Brasil

'Consciência limpa', diz suspeita de tentar comprar bebê por R$ 3 mil

Professora diz que manteve contato com pai da criança para denunciar caso

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 src=Suspeita de tentar comprar um bebê de quatro meses do pai da criança, a professora Patrícia Mello Campos, de Miguelópolis (SP), diz que vem sendo ofendida e sofrendo ameaças após a repercussão do caso, mas alega que nunca teve a intenção de concretizar o negócio e vai provar isso à polícia.

“A minha vida acabou, a vida da minha família acabou, porque estou pagando por uma coisa que não devo. Eu não consigo sair de casa. Comentaram no Facebook que eu sou traficante de criança. Eu não devo, estou aqui, não vou fugir. A minha consciência está limpa”, diz.

O crime foi descoberto na quinta-feira (6), quando o pai do bebê, o locutor Luciano Luiz de Carvalho, de 26 anos, foi preso em Campo Grande (MS), ao tentar embarcar com a mulher e o filho para São Paulo, onde a criança supostamente seria entregue por R$ 3 mil.

Patrícia, no entanto, nega que faria o pagamento e afirma que a única intenção era denunciar o caso. A professora explica que só manteve contato com o pai do menino pela internet a pedido de familiares dele, que, inclusive, foram avisados sobre o crime por ela.

Em entrevista ao Fantástico, a professora conta que o primeiro contato com Carvalho ocorreu em julho do ano passado, quando se cadastrou em sites de orfanatos para entender como funciona o processo de adoção, pois tinha a intenção de adotar uma criança.

Durante as pesquisas na internet, Patrícia diz que encontrou postagens de Carvalho dizendo que estava doando um bebê e decidiu entrar conversar com ele pelo Facebook. Entretanto, a mensagem enviada pela professora em 26 de julho de 2015 só foi respondida pelo pai da criança na última segunda-feira (3).

“Eu achei estranho porque já tem um ano e quatro meses. No meio da conversa, ele me pediu R$ 3 mil. Como eu vi que era golpe, continuei a conversa. O que eu pensei: vou continuar a conversa para ver até onde ele vai chegar”, afirma.

A professora explica que enquanto trocava mensagens com Carvalho, passou a procurar por familiares dele na rede social e encontrou os perfis da mulher, que é a mãe da criança, do sogro e de uma cunhada dele, além da página de uma tia.

“Não passou pela cabeça ligar para a polícia na hora. Primeiro, passou pela cabeça procurar alguém da família, porque eu sabia que o bebê estava correndo perigo. Na minha cabeça, se eu procurasse a família, a família ia procurar a polícia”, diz.

Ainda segundo Patrícia, o único familiar que respondeu às mensagens enviadas por ela foi uma tia da mãe do bebê, que mora na capital paulista. A professora conta que foi essa tia quem pediu a ela para continuar mantendo contato com Carvalho.

“Ela pediu ‘prolonga a conversa para eu poder pedir ajuda para o meu sogro, para a minha sora, para o bisavô dela’. Foi essa a conversa que eu tive. Eu tenho contato com ela todos os dias. Ela está do meu lado. Ela sabe que o que eu fiz foi tentar ajudar”, alega.

Patrícia afirma também que não comunicou a polícia porque teve medo de Carvalho bloqueá-la na rede social, e então vender a criança para outra pessoa. Por esse motivo, a professora diz que continuou simulando o interesse no “negócio”.

“Se ele me bloqueasse, eu não ia ter contato com ninguém, ele ia sumir com essa criança. Ele só foi preso porque a família mandou dinheiro para ele ir para São Paulo. Ele só foi preso porque eu procurei a tia, e a tia tomou providência. Ela está do meu lado, ela falou que vai me ajudar”, diz.

Investigação
Carvalho foi preso em flagrante na quinta-feira (6), quando ele e a mulher, de 22 anos, tentavam conseguir passagens com destino a São Paulo no departamento de assistência social da Prefeitura de Campo Grande.

Segundo a Polícia Civil, a profissional que atendeu o casal desconfiou do comportamento da mãe, que chorava muito durante a entrevista. Carvalho então confessou que entregaria o filho mediante pagamento, mas alegou que havia se arrependido do negócio.

Luciano foi preso e responderá por crime de "prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa". A pena varia de um a quatro anos de reclusão. A mulher dele e o bebê foram levados a um abrigo.

A professora de Miguelópolis também defende que não tem condições financeiras de pagar pelo valor sugerido pelo pai da criança e diz que se arrepende de não ter comunicado a polícia quando os dois começaram a trocar mensagens pela internet.

“Eu nem tenho dinheiro para isso, nunca. A minha intenção era encontrar a família para pedir socorro. Se eu fiz errado, eu peço desculpas, porque a minha intenção era essa. Eu errei de não ligar para a polícia. Eu sei que é ilegal, que é crime, não se vende uma vida”, afirma.

Processo criminal
Ao final do inquérito, Patrícia pode responder por "dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem", cuja pena varia de dois a seis anos de reclusão. A advogada da professora, no entanto, diz que não há provas do crime.

"A gente vai demonstrar que, em momento algum, ela tinha interesse de comprar essa criança, ou mesmo adotar. As conversas demonstram que ela não queria comprar, e sim ajudar", diz a advogada Rosimary Barbosa Garcia.

Rosimary destaca que a professora manteve contato com o pai da criança por dois dias, na segunda (3) e terça-feira (4), e que o bloqueou do Facebook assim que a tia da mulher dele afirmou que os familiares já estavam acompanhando o caso.

Ainda de acordo com a advogada, Carvalho também tentou vender outro bebê que dizia ser sua filha, mas Patrícia descobriu a identidade do verdadeiro pai da criança e manteve contato com ele para denunciar o caso.

"Ela está disposta a juntar todas essas conversas. Em momento algum ela cometeu qualquer ato que leve ela a ser condenada. Ela reconhece que teve uma falha, de não ter avisado a polícia, mas isso não quer dizer que seja uma criminosa, que ela deva ser punida", finaliza.

Reprodução: G1