “O risco político domina a formação do risco do País.”
Uma pesquisa encomendada pela XP Investimentos, publicada na quinta-feira, 7, mostra que 44% dos investidores acreditam em um segundo turno com Jair Bolsonaro e Ciro Gomes – e 48% veem uma vitória de Bolsonaro. Além disso, uma eventual candidatura de Fernando Haddad, com apoio de Lula, teria 11% das intenções de voto.
Segundo o ex-diretor do Banco Central (BC) e chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, José Júlio Senna, as condições financeiras internacionais, que foram favoráveis ao Brasil durante dois anos, começaram a piorar em janeiro e estão estáveis desde maio. A partir daí, o que houve de piora está ligado ao ambiente doméstico, com destaque para a paralisação dos caminhoneiros. “No momento em que percebemos que existe uma espécie de identificação de um governo impopular com uma agenda de reformas, os eleitores tendem a rejeitar candidatos que falem de reformas. É isso o que o mercado está vivendo agora. Está caindo a ficha”, afirmou Senna.
Embora o cenário atual remeta aos meses que antecederam as eleições de 2002, quando o dólar atingiu o patamar de R$ 3,99, o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, diz que o movimento de saída dos investidores guarda diferenças importantes com o que se viu naquele ano. Naquele momento, as contas externas brasileiras estavam ruins, além de as empresas estarem mais endividadas em dólar. Havia em 2002 uma “espiral que realimentava a crise”, diz o economista, que agora se reduziu. Já as constas fiscais agora estão muito piores do que em 2002 e mais difíceis de serem corrigidas, ressalta Schwartsman. Com o fiscal tão ruim, ele afirma que cresce a expectativa por um candidato com perfil mais reformista.
Sem essa alternativa, a avaliação de Luis Eduardo Assis, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, é de que a volatilidade deve aumentar até as eleições de outubro. “Até a semana passada, o dólar refletia muito a turbulência internacional. Agora, em cima disso, vem uma percepção crescente do mercado de que talvez não exista um candidato de centro que seja viável”, afirma. “Sobram o Jair Bolsonaro, o Ciro Gomes e, eventualmente, um candidato do PT; tudo isso é muito ruim para o mercado.” Segundo Assis, ainda que haja simpatizantes do economistas Paulo Guedes (responsável pelo programa econômico de Bolsonaro), os investidores estão se acostumando com a ideia de um processo eleitoral que vai ser mais difícil e que talvez tenha um segundo turno em que nenhum dos dois candidatos levante a bandeira das reformas que o mercado defende.
O economista-chefe da Mapfre Investimentos, Luis Afonso Lima, pondera que o forte movimento de venda de ativos brasileiros é uma reação atrasada do mercado. “O mercado comprou um cenário muito positivo, de muita tranquilidade. E essa volatilidade veio pra ficar, ao sabor das pesquisas eleitorais”, disse Lima. Ele rejeita a tese de que o mercado está em meio a um ataque especulativo e defende que se trata de um movimento de proteção dos investidores. “No mundo o dólar está perdendo em relação a outras moedas. Só perante o real que está ganhando. Isso sinaliza uma desconfiança, uma insegurança em relação ao Brasil.
Estadão Conteúdo // ACJR