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Oito terras indígenas de MT estão entre as mais afetadas pelas queimadas no país em 2019, diz relatório

Os dados são do relatório "Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil

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Oito terras indígenas localizadas em Mato Grosso estão entre as terras mais afetadas pelas queimadas no país, em 2019. Os dados são do relatório "Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil – dados de 2019", publicado anualmente pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), e divulgado nesta semana.

As três primeiras são o Parque do Xingu, com 505 focos, Areões, com 591 e Pimentel Barbosa, com 487. Em seguida estão as terras Parabubure (443), Urubu Branco (416), Paresi (348), São Marcos (304) e Maraiwatsede (267).

No norte de Mato Grosso, na região dos municípios de Brasnorte e Juara, os esforços de combate às queimadas também passaram a fazer parte do cotidiano do povo Myky, em cujo território foram identificados 18 focos de incêndio em 2019.

“Todos os dias os Myky vão para lá (lugares do fogo) controlar, mas não dão conta. Esse foco fica a uns 17 km da aldeia, entre duas fazendas. O fogo vem e vai”, relatou, em setembro do ano passado, a missionária Elizabeth Amarante Rondon, do Cimi Regional Mato Grosso, para o estudo.

Naquele mês, a pedido da Funai, o Ibama enviou brigadistas e o incêndio finalmente foi controlado. Setembro também foi um mês especialmente preocupante para os Apiãwa (Tapirapé) da TI Urubu Branco, em Confresa, a 1.160 quilômetros de Cuiabá, na transição entre os biomas Cerrado e Amazônia.

Com extensão maior que 167 mil hectares, a terra é ocupada pela etnia Tapirapé. Urubu Branco foi a décima mais atingida por queimadas em 2019, com 416 focos de calor identificados pelo satélite.

Como consequência, os alertas de cicatriz de queimadas cobriram cerca de 17% da região, uma área equivalente à que foi desmatada na TI Urubu Branco nos 30 anos anteriores, segundo informações de outro sistema do Inpe, o Prodes, que reúne dados de desmatamento acumulado ano a ano.

“A queimada atingiu praticamente toda a TI. Os Apyãwa dizem que apelaram à Funai, Ibama e outros órgãos, mas não obtiveram sequer um mínimo de resposta efetiva”, relatou Luiz Gouvêa de Paula, do Cimi Regional MatoGrosso. Ele também conta que os indígenas tentaram, por várias vezes, apagar o fogo sozinho.

"Mas sem equipamentos pouco puderam fazer. O pior é que isso vem acontecendo há anos e a mata está morrendo", disse.

A destruição causada pelas queimadas no território Tapirapé esteve diretamente ligada, conforme os indígenas relatam, com outras violações aos seus direitos territoriais, como o constante roubo de madeira e a presença de fazendeiros, cuja retirada do território vem sendo protelada há anos por recursos judiciais.

“Os pecuaristas continuam queimando os pastos e, com isso, queimando a maior parte do território. O fogo vem principalmente das fazendas que estão na região norte da terra e se espalha. Fica difícil a gente controlar”, avalia o cacique-geral.

A situação fez com que os Tapirapé fossem a Brasília, em outubro de 2019, junto a lideranças de outros povos da região do Araguaia, para cobrar do Ibama a fiscalização de suas terras tradicionais e a criação de equipes indígenas do Prevfogo também nestes territórios, com treinamento e condições para combater incêndios.

 

Reprodução: G1 Mato Grosso

da Redação do LD