Brasil

Turistas deixam Venezuela e chegam a Roraima: 'passamos fome', dizem

Fronteira por Roraima será aberta todos os dias às 16h, hora de Brasília

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 src=Cerca de 15 turistas que estavam na Venezuela chegaram ao Brasil no fim da tarde desta segunda-feira (19). Eles foram trazidos a Roraima por uma comitiva do governo do estado.

No grupo de pessoas que cruzaram a fronteira, havia tanto turistas brasileiros quanto venezuelanos que moram no Brasil. Eles foram beneficiados com a abertura diária da fronteira anunciada pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).

Uma família venezuelana que vive em Roraima contou ter passado fome durante o período em que ficou retida em Santa Elena de Uairén, primeira cidade venezuelana após a fronteira com o Brasil.

"Nós apenas almoçávamos, porque não tínhamos dinheiro para tomar café e jantar. Estamos voltando para o Brasil sem nenhum centavo, porque tudo o que tinham gastamos para nos alimentar lá", contou Luiz Eduardo, de 45 anos.

Ele, a esposa e os filhos de 13 e 16 anos contaram que em Santa Elena de Uairén, primeira cidade após a fronteira com o Brasil, a situação é precária. "Na Venezuela não tem comida e as pessoas foram para as ruas. Estão saqueando tudo", relata.

Inicialmente, a Secretaria de Relações Internacionais tinha informado que 37 pessoas seriam resgatadas pela comitiva do governo. No entanto, segundo a titular da pasta, Verônica Caro, apenas 15 foram localizadas no país.

"Sabemos que existem muitos outros brasileiros querendo voltar para o Brasil. Pessoas que estão viajando a caminho de Santa Elena para cruzar a fronteira. Essas pessoas devem procurar o auxílio da  nossa secretaria ou da embaixada na Venezuela", informou Verônica.

O advogado brasileiro Bruno Gadelha também conseguiu voltar para o Brasil nesta segunda. Ele disse ter ido a Venezuela para visitar parentes e amigos, e que foi pego de surpresa pelo fechamento da fronteira.

"Como já venho há muitos anos para a Venezuela, me precavi e trouxe bastante dinheiro. Não cheguei a ter problema, mas sabemos que quem não se preveniu financeiramente teve dificuldades", afirmou.

O Itamaraty anunciou na tarde desta segunda que a fronteira entre o Brasil e Venezuela, fechada por ordem do presidente Nicolás Maduro, será aberta diariamente para a passagem de turistas brasileiros.

Venezuelanos esperam para voltar ao país
Apesar da passagem de brasileiros ter sido oficialmente liberada, venezuelanos ainda esperam para voltar ao país natal.

Um deles é o taxista José Sanchez, de 54 anos. Ele mora na cidade de Cumaná e veio ao Brasil na segunda-feira (12) a passeio. Ao tentar voltar para casa, na terça-feira, foi surpreendido pelo fechamento da fronteira.

Ele contou que está sobrevivendo porque ganha comida de graça em Pacaraima e dorme dentro do próprio carro. "Já gastei todo o dinheiro que possuía e agora tenho só R$ 3 na carteira para durar até quando eu conseguir voltar para casa", diz.

Luiz Rodrigues, de 30 anos, também enfrenta o impasse de não conseguir voltar para casa, na cidade venezuelana de Maturín. Ele, que é pedreiro e veio para Roraima em busca de emprego, tinha a pretensão de passar o Natal e o Ano Novo com a família na Venezuela, mas agora está 'ilhado' em Pacaraima.

Fronteira fechada e passagens diárias
Na terça (13), o presidente venezuelano Nicolás Maduro decretou que as fronteiras da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia fossem fechadas. Na quinta (15), o presidente prorrogou a decisão por mais 72h e no sábado anunciou que a medida irá valer até o dia 2 de janeiro.

Segundo o líder chavista, a Venezuela está sendo vítima de um "ataque econômico" contra sua moeda. O fechamento visa combater as "máfias" que entram no país para desestabilizar a economia da Venezuela.

Maduro também decidiu estender a vigência da nota de 100 bolívares, que, como anunciara o governo no domingo passado, deveria ser retirada de circulação na última quinta.

O fechamento das passagens fronteiriças foi estabelecido, ainda de acordo com a visão de Maduro, justamente para evitar que as notas de 100 que tinham sido tiradas do país por grupos ilegais voltassem a circular.

Reprodução: G1