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Ministro da Justiça é citado na Operação Carne Fraca

Serraglio teve conversa gravada com um dos líderes de esquema que beneficiava frigoríficos.

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O ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), apareceu nesta sexta-feira (17) em conversa gravada pela Polícia Federal durante as investigações da Operação Carne Fraca, que apura um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos, com 309 mandados em 6 estados e no Distrito Federal. Em uma ligação grampeada, Serraglio chama de “grande chefe” um dos líderes do suposto esquema, o ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) Daniel Gonçalves Filho. Delegados da Polícia Federal não acreditam que ele tenha cometido algum crime no caso, mas as informações serão repassadas à Procuradoria-Geral da República.

Veja a transcrição da conversa:

– Osmar Serraglio: grande chefe, tudo bom?
– Daniel: tudo bom
– Osmar: viu, tá tendo um problema lá em Iporã, cê tá sabendo?
– Daniel: não
– Osmar: o cara lá, que… o cara que tá fiscalizando lá… apavorou o Paulo lá, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico… botô a boca… deixou o Paulo apavorado! Mas pra fechar tem o rito, num tem? Sei lá. Como que funciona um negócio desse?

– Daniel: deixa eu ver o que acontecendo… tomar pé da situação lá tá… falo com o Senhor (…)

'Chefe'
Em evento no Rio Grande do Sul, Serraglio comentou o conteúdo da conversa gravada.

"Esse frigorífico fica a uns 50 km da minha cidade. É o frigorífico que um dia recebeu, eu tô sabendo pelo que eu olhei na imprensa, porque telefonema a gente dá e muito. Eu recebi um comunicado dizendo que iriam fechar o frigorífico", afirmou o ministro.

"Aí eu liguei pra quem, a expressão que a imprensa tá explorando de alguma maneira porque eu chamei de chefe, ele é o chefe, aquele cidadão com quem eu falei é o superintendente do Paraná da Agricultura."

"Eu liguei pra ele pra saber o que está acontecendo em relação ao frigorífico. Aí ele pediu tempo, ele foi se informar com os servidores, aí me respondeu dizendo que, olha, não se preocupe que não tem nada", completou.

Foro privilegiado
De acordo com o delegado federal Maurício Moscardi Grillo, a ligação do ministro para Daniel foi tratada de maneira isolada porque ele era deputado federal na época, ou seja, tinha foro privilegiado.

"Sentimos que não havia crime por parte do tal ministro", disse Moscardi Grillo."Porém, por cautela, foi necessário fazer esse informe para não sermos questionados."

O delegado ainda complementou que o conteúdo referente ao ministro Serraglio será encaminhado à Procuradoria-Geral da República.

"É um telefone, como se eu desse um telefonema pra alguém, que amanhã essa pessoa merece uma investigação, e que da minha parte não houve nenhum comprometimento", afirmou Serraglio, que confirmou conhecer Daniel Gonçalves e o dono do frigorífico Larissa.

Frigorífico Larissa
O Paulo a quem Serraglio se refere no diálogo é o empresário Paulo Rogério Sposito – um dos alvos de prisão preventiva, por tempo indeterminado. Em 2010, ele foi candidato a deputado federal pelo estado de São Paulo, com o nome Paulinho Larissa, conforme consta no despacho da Justiça Federal que autoriza os mandados judiciais.

De acordo com a decisão, depois de encerrada a ligação, Daniel ligou para Maria do Rocio e contou que o fiscal de Iporã, município no noroeste do Paraná, queria fechar o frigorífico Larrisa, que pertence a Sposito. Daniel pediu a Maria do Rocio que averiguasse o que estava acontecendo e que o mantivesse informado.

Maria do Rocio, segundo o despacho, obedeceu a ordem e relatou que não tinha nada errado no local. A informação também foi repassada a Osmar Serraglio.

Em uma conversa com uma pessoa não identificada, Sposito foi aconselhado a falar com Maria do Rocio para trocar de fiscal, pois aquele estaria “enchendo o saco”.

A substituição seria feita por Tadeu, “porque ele seria fácil de enrolar e dinheirista”, segundo a decisão assinada pelo juiz Marcos Josegrei, de Curitiba.

Em outro áudio gravado, Paulo Rogério Sposito orienta um funcionário de seu frigorífico a trocar as etiquetas das datas de validade dos produtos.

Carne vencida
Gravações telefônicas obtidas pela Polícia Federal apontam que vários frigoríficos do país vendiam carne vencida tanto no mercado interno, quanto para exportação.

Entre produtos químicos e produtos fora da validade, há casos ainda mais "curiosos", como a inserção de papelão em lotes de frango e carne de cabeça de porco em linguiça, além de troca de etiquetas de validade.

Diretores e donos das empresas estariam envolvidos diretamente nas fraudes, que contavam com a ajuda de servidores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no Paraná, Goiás e Minas Gerais.

O delegado da Polícia Federal (PF) Maurício Moscardi Grillo afirmou que os partidos PP e PMDB eram beneficiados com propina envolvendo o esquema ilegal de vendas de carnes.

Maior operação da PF
Aproximadamente 1,1 mil policiais federais cumprem nesta sexta-feira 27 mandados de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em residências, locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso.

A operação envolve grandes empresas do setor, como a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e também a JBS, que detém Friboi, Seara, Swift, entre outras marcas, mas também frigoríficos menores, como Mastercarnes, Souza Ramos e Peccin, do Paraná, e Larissa, que tem unidades no Paraná e em São Paulo.

Em contato com o G1, a JBS afirmou que não tem informação de que algum executivo seu foi preso e informou que não há operação da PF na empresa.

A BRF informa que está colaborando com as autoridades para o esclarecimento dos fatos. A companhia reitera que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas.

A BRF também assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua.

A reportagem tenta contato com os demais citados pela Polícia Federal.

As ordens judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba e estão sendo cumpridas em São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás.

O nome da operação faz alusão à conhecida expressão popular em sintonia com a própria qualidade dos alimentos fornecidos ao consumidor por grandes grupos corporativos do ramo alimentício.

Conforme a PF, a expressão popular demonstra uma fragilidade moral de agentes públicos federais que deveriam zelar e fiscalizar a qualidade dos alimentos fornecidos a sociedade.

Reprodução: G1 PR