A professora Lia Nunes Fleury, mãe da estudante Lara Fleury Borges, 14, baleada por um colega dentro do Colégio Goyases, divulgou uma carta na manhã desta terça-feira (24) para falar sobre a recuperação da filha. A garota está internada no Hospital dos Acidentados, em Goiânia, e saiu na sacada para avisar que está "bem". Na mensagem, a mulher celebra o "renascimento" da filha após o ataque e pede que "Deus ilumine o coração" do adolescente que efetuou os disparos, ferindo outros três estudantes e matando dois.
Na carta, Lia diz que "só tem a agradecer" por ter a possibilidade de estar com sua filha novamente e lamenta que os pais dos outros alunos feridos não tenham a mesma "sorte". Ela também diz sentir pelas crianças que tiveram a vida marcada por uma "cena de horror".
"Sou mãe da Lara, jovem que nasceu há 14 anos e renasceu há 5 dias", diz o texto.
Na área de educação há 22 anos, Lia diz que sempre "abominou qualquer forma de discriminação" e revela que também foi vítima de bullying, assim como alegou o atirador ao ser apreendido. Por isso, afirma, "sempre combati esse mal".
Por fim, Lia pede proteção de Deus ao adolescente que "dilacerou tantas famílias".
"Que lhe conceda o arrependimento verdadeiro para que ele seja capa de dimensionar o 'estrago' que sua insensatez causou na vida da 'família Goyases'", conclui.
Minutos após Lia ler a carta na entrada do hospital, a própria Lara saiu na sacada do quarto onde está internada. Ao lado dos pais, ela acenou e disse: "Estou bem, podem ficar tranquilos".
Outros feridos
Lara é a única das feridas que está no Hospital dos Acidentados. Outras duas colegas estão no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Tanto Marcela Rocha Macedo, que completa 14 anos nesta terça-feira, quanto Isadora de Morais, também de 14, têm quadro clínico considerado regular.
O único ferido que já teve alta foi Hyago Marques, de 13 anos, no domingo (22). Já em casa, ele afirmou que perdoa o colega autor dos disparos, mas que "nada justifica a reação dele".
No ataque, morreram os estudantes João Pedro Calembro e João Vitor Gomes, ambos de 13 anos. O pai de João Pedro disse que perdoa o atirador.
Tiros
O crime aconteceu no fim da manhã de sexta-feira (20) em uma sala de aula do 8º ano do Colégio Goyases, no Conjunto Riviera, em Goiânia. Os tiros foram disparados no intervalo entre duas aulas.
Segundo o delegado Luiz Gonzaga Júnior, responsável pelo caso, o autor dos tiros disse que sofria bullying de um colega e, inspirado em massacres como o de Columbine, nos Estados Unidos, e de Realengo, no Rio de Janeiro, decidiu cometer o crime. Filho de policiais militares, ele pegou a pistola .40 da mãe e a levou para a unidade educacional dentro da mochila.
O pai do adolescente prestou depoimento à polícia e negou que soubesse que o filho sofria bullying. Ele disse, ainda, que nunca ensinou o filho a atirar e que ele pegou a arma descarregada sobre o guarda-roupas e a munição em uma gaveta trancada após procurar e achar as chaves.
O aluno, que estava apreendido na Delegacia Estadual de Apuração de Atos Infracionais (Depai), foi transferido para um centro de internação onde irá cumprir a decisão de internação provisória expedida pela Justiça.
Reprodução/G1 (AO)