O ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) João Vaccari Neto e o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque ficaram em silêncio durante interrogatório, realizado nesta segunda-feira (17), em ação penal da Lava Jato que envolve o ex-ministro Antônio Palocci. Os dois estão presos no Paraná. O delator Olívio Rodrigues Júnior confirmou que operava e controlava as contas utilizadas pela Odebrecht para pagamentos ilícitos no exterior, por meio do Setor de Operações Estruturadas. Ele disse que movimentava, por mês, aproximadamente US$ 7 milhões não contabilizados. Também foi ouvido o irmão e sócio de Olívio, Marcelo Rodrigues, que também fez acordo de colaboração premiada.
A audiência começou às 14h na sede da Justiça Federal do Paraná, em Curitiba, e foi conduzida pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância. Antes das 15h os depoimentos já tinham terminado. Duque chegou a afirmar a Moro que gostaria de cooperar com a Justiça em tudo o que ele tiver conhecimento, entretanto, por orientação dos advogados iria ficar calado. “Conforme eu já expressei ao senhor, em outras ocasiões, eu gostaria de reiterar o meu compromisso de cooperar com a Justiça em tudo que foi do meu conhecimento e estiver ao meu alcance. Neste processo, em particular, tem diversas questões que eu poderia esclarecer, mesmo considerando que a condução deste processo não foi de responsabilidade da área de Serviço da Petrobras e sim de outra área. No entanto, por orientação expressa da minha defesa, neste momento, eu permanecerei em silêncio”, explicou o ex-diretor da estatal.
Olívio Rodrigues Júnior
O delator Olívio Rodrigues Júnior confirmou a Moro que fazia os pagamentos não contabilizados da Odebrecht no exterior e disse que movimentava, mensalmente, aproximadamente US$ 7 milhões. Para realizar o serviço, ele disse ter montado um escritório em São Paulo e teve ajuda de outra empresa para criação de aproximadamente 15 offshores, para onde os valores eram enviados. “Todas as estruturas criadas por mim, foram para atender a Odebrecht”, explicou. Segundo ele, o serviço começou a ser prestado em 2006 e continuou até o fim de 2015. “Existiam contas de passagem, que eram contas de doleiros que eu abastecia, mas existiam beneficiários finais também”, esclareceu. Ainda conforme o depoimento, ele era informado semanalmente sobre os valores que seriam movimentados mas, por segurança, não sabia quem eram os beneficiários do dinheiro. Olívio disse, ainda, que não conhecia nenhum dos réus do processo antes da sua prisão, na 26ª fase da Operação Lava Jato.
Marcelo Rodrigues
Marcelo Rodrigues confirmou que trabalhava com o irmão de Olívio na operação das contas da Odebrecht no exterior. Segundo ele, havia uma lista com os pagamentos que deveriam ser feitos. “Eu recebia uma planilha de pagamentos semanal (…) e eu tinha até o final da semana para executar estes pagamentos. Na outra semana vinha uma nova planilha”, contou. Essa planilha, de acordo com Rodrigues, era entregue por Ângela Palmeira Ferreira, funcionária da Odebrecht que trabalhava do Setor de Operações Estruturadas, destinado ao pagamento de propina, de acordo com a força-tarefa da Lava Jato. Ângela é uma das colaboradoras da operação. Ainda conforme Marcelo Rodrigues, as contas de destino do dinheiro eram offshores, e os nomes dos titulares eram desconhecidos. De acordo com o réu, o propósito do pagamento chegava para ele como “serviços de infraestrutura”. Moro perguntou se Marcelo Rodrigues sabia que estava envolvido em uma atividade ilícita. Em resposta, ele disse que sabia que trabalhava com recursos não contabilizados. Marcelo Rodrigues disse que não conhece Antonio Palocci e demais réus da ação e que não teve contato pessoal com as pessoas que foram beneficiadas pelos pagamentos.
A acusação
O processo apura se Palocci recebeu propina para atuar em favor do Grupo Odebrecht, entre 2006 e o final de 2013, interferindo em decisões tomadas pelo governo federal. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), o ex-ministro também teria participado de conversas sobre a compra de um terreno para a sede do Instituto Lula, que foi feita pela Odebrecht, conforme as denúncias. A denúncia trata de pagamentos feitos para beneficiar a empresa SeteBrasil, que fechou contratos com a Petrobras para a construção de 21 sondas de perfuração no pré-sal. O caso foi delatado pelo ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco. As investigações mostram que o valor pago pela Odebrecht a título de propina pela intermediação do negócio chegou a R$ 252.586.466,55. Esse valor foi dividido entre as pessoas que aparecem na denúncia. Em troca disso, a empresa firmou contratos que, somados, chegaram a R$ 28 bilhões.
As planilhas do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht
No depoimento, Marcelo Odebrecht disse ao juiz Sérgio Moro que sempre usou o codinome "Italiano" para se referir a Palocci. O codinome apareceu em planilhas do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht. A relação entre o codinome e o político já havia sido apontada em outros depoimentos, como do ex-executivo e delator Márcio Faria que disse, várias vezes em depoimento, que Palocci era o Italiano das planilhas. Marcelo Odebrecht disse ainda que o codinome “seminarista” se refere a Gilberto Carvalho. Carvalho é ex-chefe de gabinete do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente do grupo também falou em seu depoimento sobre o codinome "Feira". O apelido, segundo ele, se refere ao marqueteiro João Santana.
Em uma análise preliminar de uma agenda apreendida na residência da secretária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, em fevereiro de 2016, o juiz Sérgio Moro chegou a dizer que Feira poderia se reportar a Mônica Moura porque ela era a responsável pela parte administrativa e financeira das atividades do casal. "Feira era o João Santana. Tem algumas anotações minhas onde eu me refiro a Feira como campanha presidencial da Dilma porque a maior parte era pra João Santana. Mas, na prática, Feira, digamos assim, é João Santana", afirmou Marcelo.
Reprodução: O Globo