O grupo Odebrecht enfrenta a mais difícil crise de liquidez desde que a Operação Lava-Jato colocou-o sob os holofotes das ações de combate à corrupção no Brasil, há quatro anos. A companhia precisa de um fôlego de R$ 1 bilhão para, por mais um ano, manter suas atividades funcionando, enquanto tenta se reorganizar-se financeiramente. Os recursos, porém, não são para cobrir dívida, e, sim, para o funcionamento cotidiano das empresas, incluindo os pagamentos devidos ao Ministério Público (MP). Exceto a petroquímica Braskem, que possui vida própria, os demais negócios estão inadimplentes no serviço e na amortização das dívidas há pelo menos seis meses.
Nesses últimos quatro anos, o conglomerado vinha se sustentando basicamente com recursos próprios — tanto para rodar suas operações quanto para honrar compromissos financeiros — e sucessivos alongamentos da dívida. Mas o fôlego chegou ao fim, segundo diversas fontes ouvidas pelo Valor.
O objetivo para 2019 era colocar em marcha uma ampla reorganização financeira, a partir de cada negócio, para ajustar a dívida de cada um à sua realidade de geração de receita, tentando, dessa forma, evitar que a holding Odebrecht S.A. (ODB) chegasse a uma recuperação judicial.
Esse plano original, porém, não está se concretizando nem na velocidade nem na forma planejada. E o risco na holding aumenta a cada dia. A RK Partners trabalha no desenho de soluções possíveis, inclusive para uma eventual recuperação judicial, desde o fim de 2018.
A expectativa na companhia é que, nos próximos meses, diversas empresas tenham que entrar em recuperação judicial ou extrajudicial. Entre elas a Atvos, de açúcar e álcool, a própria construtora Odebrecht Engenharia e Construção (OEC), o estaleiro Enseada e provavelmente a incorporadora e construtora OR, antiga Odebrecht Realizações.
Esse risco também assombrou recentemente a OTP, diante da demora na aprovação da venda da SuperVia à Mitsui pela Caixa, mais precisamente pelo FII-FGTS, sócio no negócio.
Na holding, os compromissos financeiros do grupo, já descontados os de Braskem, são da ordem de R$ 80 bilhões. É mais do que os R$ 65 bilhões encontrados no balanço da holding — desconsiderada a petroquímica — devido à existência de negócios nos quais a Odebrecht é a maior acionista, ainda que não seja controladora, e operações fora do Brasil.
Do total devido, R$ 40 bilhões são com os seis maiores bancos nacionais. No plano de reestruturação, inicialmente, não se pretendia considerar essa dívida de forma agregada, mas distribuí-la entre as suas controladas conforme seus resultados. Mas colocar essa estratégia em prática parece mais difícil do que se pensava.
Por um lado, o tamanho da exposição do grupo evita ou posterga um colapso, que não interessa a nenhum dos grandes credores. Os bancos nacionais, por exemplo, têm nas mãos garantia para apenas R$ 12,7 bilhões do total dos créditos. Mais de R$ 23 bilhões não têm qualquer cobertura — seria, para o sistema financeiro, um volume de crédito inadimplente muito maior do que o de qualquer outra companhia que já tenha tido problemas no Brasil.
Mas a outra face dessa moeda é que a relação da Odebrecht com os bancos públicos — Caixa, Banco do Brasil e BNDES — tornou-se muito difícil depois da Lava-Jato, o que agrava a ciranda do grupo. Para completar, essas instituições não têm atuado da maneira coordenada, como já foi no passado. Há divergência entre elas e demora e dificuldade na aprovação de reorganizações, propostas e negócios, relatam diversas fontes. Em comum, apenas elas têm o temor do escrutínio do Tribunal de Contas da União (TCU) em relação a quem conduz as negociações. Daí a lentidão do processo.
Valor Economico // AO