Economia

Início de corrida eleitoral incerta deve aumentar o nervosismo do mercado.

Analistas sugerem aplicação em títulos públicos pós-fixados para quem quer evitar risco.

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A partir de agora, a eleição presidencial será um dos principais focos de atenção do mercado financeiro.
Com a definição dos candidatos, fica aberta a temporada de campanha, pesquisas e boatos que servirão para muita especulação com os preços dos ativos. O vaivém das cotações tende a ser ainda maior, porque nunca houve uma eleição tão incerta como esta. 

Três ou quatro candidatos têm chances de ir para o segundo turno. Para o mercado, o novo presidente precisa estar comprometido com o ajuste fiscal, o que inclui uma agenda de privatizações. 

Quem mais se adequa ao perfil é Geraldo Alckmin (PSDB). Já o cenário de pânico seria Ciro Gomes (PDT). Há muitas dúvidas sobre eventuais governos de Marina Silva (Rede) e Jair Bolsonaro (PSL) —o mercado já faz um aceno a este último, se ele disputar o segundo turno com Ciro. 

A candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso pela Lava Jato, não é considerada.

A incerteza leva a volatilidades; cotações podem variar, num mesmo pregão, em função da euforia com um candidato ou pânico com outro.

Para o investidor que não quer correr riscos, mas sim proteger o dinheiro, analistas aconselham a segurança de títulos públicos pós-fixados, já que a expectativa é de alta da Selic (taxa básica de juro) nos próximos meses.

Também sugerem fundos DI, de crédito ou títulos de renda fixa —desde que o investimento seja levado até o vencimento, para garantir o percentual acordado.

“Não existe um ativo mágico para se proteger”, diz Sergio Goldman, estrategista da corretora Magliano. “A alternativa são aplicações que tenham liquidez e possam ser desfeitas com mais rapidez. Se posicionar no longo prazo vai exigir sangue frio para suportar o risco mais elevado.”

Mas se o investidor suportar riscos e não precisar de dinheiro no médio prazo, vale a máxima de que volatilidade significa oportunidade, desde que esteja ciente que o cenário não é para principiantes. Até mesmo gestores tarimbados enfrentam dificuldades.

O primeiro semestre já teve muito sobe-e-desce por causa do cenário externo, com a guerra comercial entre EUA e China e a alta dos juros americanos, que atrai mais investidores para lá, tirando recursos de países como o Brasil.

Carlos Eduardo Eichhorn, diretor de gestão da Mapfre, lembra que esses fatores, bem como a paralisação de caminhoneiros, tornaram até mesmo aplicações mais óbvias difíceis de serem executadas.

Ele lembra que a briga EUA-China afetou distintamente empresas no Brasil, nos setores de proteína e siderurgia.

“Nem ficar comprado [apostando na alta] numa ação e vendido [acreditando na queda] em outra se elas forem inversamente impactadas por um mesmo evento está tão óbvio assim”, diz. Por isso, recomenda ouvir especialistas.

Qualquer previsão sobre o dólar, sempre a mais complexa, está mais difícil. Se o câmbio repetir o movimento de aversão ao risco da eleição de 2002, quando bateu nos R$ 4, chegaria, hoje, a R$ 7.

“Não me parece provável. Mas a moeda já avançou bastante este ano, sem refletir os fundamentos. Qualquer previsão fica difícil”, diz Eichhorn.

Para a Mapfre, o dólar estará em dezembro em R$ 3,70. Eichhorn também vê chances de retorno no longo prazo, se o investidor se posicionar hoje e puder esperar pelo menos um ano.

“A definição eleitoral não vai significar calmaria. Investidores vão esperar as ações do novo presidente primeiro”, diz.

Leonardo Rufino, gestor da Pacífico, afirma que nunca viu tantas ações baratas na como agora. Ele enxerga opções em bancos, administradoras de shoppings e estatais, como a Petrobras.

As estatais podem ser muito influenciadas, para cima ou para baixo, pelo novo governo, desde a troca de seus executivos até uma decisão de privatização. “A nossa recomendação é olhar sim para esses papéis, mas com uma exposição menor na carteira”, diz.

Para Eduardo Ponce, sócio da Genial, não existe certo e errado, mas sim a procura por adequar uma carteira ao perfil de risco suportado.

Ele recomenda diversificação e cita bons fundos de crédito corporativo, com títulos de dívida de empresas cuja capacidade de crédito foi analisada por bons gestores e que podem ter menor risco.

Ou CDBs de cinco anos, mas que pagam rentabilidade mensalmente, e lembra que carteiras de ações recomendadas por analistas podem ser seguidas. “Volatilidade gera distorções de preço. Mas não recomendo procurar por elas sozinho”, diz.

TEMPOS DE ESTRESSE PODEM CAUSAR PÂNICO EM INVESTIDORES
Momentos de estresse no mercado, como o período pré-eleitoral, podem levar pânico aos investidores —e é nesse momento que a atenção tem de ser redobrada.

“É quando cresce a chance de a pessoa querer proteger seu dinheiro de maneiras pouco ortodoxas”, diz Vera Rita de Mello Ferreira, doutora em psicologia social pela PUC-SP, especialista em finanças comportamentais.

Segundo ela, as pessoas ficam vulneráveis e podem perder dinheiro ouvindo algum canto da sereia por aí. “Podem entrar em golpes ou fraudes.”

A tendência é que surjam boatos que podem ser amplificados com o uso de redes sociais, levando as pessoas a fazer coisas que não fariam normalmente.

“Tem que tentar manter a cabeça funcionando, e se perceber que está difícil ou que está entrando em pânico, procurar um especialista, isento e de confiança”, afirma.

A psicóloga diz que o investidor precisa pensar com cuidado na questão de risco.

“A maioria das pessoas não consegue identificar corretamente risco. Acha que consegue, mas não consegue”, afirma. Por essa razão, ela recomenda que cada um tente entender como a pessoa reage à perspectiva de perda.

Ela cita o Nobel de Economia de 2002, o psicólogo Daniel Kahneman, que diz que nós corremos riscos porque não nos damos conta da probabilidade daquilo dar errado. “Se tivéssemos essa clareza disso, não correríamos riscos.”

Na avaliação dela, não é exatamente correto dizer que há pessoas com maior apetite a riscos. ”Pode ter um pouco. Mas o certo é que ninguém quer perder. E em nome disso, as pessoas acabam correndo riscos que não correriam normalmente.”

Ela se refere a investidores que, mesmo vendo a queda dos ativos, teimam em manter aplicações, na esperança de que elas se recuperem.

As dicas de especialistas

Bolsa

“Poucas vezes vi tantas ações tão baratas na Bolsa como agora. Se a pessoa tiver pensamento de longo prazo, vale à pena comprar alguns papéis muito descontados. Um exemplo são as dos bancos”.
Leonardo Ruffino, Pacífico Gestão

“Quem já conhece mais o mercado pode tentar se proteger com derivativos. Por exemplo, usar opções de compra (apostando na alta) ou venda (acreditando na queda) de empresas que tenham reações opostas a eventos. É o caso de um companhia com receita e outra com dívida em dólar”
Lucas Claro, Ativa Investimentos

Câmbio

“O câmbio, tradicionalmente, é um ativo de proteção. Mas acho que neste ano, ele já andou bastante e não recomendaria uma grande exposição com esse propósito” 
Sergio Goldman, Magliano Corretora

Renda fixa

“Interessante para quem quer mais previsibilidade, mas o investidor não pode esquecer que tem que levar o investimento até o fim do prazo”

Folhapress // ACJR