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Excesso de doações a vítimas de desabamento faz igreja fechar as portas

Muitas pessoas continuam chegando com doações no local.

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Na manhã desta quarta-feira, 2, doações que chegam aos moradores desabrigados após a tragédia no prédio no centro de São Paulo já estão sendo barradas diante do excesso acumulado. A Igreja Nossa Senhora do Rosário, no Largo do Paiçandu, fechou as portas para doações por falta de espaço. Quem tentava deixar sacolas no local, tinha o pedido negado pelo vigia, que alegava lotação. O próprio movimento de moradia que residia no edifício e agora ocupa a frente da igreja está recusando roupas.

Os moradores pedem marmitex e fraldas. Por falta de cozinha comunitária no local, doações como arroz, feijão e óleo estão empilhadas, sem que possam ser utilizadas. Os desabrigados estão se alimentando de lanches como pães e bolachas desde terça-feira, dia 1º, quando ocorreu a tragédia.

Muitas pessoas continuam chegando com doações no local. A Cruz Vermelha contabilizou, até esta terça-feira, 5 toneladas de sacolas com roupas e alimentos. As atividades da igreja foram temporariamente suspensas, pois todo o saguão foi tomado por pilhas de roupas e alimentos doados. Os bancos foram afastados para que todo o material coubesse no local.

A assistente social Maria Luiza Lopes, de 59 anos, saiu na manhã desta quarta do Jaguaré, na zona oeste da capital, carregada com seis sacolas de roupas, sapatos, itens de cama e mesa de higiene. Ela chegou à igreja ao lado de uma senhora que havia acabado de conhecer e se oferecido para ajudá-la a carregar o material. “Ela ouviu minha conversa com um camelô, enquanto eu esperava pedir ajuda para levar as bolsas, e perguntou se eu queria ajuda. O bem é uma corrente. Uma coisa puxa a outra”, disse a assistente social.

Emocionada, Maria Luiza disse que não há como não se comover diante de uma situação de “calamidade” dessas. “Temos que estar abertos e com esse olhar de ajudar os outros. Só rezar não é nada.”

A maioria dos desabrigados com pertences no Largo do Paiçandu é de famílias com crianças. Eles estão deitados em colchões, papelões e barracas de acampamento. Segundo a liderança do movimento, algumas famílias com filhos pequenos dormiram esta noite em albergues e retornaram para a praça pela manhã.

Um dos líderes do movimento, o ajudante Fagner Apolinário da Silva, de 32 anos, diz que as famílias vão permanecer no local e se recusam a ir para albergues. “Queremos moradia digna. Não somos moradores de rua. Só vamos sair daqui quando a Prefeitura e a Câmara nos encaminharem para uma habitação. Isso de fila de habitação é balela. Vamos morrer nessa fila sem nunca conseguir uma moradia”, afirma.

Segundo Apolinário, é preciso ter estrutura de cozinha comunitária no local, já que há mais de 24 horas as famílias se alimentam somente de lanches. Ele admitiu ainda que até moradores de rua, que não são do movimento, estão entrando e comendo.

Estadão Conteúdo // ACJR