A presidente Dilma Rousseff disse, durante discurso de posse de novos ministros realizado nesta quinta-feira, que seu governo continuará a defender investigações fortes e o combate à corrupção, mas sem "execração pública" de qualquer pessoa:
— Continuaremos defendendo que a presunção da inocência vale para todos e não pode ser substituída pelo pressuposto da culpa, nem dar lugar à execração pública ou vazamentos ilegais e seletivos — disse Dilma, acrescentando: — O combate à corrupção continua sendo uma prioridade do meu governo, nenhum governo realizou um enfrentamento tão duro à corrupção como o meu, e continuará sendo assim. Afinal, não estamos investigando a corrupção porque ela começou agora em meu governo, ela está sendo investigada livremente e sem pressões, porque não impusemos barreiras nem engavetamos investigações.
A presidente Dilma deu posse a Wellington César Lima, que assume o Ministério da Justiça; José Eduardo Cardozo, que deixa a Justiça e vai para a Advocacia Geral da União (AGU), e Luiz Navarro de Brito, que assume a Controladoria Geral da União (CGU). Dilma ressaltou que a escolha para os cargos foi técnica e que os quadros vêm do meio jurídico
Cardozo, que estava há cinco anos à frente da pasta, desde janeiro de 2011, era alvo de críticas do PT e do ex-presidente Lula por não conseguir controlar a Polícia Federal. O descontentamento com a permanência do ministro na Justiça aumentou quando a Operação Lava-Jato chegou perto de Lula. Dilma cedeu aos apelos do ex-presidente e resolveu trocar o ministro, um dos mais próximos da petista. O novo ministro da Justiça, o ex-procurador da Bahia Wellington Lima, foi escolhido pelo ministro Jaques Wagner (Cassa Civil), muito ligado a Lula.
A reunião do Diretório Nacional do PT, no último fim de semana no Rio, teria contribuído para a saída de Cardozo. Na reunião, o então ministro da Justiça foi muito criticado, o que aumentou o seu desejo de deixar a pasta.
As investigações em torno ao ex-presidente Lula, que envolvem o apartamento tríplex no Guarujá e o sítio em Atibaia, reascenderam fortemente no PT a animosidade contra o ministro da Justiça.
Na semana passada, um grupo de deputados petistas, entre eles o líder na Câmara, Afonso Florence (PT-BA), Wadih Damous (PT-RJ) e Moema Gramacho (PT-BA), estiveram no Ministério da Justiça e cobraram duramente de Cardozo providências sobre os vazamentos das investigações sobre Lula e sobre a forma como a Polícia Federal está conduzindo os trabalhos. Os deputados alegaram que Lula havia se tornado "alvo preferencial" e que havia "descontrole" na condução das investigações. Os deputados subiram o tom com o ministro e um deles chegou a dizer que, caso Cardozo não tomasse providências, "Lula vai acabar sendo preso".
Segundo relatos, o então ministro respondeu ser “praticamente impossível” identificar e impedir os vazamentos de informações e disse que o controle aos trabalhos da PF só é possível em casos de violações. Na visita, ficou reforçada a ideia de que a presença de Cardozo no aniversário do PT não seria conveniente e que sua permanência no cargo não agrada o partido.
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