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Sete dias após rebelião no interior de SP, mais de 100 continuam foragidos

Governo diz que 343 recapturados perderão direito ao regime semiaberto

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 src=Uma semana após a rebelião no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Jardinópolis (SP), 142 presos ainda estão foragidos, segundo dados fornecidos pela direção da unidade à Associação dos Advogados de Ribeirão Preto (SP).

Uma comissão formada por representates da entidade obteve autorização da Justiça para realizar vistoria no presídio. Um laudo sobre as condições encontradas será apresentado ao juiz Luis Augusto Freire Teotônio nesta quinta-feira (6).

O último levantamento informado pela Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) na segunda-feira (3) apontava que 343 presos haviam sido recapturados, ou seja, 127 continuavam foragidos.

A Polícia Civil investiga a suspeita de que três fugitivos tenham morrido: dois corpos foram achados carbonizados em um canavial ao lado do presídio e outro, de um homem vestindo uniforme prisional, foi encontrado no Rio Pardo.

Segundo a SAP, os recapturados perderão o direito ao semiaberto e já foram transferidos para unidades penais de regime fechado na região de Ribeirão. Uma sindicância apura as causas da rebelião.

Fuga em massa
O tumulto teve início por volta de 9h de quinta-feira (29), durante a revista de rotina. Os presos atearam fogo em colchões, derrubaram uma grade de quatro metros de altura e fugiram pela Rodovia Cândido Portinari – ao todo, 470 conseguiram escapar.

Com capacidade para 1.080 detentos em regime semiaberto, o CPP abrigava 1.861 presos, segundo a SAP. A superlotação, no entanto, não seria a causa do motim. Presos recapturados reclamaram das punições aplicadas pela direção da unidade, como a suspensão recorrente das visitas.

A Polícia Militar informou que alguns presidiários se esconderam no meio de um canavial, onde havia um incêndio. Oito foram recapturados feridos e precisaram ser levados a hospitais de Ribeirão e Jardinópolis (SP), mas passam bem e já receberam alta.

Um corpo carbonizado também foi encontrado entre a plantação ainda na quinta-feira. Na manhã desta quarta-feira (5), outro corpo foi achado no canavial, próximo ao CPP, pelo funcionário de uma usina de açúcar e etanol, que trabalhava no local.

Segundo a Polícia Civil, o corpo estava queimado. Ele foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) de Ribeirão para identificação e apuração sobre a causa da morte. O laudo deve ser divulgado em 30 dias.

No sábado (1º), outro corpo foi encontrado boiando no Rio Pardo. A suspeita da polícia é de que seja de um dos quatro detentos que tentaram fugir nadando. Testemunhas dizem ter visto os homens pulando na água: três conseguiram atravessar até o outro lado da margem, mas um deles sumiu.

Vistoria
Representates da AARP também realizaram uma vistoria surpresa no CPP, com autorização da Justiça, na tarde de terça-feira (4). O presidente da entidade, o advogado Daniel Rondi, diz que, apesar dos problemas encontrados, há um ambiente de aparente "normalidade".

Rondi relata que o incêndio provocado pelos presos afetou a biblioteca, as salas de aula, de convívio, dos professores e a oficina onde os internos trabalham. O maior prejuízo, porém, foi contabilizado no setor administrativo: a documentação dos detentos foi queimada.

"Visualizamos e fomos informados que a perda documental física seria suprida por virtuais, em virtude da preservação dos arquivos em formato eletrônico, restando somente os documentos dos familiares dos reeducandos, que são arquivados para identificação no momento da visita periódica", diz trecho do laudo produzido pelos advogados.

O aparelho de Raio-X usado na vistoria dos visitantes também foi quebrado pelos rebelados. Ainda segundo o documento da AARP, a estrutura dos galpões ficou comprometida, sem telhado e com rachaduras nas paredes.

"O que eu acho que existe de destruição é irrecuperável. Porque o forro, como são vigas de concreto, aquilo está de uma forma, pelo menos a olho nú, e eu não sou técnico, mas há risco de desmoronar", afirma Rondi.

Rotina
O advogado diz que os presos ainda estão contidos nas alas porque as áreas externas, onde ocorre o banho de sol, ainda não oferecem segurança e precisam ser reformadas. Entretanto, a lavanderia e a cozinha estão funcionando normalmente.

"Conforme informações prestadas pelos próprios reeducandos, foram os mesmos que impediram que os reeducandos rebelados invadissem o setor. Encontravam-se preservados os alimentos, bem como a cozinha se encontrava em pleno funcionamento", diz outro trecho do laudo.

Devido à destruição das classes e das oficinas, as aulas e as atividades profissionais internas estão suspensas. Porém, segundo o advogado, os presos que tem autorização para trabalhar fora da unidade devem retornar às funções nos próximos dias.

"Nós checamos a segurança dos funcionários, mas eles não estão expostos a situações de risco. Eles estão recebendo tratamento psicológico também. O diretor [do presídio] se mostrou muito receptivo e isso para nós foi muito importante", afirma o presidente.

'Sem justificativa'
A SAP foi procurada pelo G1 durante toda a quarta-feira, mas não se pronunciou sobre o número de internos recapturados.

Em nota enviada no dia da rebelião, a Secretaria informou que não havia motivos para o motim, mas suspeitava que as fugas tivessem sido provocadas pelo descontentamento em relação às revistas diárias.

A Secretaria justificou que a maioria dos presos exerce atividade laboterápica. "Dos 1.861 presos, 1.602 trabalham dentro e fora do presídio, e 662 estudam no ensino regular e/ou profissionalizante – parte dos presos estuda e trabalha, inclusive", diz o comunicado.

Ainda de acordo com a SAP, a alimentação é produzida na cozinha do próprio CPP, por presos devidamente treinados. A pasta exemplifica também que, na saída temporária do Dia dos Pais, dos 1.166 presos liberados para visitas, 1.131 retornaram, ou seja, 97% do total.

Reprodução: G1