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Mãe de morto em ação do Bope diz que filho era inocente e acusa policiais de sumirem com documentos

A família de um dos mortos na ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) no Morro da Coroa, em Santa Teresa, na região central do Rio.

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A família de um dos mortos na ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) no Morro da Coroa, em Santa Teresa, na região central do Rio, acusa policiais de execução e de terem dado sumiço nos documentos deles. De acordo com os parentes, Rafael Camilo Neris, de 24 anos, estava na comunidade para entregar uma pizza quando foi alvo de um disparo na cabeça. O rapaz morava perto do local do confronto.

– Vieram me procurar porque viram o meu filho rendido e gritando: “Sou morador”. E o policial respondendo: “Aqui só tem bandido”. Logo depois atirou. Foi um tiro só, na cabeça do meu filho. E aí sumiram com os documentos dele. E ele nunca saía sem os documentos. Com certeza, levaram tudo para dizer que meu filho era bandido. Só que não era. Era um rapaz trabalhador – contou a pensionista Lúcia Helena Camilo, de 47 anos.

A última vez que ela falou com o filho foi no Hospital do Corpo de Bombeiros, na manhã de domingo. Lúcia estava internada para fazer uma cirurgia por causa de uma artrite e o rapaz foi visitá-la. Rafael chegou a dizer que não trabalharia à noite porque estava com dor de cabeça. Mas se lembrou das dívidas – ele pagava R$ 1,3 mil de prestação do carro, além do aluguel – e desistiu de ficar em casa.

– De quarta a domingo, ele trabalhava à noite fazendo entregas para a pizzaria. Além desse serviço, trabalhava como entregador para uma empresa – contou Lúcia.

Por causa da morte do filho, a operação que Lúcia faria foi cancelada. Tia de Rafael, a autônoma Fátima Correia, de 59 anos, foi outra que se queixou da postura dos policiais:

– Você não pode morar no morro que vira bandido. O que fizeram foi uma coisa absurda. Meu sobrinho nunca se envolveu com coisas erradas. Ele estava lá para fazer uma entrega.

Rafael era casado há seis meses e não tinha filhos. O sogro dele, que pediu para não ter o nome divulgado, chorou ao lembrar o momento em que foi avisado da morte.

– Minha filha me ligou, desesperada. Eu fui lá no hospital (municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, para onde o rapaz foi levado pelo Bope). No começo, não queriam deixar que a gente se aproximasse. Mas depois conseguimos. Eu, na verdade, não consegui reconhecer meu genro. Ele era tão cheio de vida e estava lá, frio, sem vida. Lembro e parece que foi um pesadelo – contou.

'O Bope acabou com a minha vida' Viúva de Rafael, Rosana Rodrigues de Macedo, de 21 anos, contou que ela e o marido tinham planos de fazem uma viagem – os dois nunca andaram de avião – e também de ter filhos.

– Os policiais acabaram com esses planos. O Bope acabou com a minha vida. Meu marido era ótimo. A gente sonhava tantas coisas que não vai poder mais realizar… Agora eu vou em busca de justiça. Isso que aconteceu não pode ficar em vão – disse ela, emocionada. Os dois estavam casados há seis meses apenas. Segundo a jovem, Rafael tinha temor de fazer entregas em regiões violentas:

 – Mas o que ele poderia fazer? Tinha que pagar as contas, né?

Nota da PM

Em nota, a assessoria de imprensa informou que “na noite de domingo (28.06), policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), durante patrulhamento na comunidade da Coroa, se depararam com um grupo de bandidos armados. Houve confronto. Na ação, três pessoas ficaram feridas e foram socorridas para o Hospital Souza Aguiar, no Centro. Dois morreram e outro foi preso e encontra-se sob custódia. Com eles foram apreendidas duas pistolas, cinco granadas, cinco carregadores e munição. A ocorrência foi encaminhada para a 5ª DP (Mem de Sá). Estamos checando a informação sobre mais uma vítima”.

Equipes do Bope estão na região das comunidades Coroa, Fallet e Fogueteiro, todas vizinhas, desde a última sexta-feira, quando policiais de uma base avançada foram rendidos por bandidos. 

Foto: Reprodução/Facebook