Final de quê, afinal?

O mês de dezembro chegou, e com ele, as tradicionais reflexões sobre o que foi feito e o que ainda pode ser mudado. Fala-se muito sobre novas perspectivas, olhares e comportamentos. Mas será que os conflitos e sofrimentos que carregamos realmente expiram ao final de 12 meses? Se é assim, por que nos angustiamos tanto?

No consultório psicológico, essa época do ano é marcada por um misto de sentimentos. Muitos pacientes oscilam entre arrependimentos do que não deveriam ter feito e esperanças sobre o que poderiam realizar no próximo ano. E, verdade seja dita, essas reflexões não são exclusivas dos pacientes – elas alcançam também os próprios terapeutas, como confessa a autora deste relato.

Entre listas e promessas, uma dúvida parece pairar: o que foi anotado em segredo naquelas resoluções que insistimos em esconder de nós mesmos? Afinal, quem nunca fez uma lista de metas para depois guardá-la sob sete chaves, quase como um ato de autoproteção?

Essa dualidade – entre o desejo de “resolver” questões e a resistência em lidar com elas – se reflete na busca pela terapia neste período. Há quem procure ajuda justamente para tentar um novo começo, enquanto outros se afastam, alegando falta de tempo ou dinheiro. No fundo, todos carregam a mesma inquietação: é possível mudar?

Pode ser que o relacionamento desgastado ou o trabalho insatisfatório, que passaram o ano todo sendo motivos de reclamação, ainda guardem alguma chance de transformação. Talvez, como no futebol, ainda reste a esperança de virar o jogo nos minutos finais.

E se o final do ano for mais do que uma data no calendário? Talvez ele simbolize a renovação da esperança, a crença de que é possível mudar e ser feliz, mesmo diante das dificuldades.

Que tal, então, aproveitar esse momento para refletir? O que realmente esperamos ao contar os dias para o próximo ano? Será que, no fundo, buscamos apenas a confirmação de que ainda há esperança e possibilidades?

Ao invés de esperar que um novo ciclo traga mudanças mágicas, que tal começar agora? O final do ano pode ser o pretexto perfeito para lembrar que, sim, ainda é possível. Afinal, recomeços não precisam de datas, só de vontade.

*Nili Brito – Psicóloga Clínica, pós-graduada em Psicologia Hospitalar, pesquisadora das relações e do amor, onde o seu trabalho nas redes sociais enfatiza uma Psicologia humanizada, de fácil entendimento e acesso à população, dando ao sujeito sua principal importância e não apenas ao seu sintoma.