Há um coquetel no Brasil que mistura crise política, aproximação da eleição presidencial e uma surpresa, que é a condenação em segunda instância de um ex-presidente da República, que lidera as pesquisas de intenção de voto. A avaliação foi feita nesta terça-feira, 3 pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, em Lisboa, onde participa do "VI Fórum Jurídico de Lisboa – Reforma do Estado Social no Contexto da Globalização", organizado pelo seu Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O STF retoma na quarta-feira, 4, a decisão sobre o pedido de habeas corpus (HC) do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, por isso, Gilmar Mendes volta nesta terça ao Brasil. Na quinta-feira, 5, pretende retornar a Portugal para o encerramento do seminário.
"Nós temos um coquetel neste momento: toda a crise política, muito adensada, misturada com as eleições. É um quadro grave que contribui para esta divisão (de opiniões no País)", declarou. "O importante é que nós façamos o nosso job, façamos o nosso trabalho. E passemos por mais essa fase de crise", continuou.
Além disso, conforme o ministro, houve o "elemento-surpresa" que é a condenação em segundo grau de um candidato a presidente, mas que lidera as pesquisas. "Isto é um componente mais grave para este coquetel. Tudo isso contribui para essa tensão", avaliou.
Questionado por um jornalista português sobre se o julgamento desta quarta mancha a imagem do Brasil no exterior, Gilmar Mendes avaliou que, de que um lado, pode ser negativo. "Sem dúvida nenhuma, há prejuízos para o Brasil pelo menos no curto prazo. A médio e a longo prazo, eu acho que isso é positivo, porque há um quadro de corrupção que está sendo combatido", disse, acrescentando que esta é a avaliação que tem ouvido de colegas portugueses e espanhóis.
O Brasil, segundo ele, está fazendo o seu dever de casa e está cumprindo seus compromissos internacionais de combater a corrupção. "Mas, é claro, ter um ex-presidente da República, um asset como o Lula, condenado, é muito negativo para o Brasil", avaliou.
Estadão Conteúdo // AO