Famoso pela realização de “cirurgias espirituais”, João Teixeira de Farias, o médium João de Deus, já atendeu celebridades, políticos e altos funcionários públicos do Brasil e do mundo. Agora, no entanto, ele é alvo de uma série de acusações de abuso sexual.
O caso veio à tona com a revelação, entre sexta-feira (7) e sábado (8) de 12 relatos de mulheres que acusam o médium de se aproveitar da autoridade de líder espiritual para abusar sexualmente delas. As histórias foram contadas na noite de sexta no programa "Conversa com Bial" e, no sábado, no jornal O GLOBO .
Desde então, outras oito pessoas procuraram O GLOBO para revelar histórias semelhantes, totalizando 20 casos, até o momento.
Primeiras denúncias
O programa "Conversa com Bial" relatou o caso de dez mulheres que se dizem vítimas de João de Deus. Quatro delas também foram ouvidas peloGLOBO , em uma investigação paralela, que foi publicada no sábado. Nessa reportagem, foram divulgados outros dois relatos exclusivos.
Entre essas 12 primeiras denúncias, a única vítima a autorizar a publicação de seu nome foi a holandesa Zahira Lieneke, que conversou tanto com O GLOBO quanto com a produção do "Conversa com Bial" por videoconferência. Ela afirma ter sido estuprada em 2014 e foi a única que conta ter sido penetrada por João de Deus.
— Cheguei ali impressionada com esse homem. Acreditava que ele faria um milagre. No entanto, durante aquela "consulta" algo se apoderou de mim: o sentimento de que ele era um homem sujo — contou Zahira..
'Modus operandi' dos abusos
As denúncias revelam um processo sistemático e padronizado. As mulheres contam que foram desacompanhadas à Casa de Dom Inácio de Loyola, o “hospital espiritual” mantido pelo médium em Abadiânia, interior de Goiás. Todas tinham entre 30 e 40 anos no momento em que relatam terem sofrido os abusos. Elas dizem que o médium, durante os atendimentos ao público — quando estaria incorporado por uma entidade espiritual —, escolhia algumas em meio à multidão e as pedia que o encontrassem em uma salinha após o fim da sessão.
Sempre colocadas como últimas na fila de espera para o atendimento pessoal, elas entravam em um escritório que dava acesso à sala de cirurgias. Neste momento, ficariam no local apenas o médium e a paciente. Com a porta trancada e as luzes apagadas, seriam tocadas nos seios pelo líder espiritual de 76 anos, e/ou ordenadas a tocá-lo no pênis, parte de uma “limpeza espiritual”.
João de Deus nega
Em resposta às denúncias feitas pelas mulheres, a assessoria de João de Deus encaminhou uma nota ao GLOBO na qual afirma que “a situação trazida, além de ser fantasiosa, é lamentável, uma vez que o Médium João é uma pessoa de índole ilibada. Tal situação é muito grave. Se estivéssemos falando no âmbito Jurídico, para que uma situação se caracterizasse como criminosa, a parte lesada teria que demonstrar a materialidade do ocorrido".
A nota diz ainda que "a sala em questão é pública e qualquer um tem acesso a ela e jamais fica trancada, é livre para o entra e sai das pessoas, é aberta a todos".
A assessoria de João de Deus acrescenta que, "uma vez que está sendo atingido a honra e imagem de uma pessoa pública conhecida mundialmente, e muito respeitada, pergunto o que as motivam (as vítimas)? Estas pessoas não só estão prejudicando ao médium João, mas milhares de pessoas que precisam de cuidados na casa de Dom Inácio, além de elas mesmas serem prejudicadas, em razão do que foi dito, da índole cristalina do Médium João. Pergunto novamente, porque não procuraram a delegacia ou o Ministério Público, e se não o fizeram, qual a razão desta omissão?”.
O Globo /// Figueiredo