Após denúncia, MP apura eutanásia de animais no Hospital Veterinário

Diante de diversas irregularidades divulgadas, MP-BA inicia procedimento apuratório

Foto: Valter Pontes/Secom PMS
Foto: Valter Pontes/Secom PMS

“Hospital Veterinário não deu suporte ao cachorro que eu trouxe. Estão exigindo que eu saia, chamaram até a Guarda Municipal para me oprimir. Querem que eu coloque o animal de volta na rua. Disseram que não iam fazer cirurgia”, Marlene Soares.

“Resgatei um animal com colapso intestinal. Levei o animal dia 02 e informaram que só poderia ser feito o procedimento, de urgência, no dia 05. Mesmo com intestino do lado de fora. Precisei levar para um médico particular”, Marisa Pinto

Esses são alguns relatos narrados ao PSNotícias, sobre o atendimento no Hospital Veterinário de Salvador. A Secretaria de Sustentabilidade inaugurou o espaço, em março deste ano, como um grande marco no cuidado animal. Apesar da expectativa, a realidade é bem diferente: poucas fichas e demora no atendimento, diagnóstico impreciso, e até eutanásia dos pets. As omissões geraram a Notícia de Fato (nº 003.9.427761/2024) no Ministério Público da Bahia.

Denúncia

A denúncia, apresentada por Ana Rita Tavares, advogada especialista na causa animal, relata a ocorrência de eutanásia de 62 animais, em um único dia, no Hospital. Diante do ocorrido, a ativista prestou depoimento ao órgão e aguarda novas etapas da apuração.

Segundo as protetoras de animais ouvidas pelo PSNotícias, o Hospital não tem leitos suficientes para garantir o internamento, bem como não fornece gratuitamente os remédios para realização do tratamento. Desse modo, se o paciente não tem condições de arcar com os medicamentos, os animais são submetidos à eutanásia. 

“Nossos animais entram para fazer atendimento corriqueiro, e até cirúrgicos, e morrem sem motivo aparente nenhum”, denunciou Evelin Pedreira ao PSNotícias.

Falta de serviços

Outra irregularidade constatada nos depoimentos de usuários do serviço público, é que animais têm saído dos atendimentos sem a assistência buscada. Segundo consta na denuncia, não há especialidades médicas anunciadas, a exemplo de oftalmologia e ortopedia cirúrgica. 

Como informou Evelin ao PSNotícias, o hospital não atende: casos ortopédicos, cirurgia de vesícula, também não retira miomas, não faz partos complicados, histerectomia com castração quando se precisa pra controle populacional, não faz castração como preventivo, não atende oftalmo, também não atende dispnéia, hérnia, transfusão, quimioterapia, erliquiose, cinomose…Ao chegarem nesse ponto optam por eutanásia, de modo a liberarem leitos.

Além disso, guardiãs de cães e gatos relatam que o Hospital não realiza exames de bioimagem, a exemplo de ultrassonografia. Por isso, os funcionários repassam ao tutor a obrigação de fazer o exame em clínicas particulares, inviabilizando, assim, o diagnóstico do animal. Afinal, o público principal são pessoas de baixa renda, que não têm como arcar com os elevados custos deste e outros exames. 

Apesar de ser um estabelecimento hospitalar com a infraestrutura física e de aparelhagem, a gestão apresenta-se ineficaz, é o que denuncia Leni Nunes. “Parece um elefante branco, os exames de maior complexidade, apesar da estrutura, quando realizam, demoram para sair o resultado da maioria deles, sendo que são casos de urgência”, afirmou a protetora Soraya Vasconcelos ao PSNotícias.

Insegurança

Além disso tudo, um dos pontos de maior crítica se deve ao fato do Hospital funcionar como clínica, ou seja, atendimento apenas entre 08h às 17h. Devido ao horário restrito, o Hospital distribui apenas 40 fichas diárias, com isso, a população se aglomera desde a madrugada para enfrentar fila e conseguir garantir o atendimento. 

“Cães e gatos só podem ser atropelados em horário comercial, ou então não temos para onde levar. Isso não condiz com o título de hospital, e sim de uma clínica”, afirmou a protetora Roberta Araújo ao PSnotícias.

Além disso, pacientes relatam que se sentem inseguros na região de Canabrava e, devido a proximidade com o estádio Manoel Barradas, ainda lidam com trânsito e o barulho das torcidas. A situação como um todo acaba por assustar os animais já assentados.

“O hospital veterinário municipal submete as pessoas a uma humilhação desnecessária de 40 senhas onde as pessoas chegam às 03hs às 05hs da madrugada, em uma região perigosa, para fazer uma consulta”, acrescentou Evelin.

Veterinários

Entre os veterinários, o Hospital é conhecido por ser um espaço em que só entra quem tiver indicação política. Fontes, que não quiseram se expor com receio de retaliação, informaram que profissionais despreparados são aprovados em detrimento de outros candidatos mais experientes. 

Ao PSNotícias, profissionais denunciaram erros básicos como de cálculo de dose, e que conhecem veterinários que realizaram eutanásia. “Para quem tem amor aos bichos é um ambiente muito difícil de trabalhar. Geralmente sempre são casos graves, de animais de rua, e com uma equipe despreparada. Com isso, você vê muitas mortes. Tem que ter estômago”, afirmou em anônimo.

Nota da Sics

“A Secretaria de Sustentabilidade, Resiliência, Bem-estar e Proteção Animal (Secis) informa que não recebeu qualquer comunicado ou ofício do Ministério Público da Bahia a respeito do caso questionado. Dessa maneira, vamos aguardar eventual comunicação oficial e nos posicionaremos, se for o caso, nos autos.”

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