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Megaoperação da Polícia Civil encontra cemitério clandestino do tráfico

Um agente foi ferido na ação

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Megaoperação da Polícia Civil encontra cemitério clandestino do ...

Uma megaoperação da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI) localizou, na manhã desta quarta-feira, um cemitério clandestino usado pela maior facção criminosa do Estado do Rio e que estaria localizado em Itaoca, em São Gonçalo, na Região Metropolitana. De acordo com as investigações, existem pelo menos 42 covas no local, que seria utilizado para enterrar inimigos e moradores que se opõem a traficantes da região e de todo o Complexo do Salgueiro. Um agente foi ferido na ação.

A ordem para a criação do cemitério clandestino teria partido do traficante Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó, chefe do tráfico de drogas do Complexo do Salgueiro, que está foragido da Justiça. O local usado pelos criminosos funciona no antigo Aterro Sanitário de Itaoca, conhecido como “Lixão de Itaoca”. O espaço foi desativado oficialmente em 2012.

Utilizando técnicas da milícia – que mata e oculta os cadáveres das vítimas – traficantes da região decidiram que não deixariam rastros de seus homicídios. A Polícia Civil descobriu a prática criminosa há pouco mais de um mês, durante um desdobramento da investigação de um homicídio pela DHNSGI. A operação também conta com um informante, que está apontando a localização dos corpos enterrados.

Os policiais da Core foram recebidos a tiros no Complexo do Salgueiro. Por volta de 6h30, um dos agentes foi atingido de raspão na cabeça, socorrido por colegas e levado para o Hospital estadual Alberto Torres, no Colubandê. O policial já recebeu alta.

Cerca de 200 policiais – entre eles agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), a tropa de elite da Polícia Civil – com a ajuda de cães farejadores e de militares do Corpo de Bombeiros participam da operação desta quarta-feira. Por ser uma região tomada por criminosos, a Polícia Civil utiliza três blindados. Uma retroescavadeira também está sendo usada. Foi preciso pedir o apoio do helicóptero blindado da corporação para os policiais que estavam em terra escavando o cemitério.

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Os policiais investigavam a queda do número de homicídios nos últimos anos em Itaoca, causada pela subnotificação desses crimes. Muitos casos estavam entrando nos registros da Polícia Civil como desaparecimentos. Segundo a Polícia, traficante Rabicó, mesmo quando estava preso numa penitenciária federal, mandava que seus subordinados desaparecessem com os corpos das vítimas, o que vem ocorrendo há pelo menos três anos. Dados da especializada apontam que desde 2017 foram registrados sete homicídios: quatro em 2017 e três em 2019. Nesses dados não são contabilizadas as mortes em decorrência de intervenção policial.

Segundo a Polícia Civil, a ordem dos assassinatos e o sumiço dos corpos vinham de Ricardo Severo, o Faustão; Rayane Nazareth Cardozo da Silveira, a Hello Kitty; Alessandro Luiz Vieira Moura, o Vinte Anos; e John Lennon Correa, o John John ou Skeik. Todos esses criminosos têm mandados de prisão em aberto e estão foragidos da Justiça.

Por medo de outros parentes serem assassinados, de acordo com a DH, as famílias das pessoas mortas nunca registram os crimes.

Na região, os investigadores também encontraram um cemitério de carros abandonados.

Policiais da Core também encontraram local de desmanche de carros durante a operação Foto: TV Globo / Reprodução

Rabicó está foragido

Rabicó teve a prisão preventiva decretada em janeiro de 2015 por um juiz criminal. Em agosto de 2016, Marco Aurélio mandou libertá-lo, mas depois voltou a ser preso. Em abril de 2019, a a Sétima Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), que compõe a segunda instância, confirmou a condenação já imposta na primeira instância, embora tenha reduzido a punição. Determinou também que a execução da pena deveria ocorrer depois do trânsito em julgado, ou seja, quando não fosse mais possível apresentar recurso. Mas não se pronunciou sobre a manutenção da prisão preventiva, decretada na primeira instância em razão do risco de voltar a cometer crimes e de integrar uma facção criminosa, e para garantir a ordem pública.

Antes de ir ao STF, a defesa recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas sem sucesso. No STF, conseguiu a liberdade graças a uma decisão liminar de Marco Aurélio, que a levou agora para análise da Primeira Turma. Mas os outros quatro ministros — Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux — entenderam que a prisão de Rabicó é necessária para a garantia da segurança pública.

Antes de ser solto, ele estava na penitenciária federal de Campo Grande (MS). O traficante possui condenação em três processos criminais por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Em nenhuma delas, no entanto, a sentença é considerada definitiva. A defesa de Rabicó ainda está recorrendo na Justiça para tentar diminuir as penas ou absolver o traficante.

Em dois dos processos respondidos por Rabicó, a Justiça já havia autorizado que o chefe do tráfico no Salgueiro esperasse o julgamento dos recursos em liberdade. Ele ainda era mantido preso em um último processo, em andamento na 40ª Vara Criminal do Rio, e no qual o criminoso foi condenado a 10 anos de prisão. Foi nessa ação que o ministro Marco Aurélio deu decisão favorável a Rabicó.

O ministro argumentou que era grande a possibilidade de o STF mudar seu entendimento sobre a execução provisória da pena, como acabou ocorrendo no dia 7 de novembro. Nessa data, a Corte determinou que a prisão só pode ocorrer após o trânsito em julgado, e não mais após decisão em segunda instância.

Rabicó ainda responde em liberdade a outros dois processos nos quais ainda não foi condenado. Ele também foi absolvido em outras ações. Ao ser preso, em 2008, o traficante era considerado foragido por ter descumprido as regras da liberdade condicional que havia conseguido no ano anterior.

A liberdade do criminoso colocou em alerta as autoridades de Segurança Pública do Rio. Em abril de 2019, traficantes entraram em guerra em São Gonçalo após Thomar Jayson Vieira Gomes, o 3N, que comandava o tráfico no Complexo do Salgueiro para Rabicó ter desafiado o chefe. Rabicó determinou que outro comparsa, Antonácio do Rosário, O Schumaker, de 35 anos, executasse 3N para tomar o controle do Salgueiro.

Ao saber dos planos do chefe, 3N se antecipou, matou Schumaker e passou a fazerparte de outra facção criminosa. O receio era de que, em liberdade, Rabicó quisesse se vingar do antigo comparsa. Na nova quadrilha, 3N vem tentando, com frequência, dominar o Salgueiro.

Reprodução: Extra

da Redação do LD