O Banco Central já trabalha com uma alta da inflação neste ano. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo e ao Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado), o presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse que a trajetória da inflação para 4% está na conta da instituição e indicou a decisão da diretoria em manter a taxa básica de juros (Selic) em 6,5% ao ano. Mesmo com a concretização desse cenário, o índice oficial de preços ficaria abaixo da meta estipulada para este ano, de 4,5%.
Na última pesquisa Focus, uma centena de economistas ouvidos pelo BC projetou o IPCA em 3,82% no fim de 2018 – há um mês, as projeções eram de 3,45%. “É claro, e já estava na conta, que a inflação em 12 meses não ia ficar abaixo de 3% para sempre.”
Ao responder a questões de investidores e economistas no Broadcast Interativo ao Vivo, Ilan disse que não vê risco de custo para as contas públicas no aumento de swaps (contratos equivalentes à venda de dólar no mercado futuro). Segundo ele, o BC também não vai esperar o mercado “secar” para atuar no câmbio e impedir a desvalorização do real, porque o País “acumulou munição” para enfrentar momentos como o de agora.
Com a escalada dos preços agrícolas e dos combustíveis, não seria prudente o BC elevar os juros no próximo encontro?
Temos dito que a política monetária (aumento de juros) não será usada para estabilizar o câmbio. A política monetária vai continuar sendo usada para atingir a meta de inflação, olhando expectativa de inflação e balanço de riscos. Olhando isso, nós decidimos a cada 45 dias qual será nossa decisão sobre a Selic, mantendo os princípios do regime de meta de inflação. Nesse caso, não será diferente. Vamos tomar a decisão sobre juros no dia 20 de junho.
A última reunião do Copom foi marcada por críticas em relação às sinalizações do colegiado sobre a Selic. Onde o BC errou na comunicação?
Não nos leva a nada ficarmos vendo no que errou, como errou. A questão mais relevante no momento é a dos nossos riscos, que mudaram. O BC tem sido muito claro em relação ao risco do cenário internacional. Nós alertamos que o cenário benigno não iria continuar para sempre, e isso se revelou verdade. Mas também alertamos que é necessário continuar na trajetória de ajustes, de reformas. Além disso, temos dito que as decisões do Copom são tomadas no dia da reunião. É neste dia que as condições são avaliadas. Isso vale para a reunião passada e para todas as reuniões do Copom.
A coleta de preços de curto prazo aponta que já em junho a inflação de 12 meses deve passar de 4%. Como o sr. avalia o balanço de riscos para a inflação no momento?
Já estava na conta que a inflação em 12 meses não ia ficar abaixo de 3% para sempre e, inclusive, essa foi a base da nossa decisão passada (de manutenção da Selic em 6,5% ao ano). De fato, o risco de a inflação ficar abaixo da meta é bem menor hoje. Então fazia sentido a gente manter a taxa de juros na reunião anterior, dado que a inflação ia voltando com mais segurança para a nossa meta. O fato de ela voltar em direção a 4% ao longo deste ano não me parece algo fora do cenário-base. É claro que vamos ter de olhar as expectativas. As projeções de inflação vão subir para frente? Qual o balanço de risco à frente? Isso tudo vamos avaliar na reunião do Copom.
O BC anunciou operações de US$ 20 bilhões em swap cambial (cujo efeito é equivalente à venda de dólares) até o fim desta semana, o que acomodou o dólar. O que a instituição vai fazer a partir da semana que vem?
No momento, não anunciamos nada para frente. Vamos observar. Nosso objetivo tem sido de estabilizar o mercado, deixar o câmbio flutuante, mas evitar a turbulência que vimos na semana passada. Este tem sido nosso objetivo. A partir daí, a gente vê para frente.
O sr. também comentou que o BC, se necessário, fará operações com swaps além do estoque visto no passado, que chegou a US$ 115 bilhões. Uma posição tão grande em swaps não representa um custo muito grande para o País?
Nós temos US$ 380 bilhões de reservas internacionais e a posição de swap é uma forma, em contratos derivativos, de usar essas reservas que temos. Essas reservas foram acumuladas para serem usadas em momentos de necessidade. Montamos este seguro e, uma vez que temos isso, ele é para ser usado em momentos de necessidade. Achamos que o momento é agora, é este ano. Se você chegar ao máximo visto no passado, por exemplo, são US$ 115 bilhões de swap de um lado versus US$ 380 bilhões de reservas de outro. Ainda há bastante espaço. Não considero um risco para o País.
O BC não poderia se adiantar à falta de recursos e fazer leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra no futuro) para inibir especulações, como sugerem alguns profissionais?
Dissemos que se houver demanda, vamos oferecer. Agora, haver demanda não significa esperar a liquidez secar. Se observarmos que há necessidade, se houver demanda maior que oferta de dólares, obviamente estaremos à disposição para ajudar. Não há problema em fazer leilão de linha. Temos reservas e elas nos dão lastro para fazer os leilões.
Qual o risco para o Brasil de vitória na eleição presidencial de um candidato não comprometido com as reformas fiscais?
Não comento questões políticas. Gostaria que o BC se mantivesse neutro, apartidário, para poder cumprir melhor o seu papel. Mas temos dito que é muito importante para o Brasil continuar na trajetória das reformas, principalmente do lado fiscal, porque apenas isso vai garantir consolidação fiscal, inflação baixa, recuperação da economia e taxas de juros estruturais mais baixas.
Estadão Conteúdo // ACJR