Em depoimento publicado hoje (10) no jornal Folha de S. Paulo, a empresária paulistana de origem libanesa Aline Saleh, ex-paciente do médium João de Deus, relatou ter sido abusada sexualmente pelo líder em 2013, quando esteve com a avó na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO). O relato da empresária, que não teve receio de mostrar a própria identidade, vem na esteira das recentes denúncias de abuso apresentadas por mulheres na última semana, no programa Conversa com Bial.
Aline conta que foi ao local para tentar desenvolver sua mediunidade e acompanhar a avó, que queria curar as dores de uma contusão no braço direito. "Minha avó foi antes de mim. Falou de seu braço. Ele nem olhou na cara dela. Rabiscou uma receita de passiflora, vendida numa casinha ao lado, e disse que ela ficaria boa. Na minha vez, perguntou o que eu buscava ali. Expliquei que sofria com a minha mediunindade, que me fazia tão bem quanto mal porque não sabia controlá-la. A entidade pediu que eu procurasse o 'médium João' ao final da sessão", relatou.
Segundo a empresária, na ocasião da primeira visita, João de Deus se recusou a fazer atendimentos. À noite, ela relata ter tido um pesadelo. "João de Deus aparecia de preto, do lado da minha cama, e sugava toda a minha energia, com as mãos sob meu rosto. Eu conseguia sentir os fluidos saindo do meu corpo, mas não conseguia me mexer. Acordei com um grito. E caí num choro descontrolado. Minha avó se assustou. Do alto dos meus 24 anos, pedi para dormir na cama dela —coisa que nunca tinha feito", disse.
No dia seguinte, Aline contou ao médium sobre o sonho. Ele disse ser algo normal e começou a dizer que ela era "muito especial". Em seguida, colocou a empresária no púlpito para "comandar a energia do espaço". "Estava com a autoestima baixa e ele havia me colocado lá em cima, criando na minha cabeça essa ideia de que eu era especial e poderia ajudar as pessoas se me desenvolvesse", relatou.
Após a sessão, João de Deus recebeu Aline em sua sala e voltou a exaltar o "dom de cura" da empresária, além de coagi-la a dar um passe em um menino com problemas mentais. Em seguida, sob o pretexto de um "realinhamento energético", cometeu o abuso.
"Pediu que eu virasse de costas, colocasse as mãos nos meus quadris e me mexesse. Disse que era para liberar a energia. Muito esquisito. E, nisso, você se vê acuada e não sabe o que fazer. Sentia meu corpo todo gelado, dos pés à cabeça. Ele falava 'mexe, mexe'. E eu dizia: 'não quero, não consigo'. João falava o tempo todo que estava 'tudo certo', e começou a me encoxar, rebolando. Aí pegou a minha mão e colocou para trás, no pinto [sic] dele, flácido, que estava para fora da calça. Puxei a mão de volta. Ele disse que era 'assim mesmo', que era importante e tal. Tentou, de novo, conduzir minha mão para o seu pênis. Eu reagi. 'O que é isso? Isso não está certo!'. E me virei. Ele saiu pra sala, fechou a calça, se sentou no sofá", descreveu.
O caso deixou a empresária traumatizada e fez com que ela buscasse terapia. Hoje, ela diz não ter vergonha de falar sobre o assunto. "Quem tem de se envergonhar é ele! Falar sobre isso me parece o melhor jeito de libertar mulheres abusadas da culpa e da vergonha, além de evitar que isso ocorra com outras", disse Aline.
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