O bebê Jonathan Galembeck Justino, de apenas três meses, morreu na madrugada desta quarta-feira (5), no Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, após ter sido submetido a duas cirurgias para corrigir um problema no coração. A mãe do recém-nascido, Michelle Salerno Galembeck, de 34 anos, precisou entrar na Justiça para que ele fosse operado com urgência pela rede pública de saúde.
Jonathan não conheceu o mundo fora do ambiente hospitalar. Assim que nasceu, no Hospital Estadual da Vila Alpina, na Zona Leste da capital paulista, foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Um ecocardiograma apontou que ele sofria de uma cardiopatia congênita. O exame foi pedido depois que uma enfermeira percebeu que o bebê apresentava um cansaço anormal na hora da amamentação.
O recém-nascido permaneceu mais de um mês na UTI à espera de uma transferência para ser operado, já que o Hospital da Vila Alpina não conta com infraestrutura para realizar o procedimento. Como, segundo a mãe, o quadro era grave e semanas se passavam sem um posicionamento do governo, ela decidiu procurar a Defensoria Pública para garantir a cirurgia do filho. "Entrei na Justiça porque o estado não havia se movido para operar", justificou.
A Justiça precisou expedir três liminares determinando que Jonathan fosse operado com urgência até que ele fosse transferido para o InCor, em 11 de agosto. A Secretaria Estadual de Saúde alegou que a transferência não ocorreu antes porque o bebê se recuperava de um quadro infeccioso que o impossibilitava de ser transportado para uma unidade de referência no tratamento de cardiopatias.
Jonathan ainda ficou internado no InCor por mais 40 dias, tratando de uma trombose, antes de ser levado à sala de cirurgia.
No dia 23 de setembro, ele foi submetido à primeira das duas operações que precisava fazer. Na semana seguinte, passou pela intervenção complementar e deu início ao processo de recuperação pós-operatória para enfim conhecer sua casa.
Os procedimentos cirúrgicos foram realizados por um médico especialista e considerados um sucesso, conforme contou a madrinha do recém-nascido, Cynthia Andrade. "Agora pós operatório e finalmente vamos levar nosso guerreiro pra casa!", comemorou ela na ocasião.
Foi no pós-operatório, no entanto, que a família foi supreendida. Na madrugada desta quarta, Jonathan entrou em uma parada cardíaca que não pôde ser revertida pelos médicos.
"Foi muita luta. Foram muitas vitórias. 3 meses de aprendizado, mas nosso anjinho foi morar com papai do céu! Ele cumpriu com a linda missão de ensinar a todos o poder da fé, ter amor, ter paciência. Meu príncipe fez uma linda passagem, tenho certeza! É um anjo que olhará por nós. A todos que sempre nos deram força: muito obrigada", postou a madrinha no Facebook.
Liminares
No dia 14 de julho, com Jonathan ainda internado na Vila Alpina, a mãe, Michelle, ganhou na Justiça a primeira liminar que garantia ao filho, em até 24 horas, "todos os tratamentos de saúde necessários à manutenção de sua saúde, inclusive mediante correção cirúrgica se, a critério da equipe médica responsável, for necessária", conforme decisão da juíza Mônica Ribeiro de Souza.
Segundo a mãe, nem mesmo a decisão judicial, que estipulava uma multa diária para cada dia de atraso no cumprimento da determinação, acelerou a transferência do recém-nascido.
A Secretaria de Saúde disse à época que "apenas a disponibilidade de vagas não é suficiente para realizar a transferência de um paciente com o quadro semelhante do caso citado. É necessário que o paciente apresente condições clínicas de ser transferido, com quadro estável e livre de infecções, requisitos necessários para garantir a segurança do paciente".
De acordo com Michelle, a médica que atendia o bebê garantia que ele tinha condições clínicas de ser transferido. Ou seja, a transferência só não teria ocorrido antes por falta de vaga.
A mãe ainda obteve outras duas decisões obrigando a Secretaria de Saúde a transferir e operar o bebê, mas elas tampouco foram cumpridas imediatamente. Na última, expedida no dia 5 de agosto, a Justiça intimou o chefe de gabinete da pasta, Nílson Ferraz Paschoa, e o secretário de Saúde, David Everson Uip, por descumprirem a ordem judicial. Segundo Michelle, a intimação foi recebida e assinada por alguém na sede da secretaria, mas novamente nada aconteceu.
"É um descaso total. Falta de atendimento, de resposta… Estou me sentido lesada e humilhada. Tive que me ajoelhar na frente da juíza, no Fórum, para pedir pelo amor de Deus que ela me ajudasse. A que ponto chegamos pra salvar a vida de um ser humano. É o mínimo que o estado poderia fazer", lembrou a mãe.
Reprodução: G1