Polícia Federal investiga se há relação entre os R$ 51 milhões achados em um apartamento ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) e a empresa OAS.
Alguns maços de dinheiro vinculados ao peemedebista estavam guardados em uma bolsa de couro com o logotipo da empreiteira.
Em 2014, a PF achou em um celular apreendido uma série de trocas de mensagens entre Léo Pinheiro, sócio da construtora, e o político.
Nas mensagens, o nome do do deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão de Geddel, é citado como alguém que faria a articulação do recebimento de doação para campanhas do partido na Bahia em 2012.
Os diálogos tratavam, além de doações, de concessões de aeroportos, negócios privados, como um empreendimento em frente ao mar na capital baiana, e liberações de recursos da Caixa, banco no qual Geddel foi vice-presidente de 2011 a 2013, no governo Dilma Rousseff.
Segundo relatório recente da PF sobre o "quadrilhão" do PMDB na Câmara, a legenda recebeu oficialmente R$ 58,1 milhões da OAS nos anos de 2010, 2012 e 2014.
Procurada, a empreiteira não quis se manifestar.
Geddel está preso desde 9 de setembro no presídio da Papuda (DF). Ele cumpria prisão domiciliar desde 12 de julho, mas foi detido de novo após a descoberta do dinheiro.
Em depoimento na segunda prisão, o ex-ministro preferiu ficar em silêncio. Sua defesa diz que não comenta o assunto por não ter tido ainda acesso aos autos.
A polícia também tenta identificar de quem são outros fragmentos de impressões digitais achados em plásticos que embalavam as cédulas e nas malas.
No mesmo dia da apreensão dos R$ 51 milhões, a perícia conseguiu achar digitais do ex-ministro e de um aliado seu –Gustavo Ferraz, que também foi preso. A identificação foi fundamental para a decisão da prisão de ambos.
O terceiro caminho que a PF deve trilhar é o rastreamento de algumas das cédulas encontradas no apartamento. Parte do dinheiro ainda estava embalado em pequenos maços, dando a impressão de não ter sido mexido. Com o número de série das notas, a polícia pode descobrir, via Banco Central, por exemplo, as datas de retiradas.
Apesar de não ter conseguido identificar ainda a origem dos R$ 51 milhões, a PF afirma em relatórios que parte dos valores guardados por Geddel é propina paga pelo operador Lúcio Funaro, também preso na Papuda.
Em delação premiada, homologada recentemente, Funaro revelou pagamentos e documentos que comprovam voos para as entregas de valores ao peemedebista.
POLÍTICA
A situação de Geddel preocupa o Palácio do Planalto. Além de ser ex-ministro de Temer, o baiano sempre fez parte do núcleo mais próximo do presidente, incluindo os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (secretaria de Governo).
A Polícia Federal espera uma decisão do ministro Edson Fachin, relator do caso no STF (Supremo Tribunal Federal), para dar andamento para as investigações.
A descoberta dos R$ 51 milhões ocorreu em meio à Operação Cui Bono, que apura fraudes na Caixa Econômica, em primeira instância.
No dia da apreensão, a PF achou um recibo de uma funcionária de Lúcio Vieira Lima, o que fez o caso subir para o STF, que tem de autorizar uma investigação para pessoas que possuem foro, e ele é deputado.
Como há dois investigados presos, a expectativa é de que Fachin determine um pequeno prazo para que a PF termine as investigações e apresente as conclusões.
Há também a possibilidade de o ministro separar a apuração em duas partes, deixando o deputado fora da Operação Cui Bono, que assim poderia descer de novo para a primeira instância.
A PF até hoje não encontrou nenhuma relação de Lúcio Vieira Lima com fraudes na Caixa.
Procurado, o parlamentar não respondeu e nem atendeu às ligações.
Estadão Conteúdo