O grande calcanhar de Aquiles dos alunos que prestam o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) são as disciplinas de Física e Química, aponta um levantamento realizado pelo AppProva, plataforma que auxilia aluno e escolas a se prepararem para a avaliação.
Ao lado de Matemática, são essas as disciplinas que apresentaram as menores taxas de acerto no exame entre 2009 e 2014: 26% para Física e Química e 29% para Matemática. Por sua vez, as três disciplinas nas quais os alunos obtiveram os melhores desempenhos entre 2009 a 2014 foram Língua Portuguesa (44%), História (38%) e Biologia (36%).
Realizada com base nos microdados do Enem divulgados pelo Inep, a pesquisa listou também as principais taxas de erro e acerto por grande área, habilidade e questão.
A grande área com melhor desempenho foi Linguagens, códigos e suas tecnologias, que apresentou uma taxa de acerto em torno de 43%, seguida de Ciências Humanas (38%), Ciências da Natureza (30%) e Matemática e suas tecnologias (29%).
Quando o escopo é o menor número de acerto por conteúdo, o estudo apontou que, na área de Matemática, os temas com menor taxa de acerto foram: escalas (18,70%), função do 2º grau (19,40%) e sistema de equações (20,70%). Em Linguagens, os maiores desafios dos estudantes estão em distinguir características gerais dos gêneros textuais (32,30%), morfologia (32,60%) e interpretação de textos literários em prosa (33,10%).
Na área de Ciências da Natureza, dinâmica (Física), equilíbrio químico e estequiometria, ambos de Química, aparecem como as as maiores dificuldades. Já em Ciências Humanas, Filosofia francesa contemporânea (Filosofia), Primeira República e Sociedade Colonial no Brasil, ambos de História, são os conteúdos mais desafiantes para os alunos.
Para Adilson J. A. de Oliveira, vice-reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e professor do Departamento de Física, o baixo desempenho dos alunos nas ciências exatas evidencia o problema no ensino dessas disciplinas. “Embora tenham havido muitos esforços nos últimos anos na tentativa de melhorar o ensino dessas disciplinas o problema é muito complexo e tem diferentes matizes”, diz.
Entre elas, o professor destaca a falta de contextualização dos conteúdos dessas disciplinas associadas a situações do cotidiano e a necessidade de uma maior integração entre os conteúdos. “Por exemplo, os professores de Física e Química costumam reclamar que os alunos têm pouca habilidade em Matemática e, como consequência, apresentam dificuldades para aprender os conteúdos de suas disciplinas”.
Além disso, a grande maioria das escolas brasileiras não tem laboratórios de ensino adequado e há o déficit de professores especialistas nessas áreas atuando na Educação Básica. “No caso específico de Física, poucos professores são formados anualmente e a maioria deles acaba procurando pós-graduação em Física ou indo trabalhar em outras áreas. Infelizmente, o salário não é atrativo para nenhuma das áreas do magistério e, muitas vezes, quem acaba dando aula dessas disciplinas ou são professores ainda em formação ou profissionais de outras áreas que fazem disso um ‘quebra galho’”, conta Oliveira.
Para completar, diz o professor, as questões do Enem são elaboradas em perspectivas interdisciplinares, contudo, nas escolas ainda prevalece a carência de articulação entre os professores de diferentes disciplinas para desenvolver determinados temas.
Reprodução: Carta Capital