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Ex-procurador admite ter recebido dinheiro da JBS após deixar o MP

O ex-procurador disse, porém, que sua atuação para a JBS antes de deixar o Ministério Público não pode ser classificada como consultoria, assessoria ou trabalho.

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O ex-procurador da República Marcelo Miller admitiu, em depoimento à CPMI da JBS nesta quarta-feira (29), que atuou para o grupo J&F, enquanto ainda fazia parte do Ministério Público, no processo de acordo de leniência que a empresa tentava celebrar com os governos do Brasil e dos Estados Unidos, mas disse que não cometeu crime nem traiu a instituição ao fazer isso. Ele negou ainda ter orientado o empresário Joesley Batista, um dos controladores do grupo, a gravar conversa com o presidente Michel Temer e com o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Miller, que fazia parte da equipe do ex-procurador geral da República Rodrigo Janot, é suspeito de orientar os donos da JBS antes de deixar o Ministério Público para atuar como advogado da própria JBS no processo de acordo de leniência. A prisão dele chegou a ser pedida por Janot, mas não foi aceita pela Justiça.

O ex-procurador disse, porém, que sua atuação para a JBS antes de deixar o Ministério Público não pode ser classificada como consultoria, assessoria ou trabalho. Segundo ele, o que fez foi uma “atividade preparatória”, sem remuneração ou contrato, que visava obter acordos de colaboração entre a empresa e autoridades brasileiras e americanas. Ao responder pergunta do deputado Delegado Francischini (SD-PR), um dos sub-relatores da comissão, ele admitiu, porém, ter cometido uma “lambança” ao decidir deixar o Ministério Público para atuar para a JBS sem considerar como isso seria interpretado.

DINHEIRO DA JBS

Miller admitiu ainda que recebeu R$ 1,6 milhão do escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, que prestava serviços para a JBS, depois de ter deixado o Ministério Público. O escritório tinha sido contratado para tratar do acordo de leniência da JBS, mas acabou deixando a defesa da empresa. Ele negou, porém, ter sido contratado formalmente pelo escritório ou recebido pagamentos antes de deixar o Ministério Público. Nesse ponto, ele foi confrontado pelo deputado Izalci Lucas (PSDB-DF), que leu trechos de um e-mail em que o próprio Miller relaciona horas de trabalho e propostas de honorários em fevereiro.

SEM CONVENCER

Miller respondeu perguntas de deputados e senadores durante mais de quatro horas, apesar de estar amparado por um habeas corpus que dava a ele o direito de permanecer calado. Mas as respostas não convenceram os integrantes da CPMI. O presidente da comissão, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), apresentou uma cronologia que, segundo ele, demonstra que Miller assessorava a JBS desde fevereiro, mais de dois meses antes de deixar o Ministério Público. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) chegou a defender a prisão de Miller. O deputado Juscelino Filho (DEM-MA) manifestou insatisfação com as explicações. Miller negou ainda que Janot soubesse da assessoria que prestava aos controladores do grupo J&F antes de se desligar oficialmente do Ministério Público. Ele disse isso ao responder pergunta do relator da comissão, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que queria saber se o ex-chefe de gabinete de Janot, o procurador Eduardo Pellela, tinha conhecimento dessa atividade. “Pellela, pelo menos por mim, não teve conhecimento da atividade preparatória”, disse.

Miller criticou, porém, acusações feitas por Janot a ele, usadas para embasar o pedido de prisão que não foi aceita pela Justiça. “Ele me imputou tipos penais completamente fora da marca. Organização criminosa? Quais são os crimes? Eu estava incentivando uma empresa a se limpar. Obstrução da justiça? É o contrário. Era desobstrução da justiça, para que a empresa fosse lá dizer a verdade”, disse. O foco no processo de delação premiada dos executivos da JBS desagradou o deputado João Gualberto (PSDB-BA), para quem a CPMI deveria estar mais preocupada em investigar corruptos e não membros do Ministério Público. “Eu imaginava que a gente ia trazer aqui os políticos. Mas nada disso vai acontecer”, disse.

TACLA DURAN

Nesta quinta-feira (30), a CPMI ouvirá, por videoconferência, o depoimento do advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhava para a Odebrecht e mora na Espanha. Duran será ouvido a pedido dos deputados Wadih Damous (PT-RJ) e Paulo Pimenta (PT-RS). Em entrevistas à imprensa, o advogado disse que a Odebrecht fraudou documentos apresentados em seu acordo de delação premiada. Ele acusou ainda o advogado Carlos Zucolotto Júnior, de Curitiba (PR), de oferecer benefícios a acusados de crimes pela Operação Lava Jato.

Reprodução: Correio do Estado