Durante confronto entre a Polícia Militar e usuários de drogas na região da Cracolândia, fotógrafos foram atingidos por tiros. O repórter fotográfico Dário Oliveira foi ferido com um tiro na coxa. Ele foi socorrido e levado ao Pronto-Socorro da Santa Casa, onde deu entrada às 14h13. De acordo com a Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do estado de São Paulo (Arfoc-SP), o profissional passa bem.
Na mesma cobertura, uma bala atingiu a perna de outro profissional, conhecido como Chello. O projétil atingiu o celular que estava no bolso do repórter fotográfico.
A confusão entre a polícia e usuários de drogas começou no início da tarde. Algumas pessoas lançaram pedras contra os policiais e fizeram barricadas com fogo. A PM usou bombas de gás para dispersar os usuários de drogas na região e a ação provocou correria. Há informações contraditórias sobre como teve início o conflito.
Em entrevista à Agência Brasil, Chello contou que estava ao lado de Dário no momento que o último foi atingido. Ambos faziam a cobertura do conflito no local. Segundo ele, houve uma primeira confusão, que já havia terminado. Um grupo de repórteres estava indo embora, quando percebeu nova movimentação de viaturas policiais.
Os jornalistas voltaram ao local e viram um bloqueio da polícia diante de alguns usuários de drogas. “Até então, tudo sob controle. Só que passou um táxi no cruzamento, o taxista resolveu fazer uma foto e o pessoal lá, os usuários não gostaram”, contou. Houve novo tumulto e a tropa da polícia avançou.
“[A tropa] avançou, eles [usuários] correram, aí foi tiro e bomba. Nesse momento, eu estava do lado dessa tropa e o Dário estava do meu lado”. Chello contou que estava fotografando e sentiu um impacto na perna, quando percebeu que uma bala tinha atingido o celular que estava no seu bolso. “Eu olhei para baixo, vi o furo na minha calça e na sequência o Dário já gritou. Ele gritou: 'Tomei um tiro', olhei para a perna dele e estava sangrando muito”.
O repórter disse que puxou Dário para calçada, pedindo socorro. “Um policial veio até a gente, mas não fez nada e aí duas pessoas ali da região mesmo carregaram ele no ombro e levaram até o posto dos Bombeiros para ser socorrido”, disse.
A Arfoc-SP divulgou nota pedindo providências urgentes para identificar e punir o autor do disparo contra os profissionais. “Mais uma vez repudiamos violência contra jornalista no exercício da profissão”, diz a entidade.
Confronto
A confusão entre a polícia e usuários de drogas começou no início da tarde. Algumas pessoas lançaram pedras contra os policiais e fizeram barricadas com fogo. A PM usou bombas de gás para dispersar os usuários de drogas na região e a ação provocou correria. Há informações contraditórias sobre o que teria dado início ao conflito.
De acordo com Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, policiais do patrulhamento de área realizaram uma abordagem, na rua Helvétia com a rua Dino Bueno, centro da capital paulista, no entorno da região conhecida como Cracolândia, no final da manhã. A SSP disse que a ação começou “quando cerca de 300 pessoas se aglomeraram e começaram a atear fogo em lixo, arremessar pedras e outros objetos contra a PM”.
No início da noite, a secretaria informou que sete policiais militares ficaram feridos e dois civis atingidos por arma de fogo foram socorridos na Santa Casa. “A SSP informa que nenhum disparo de arma de fogo foi feito pela PM na manhã desta quinta-feira na Cracolândia. Seis tiros foram ouvidos pelos agentes que estavam no local. Um policial foi ferido de raspão por um disparo de arma de fogo. Um escudo da PM também foi atingido por um projétil, ferindo o agente que o empunhava”, disse, em nota.
Há informações não confirmadas de que outras pessoas teriam ficado feridas. Dois homens foram detidos acusados de agressão contra a tropa da PM.
Ação
Uma mulher, que preferiu não se identificar, considerou a ação policial desumana e que os usuários de drogas não foram respeitados.
“Eu achei um absurdo esse negócio de jogar bomba, gás de pimenta, isso é uma humilhação, porque eles estão de farda. E amanhã eles podem estar sem farda, são seres humanos que nem nós. Estão esquecendo que nós somos humanos que nem eles. Eles acham que eles são humanos e nós não somos nada, que somos lixo”, disse a mulher.
A moradora da Cracolândia, Janaína Xavier, contou que policiais abordaram dois rapazes, que tentaram fugir, mas foram detidos. Ela também criticou a ação policial. “Eles [policiais] acham que quem mora na Cracolândia, todo mundo é bandido, todo mundo é traficante, todo mundo é safado e ninguém presta aqui, mas essa não é a realidade. A realidade é que aqui mora família. Eles têm que chegar e tem que ver que tem família aqui também. Nós somos desrespeitados por eles. A gente passa na rua e já é abordado. Os policiais tratam a gente como se fosse criminoso aqui na Cracolândia”.
A PM disse que agiu atendendo a um pedido do Corpo de Bombeiros, que solicitou apoio após uma confusão com usuários de drogas na região. A prefeitura de São Paulo deve anunciar em março um novo plano para a Cracolândia, chamado Redenção. A iniciativa deverá substituir o programa de redução de danos De Braços Abertos, que integra os usuários a frentes de trabalho e oferece alojamento em hotéis.
Agencia Brasil