No Brasil, o estado de Roraima, fronteiriço com a Venezuela, é o que mais tem sentido nos últimos dois anos os impactos da crise no país vizinho, onde faltam medicamentos, atenção sanitária e alimentos.
De acordo com a Polícia Federal (PF), de 2015 a junho de 2018, um total de 56.740 venezuelanos solicitaram refúgio ou residência no Brasil, embora seja difícil confirmar quantos permanecem no país.
Segundo a última estimativa da prefeitura de Boa Vista, capital de Roraima, a 200 km da fronteira, aproximadamente 25.000 venezuelanos estão instalados atualmente na cidade, o que equivale a 7,5% de sua população total, de cerca de 332.000 habitantes.
Muitos foram alojados em uma dezena de refúgios administrados pelo Exército, pela agência da ONU para os Refugiados (Acnur) e ONGs, mas cerca de 10% (2.500) ainda dorme na rua.
Muitos acampam durante meses nas esquinas e nos terrenos baldios, vivendo de doações de comida e roupas. Também é comum ver nos semáforos grupos de homens e mulheres lavando os vidros dos automóveis e oferecendo outros serviços por moedas.
A onda de imigrantes buscando atenção médica e serviços básicos colocou sob pressão os hospitais e escolas da cidade, assim como o saturado mercado de trabalho.
Os hospitais de Roraima registraram mais de 50.000 consultas e atendimentos médicas a venezuelanos em 2017, um número que chegou a 45.000 apenas nos primeiros três meses deste ano, segundo números oficiais.
A disputa por camas de hospital e postos de trabalho, assim como o aumento da delinquência em determinadas regiões de Boa Vista e na fronteiriça Pacaraima geraram tensões com a população local.
Há uma semana, um grupo de moradores de Pacaraima incendiou acampamentos de imigrantes e os expulsaram ao outro lado da fronteira.
“Estamos muito perto do limite. Ninguém vai conseguir suportar se o fluxo continuar, e o governo federal faz de conta que não está acontecendo nada em Roraima”, disse à AFP Marcelo Lopes, secretário do Gabinete Institucional do Governo de Roraima.
A solicitação mais urgente das autoridades locais é a realocação dos imigrantes em outros estados brasileiros.
Até agora, apenas 820 venezuelanos foram transferidos e 270 serão trasladados nesta semana.
O ministro de Segurança Pública, Raúl Jungmann, admitiu que o processo de transferências não está funcionando com a rapidez necessária, mas assegurou que o governo federal está empenhado a prestar assistência necessária para continuar acolhendo os imigrantes. E reiterou que não fechará a fronteira.
AFP // ACJR