A Aeronáutica Civil da Colômbia apresentou na manhã desta sexta-feira as conclusões do relatório final sobre o desastre com o avião da LaMia que caiu no dia 28 de novembro de 2016 (dia 29, pelo horário de Brasília) levando a delegação da Chapecoense e deixando 71 mortos. A investigação confirma que o combustível do avião era insuficiente para o voo entre Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e Medellín, na Colômbia, e que a empresa aérea não se preparou adequadamente para o voo internacional.
A pane, de acordo com as investigações, começou 40 minutos antes de o avião cair. Os pilotos sabiam disso. O contrato do voo previa escala entre São Paulo e o aeroporto de Medellín, mas a empresa planejou viagem direto, o que não foi permitido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Então, a delegação do time catarinense pegou um voo de São Paulo até Santa Cruz de la Sierra e, da cidade boliviana, embarcou no voo da LaMia em direção a Medellín. As normas internacionais de aviação exigem que um voo deve ter combustível acima do necessário para fazer o trajeto programado, com sobra para alcançar um aeroporto mais próximo e ter ainda condições de manter o voo por ao menos 30 minutos.
Desta forma, o avião da LaMia deveria contar com pelo menos 11.603 quilos de combustível. Mas, de acordo com o relatório final, havia apenas 9.300 quilos. “O avião caiu por falta de combustível”, informou os representantes da aeronáutica civil da Colômbia, sem meias palavras. “Os quatro motores da aeronave pararam de funcionar, o que provocou a queda. Pararam de funcionar por falta de combustível”.
Além de apontar a causa que levou a queda do avião, os representantes colombianos listaram algumas recomendações aos agentes e operadores aéreos para que acidentes por esse motivo nunca mais aconteçam. Citaram a necessidade de aumentar e divulgar as recomendações de segurança e tornar público planos e condições de voos para viagens internacionais.
Outra recomendação dada após as investigações foi revisar as operações de voos e de segurança internacionais, assim como fortalecer os padrões e a documentação de trânsito aéreo entre países, de modo a fazer com que as instituições responsáveis se sintam no direito de autorizar ou recusar planos de voos.
A Chapecoense disputaria em Medellín a decisão da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. Seria o jogo de ida, que não chegou a ser realizada. O avião da LaMia levava a delegação da equipe brasileira, com dirigentes, membros da comissão técnica e jornalistas. O avião bateu na parte mais alta do chamado Morro Sucio, próximo a Medellín, antes de chegar ao aeroporto, perdeu sua parte traseira e foi se desintegrando.
As investigações apontaram ainda algumas conclusões sobre a queda: a apesar de o plano de voo prever escala entre São Paulo e o aeroporto de Medellín, a empresa planejou voo direto; antes de cair, cerca de 40 minutos, o avião já voava em situação de emergência e tripulação manteve os padrões de voo normal; houve indicação, luz vermelha e avisos sonoros na cabine dos pilotos; o controle de tráfego aéreo desconhecia a situação de risco do avião e sua possibilidade de queda por falta de combustível; a tripulação era experiente e tinha toda a documentação necessária de voo e trabalho em dia; a LaMia estava em situação financeira precária, atrasava salários e tinha má organização de voo; a empresa não cumpria determinações das autoridades da aviação civil em relação ao abastecimento de combustível.
Os coordenadores da investigação concluíram que a empresa se valia com frequência dessa “péssima prática” de voo, sem se preparar adequadamente para voos mais longos e internacionais, voando com combustível na conta. O relatório, assim, conclui que o acidente poderia ter sido evitado.
Estadão Conteúdo // AO