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Grupo de extermínio formado por PMs agia a mando de fazendeiros, diz PF

Polícia Federal afirma que eles podem ter feito pelo menos cem vítimas.

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Os policiais militares alvo da operação da Polícia Federal desta sexta-feira (11) que investiga a articulação de um grupo de extermínio em Goiás agiam a mando de fazendeiros e empresários do norte da região, informou a PF. Segundo a corporação, eles eram contratados e pagos de diversas formas: incluindo pagamento de pelo menos R$ 30 milhões, troca de favores e financiamento de campanha política. Os envolvidos são suspeitos de terem feito pelo menos cem vítimas.

Até as 13h desta sexta, dois dos três alvos de prisão temporária (por cinco dias) tinham sido presos. A Justiça Federal também expediu 17 mandados de condução coercitiva – quando a pessoa é obrigada a depor. Entre os alvos está o tenente-coronel Ricardo Rocha, que foi nomeado comandante do Comando de Policiamento da Capital da PM goiana no início do ano.

Em nota, a assessoria de comunicação da PM de Goiás informou que "até o momento não possui informações sobre o procedimento legal que deu origem à medida coercitiva executada".

Em entrevista coletiva, no fim de desta manhã, o vice-governador e secretário de Segurança Pública e Administração Penitenciária de Goiás, José Eliton (PSDB), negou qualquer irregularidade na atuação dos policiais militares e destacou que confia no trabalho de Ricardo Rocha.

"Afirmo categoricamente: no estado de Goiás não há grupos de extermínio. A PM de Goiás atua com toda a lisura. Essa operação foi um espetáculo midiático. Reafirmo a minha solidariedade ao tenente-coronel Ricardo Rocha, que permanece como comandante do Policiamento da Capital", disse Eliton.

A primeira fase da operação foi deflagrada em 2011, com a prisão de 19 PMs depois de um ano de investigação. Esta nova etapa apura especificamente a morte de um rapaz e o desaparecimento de dois primos dele que tomavam banho em uma rio em Alvorada do Norte (GO). Segundo a PF, os três foram mortos pelo grupo.

Esse tipo de investigados são tanto temidos quanto respeitados. Quando se fala de grupo de extermínio, a ideia que se tem à mente é de profilaxia [limpeza] social. Mas o que se tem são pessoas que matam qualquer um. Bandido tem que ser preso, não tem que ser morto"
Kel Lúcio Nascimento, delegado

De acordo com o delegado Milton Rodrigues Neves, o trio era suspeito de furtar gado da fazenda de um grande empresário da região. “Os corpos dos dois que sumiram não foram encontrados, mas temos provas que apontam que eles foram assassinados: depoimentos, dados, comprovantes do aluguel dos carros, por exemplo”, disse o investigador.

A corporação afirma que Ricardo Rocha tem participação direta na morte dos rapazes e que a campanha dele para se eleger deputado estadual na Assembleia Legislativa de Goiás foi financiada por um “cliente”. Ele foi indiciado por homicídio e ocultação de cadáver. A PF não detalhou por que motivos ele foi indiciado porque o inquérito segue em sigilo.

“Esse tipo de investigados são tanto temidos quanto respeitados. Quando se fala de grupo de extermínio, a ideia que se tem à mente é de profilaxia [limpeza] social. Mas o que se tem são pessoas que matam qualquer um. Bandido tem que ser preso, não tem que ser morto”, disse o delegado Kel Lúcio Nascimento, que também está à frente das investigações. "Quando se fala em grupo de extermínio, se fala em execução primaria, quando a pessoa nao teve chance de se defender."

Pessoas que não teriam participação em crimes também foram mortos pela milícia, diz a PF. “No começo, matam pessoas suspeitas de praticar crimes, mas depois começam a matar diversas pessoas que não têm qualquer envolvimento. Matam pelos mais diversos motivos”, continuou Nascimento. “Nesta operação, há policiais ligados a tráfico de drogas, oferecendo drogas, arma e munição a pessoas. Muitas vezes eram contratados para matar outros por desavença.”

Do grupo alvo da operação desta sexta, dois presos e oito conduzidos são policiais militares na ativa. Um dos conduzidos é policial militar reformado (aposentado), informou a Polícia Federal.

Nomeado comandante do Comando de Policiamento da Capital da corporação goiana no início do ano, o tenente-coronel Ricardo Rocha será conduzido coercitivamente de Goiânia (GO) a Brasília, para prestar depoimento. Ele já havia sido preso por quatro meses na primeira fase da operação, em 2011. Em 2014, foi a júri popular pela morte de Marcelo Coka da Silva, ocorrida dez anos antes, e foi absolvido.

Ao todo, 140 policiais estão envolvidos na operação, que ocorre nas cidades de Goiânia (GO), Alvorada do Norte (GO) e Formosa (GO). O nome da operação é uma referência ao sexto mandamento da Bíblia: “Não matarás”.

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Segundo as investigações, o grupo tinha como principal atividade a prática habitual de homicídios com a simulação de que os crimes haviam sido praticados em confrontos com as vítimas. Alguns dos crimes foram praticados durante o horário de serviço e com uso de carros da PM, de maneira clandestina e sem qualquer motivação, de acordo com a PF.

Comandante Ricardo Rocha
Em 26 de fevereiro deste ano, Ricardo Rocha assumiu o Comando de Policiamento da Capital (CPC). Em março, uma ação conjunta da do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) recomendou que o tenente-coronel fosse destituído do cargo, pois responde por crimes e que o cargo deve ser ocupado por "militar que não exponha o Estado de Goiás a eventual novo pedido de federalização [julgamento de crimes]".

Na época, o vice-governador e secretário de Segurança Pública e Administração Penitenciária, José Eliton (PSDB), afirmou ter "integral confiança no tenente-coronel Ricardo Rocha para exercer o Comando da Capital”.

Reprodução/G1