Ao menos três pessoas foram mortas por dia pela polícia fluminense em janeiro, de acordo com dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) divulgados nesta quinta-feira (23). Isso equivale a um homicídio cometido pela Polícia Civil ou Militar a cada 8 horas no Estado. O número é cerca de 85% maior em comparação com o mesmo período do ano passado.
Em janeiro deste ano, foram registrados 98 homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial, como são registradas as mortes provocadas pela polícia, contra 53 mortos em janeiro de 2016. Em janeiro de 2015, 65 pessoas foram mortas.
No mesmo período de 2017, quatro policiais morreram em serviço; em 2016, houve uma morte.
O número indica aumento da letalidade policial no Estado. O número de vítimas em janeiro representa 10,6% de todo o registrado durante o ano de 2016, quando 920 pessoas foram mortas pela polícia. Em 2015, foram a polícia fluminense matou 645 pessoas. No Rio, onde vivem, de acordo com o IBGE, 16 milhões de pessoas, a taxa de mortes em decorrência de intervenção policial por 100 mil habitantes –índice geralmente usado para aferir a criminalidade e comparar crimes em regiões diferentes–, foi de 5,5 em 2016 contra 3,9 em 2015.
Para a organização Human Rights Watch, que lançou em julho o relatório "O Bom Policial Tem Medo: Os Custos da Violência Policial no Rio de Janeiro", os números endossam "o entendimento das autoridades de que execuções extrajudiciais são bastante comuns" no Estado.
"O número de mortos por ação policial é muito maior do que o número de baixas na polícia, fazendo com que seja difícil acreditar que todas estas mortes ocorreram em situações em que a polícia estava sendo atacada", diz o relatório. Para cada policial assassinado no Rio de Janeiro em 2016, outras 23 pessoas morreram em decorrência de intervenções policiais, de acordo com levantamento feito pelo UOL com base em dados do ISP.
Questionada sobre o grande número de mortes cometidas por policiais, a Secretaria de Segurança não respondeu até a publicação desta reportagem.
José Mariano Beltrame, que deixou a chefia da Segurança Pública do Estado em outubro após quase dez anos no cargo, justificava com frequência as mortes causadas por policiais como um dos resultados da "guerra" existente no Estado, em especial na capital fluminense.
"Você tem algo aqui, que não existe no resto do mundo, que são três facções criminosas ideologicamente distintas, que se odeiam e que todas elas têm uma idolatria, um apego imenso por armas de guerra", afirmou, em junho, em entrevista ao jornal "El País". "Há áreas que a gente chama 'de guerra', ilhas de violência com um imperador lá dentro e seu respectivo staff de segurança."
Reprodução: UOL