Cerca de 23 milhões de crianças ficaram sem as vacinas básicas em todo o mundo durante o ano de 2020. O número é o maior desde 2009 e reflete as desigualdades acentuadas pela pandemia de covid-19. Os dados foram publicados nesta quarta (14) pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Segundo as organizações, de 2019 para 2020, houve um aumento de 3,7 milhões de crianças sem as vacinas necessárias na infância. Dos 23 milhões no ano passado, ao menos 17 milhões de crianças não receberam qualquer tipo de imunizante.
Já antes da pandemia, as taxas de vacinação contra difteria, tétano, coqueluche, sarampo e poliomielite haviam estagnado em 86% do público-alvo. Com a concentração de recursos no combate à covid-19, o quadro se agravou.
"Enquanto os países clamam para colocar as mãos nas vacinas contra a covid-19, retrocedemos com outras vacinações, deixando as crianças em risco de doenças devastadoras, mas evitáveis, como sarampo, poliomielite ou meningite", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
"Vários surtos de doenças seriam catastróficos para as comunidades e sistemas de saúde que já lutam contra a covid-19, tornando mais urgente do que nunca investir na vacinação infantil e garantir que todas as crianças sejam alcançadas", completou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS
Os países que apresentaram os maiores aumentos de crianças não vacinadas com a primeira dose da vacina combinada contra tétano, difteria e coqueluche (chamada de DTP-1) foram: Índia, Paquistão, Indonésia e Filipinas.
A OMS também chama atenção para a queda na cobertura vacinal na região das Américas, motivada por "déficits de financiamento, desinformação sobre vacinas, instabilidade e outros fatores". Em 2020, apenas 82% das crianças da região foram totalmente imunizadas com a DTP-1. Em 2016, essa cobertura chegava a 91%.
Já a terceira dose dessa vacina combinada teve uma cobertura de 83% em 2020 no mundo, contra 86% em 2019, uma queda de 22,7 milhões de crianças. Já contra o sarampo, a cobertura foi de 84% na primeira dose e apenas 71% na segunda em 2020.
De acordo com a OMS, o ideal é que ao menos 95% das crianças sejam imunizadas, em especial contra o sarampo, a primeira doença a ressurgir quando há baixa cobertura vacinal.
Segundo as organizações, com o fechamento das escolas, apenas 13% das meninas receberam a vacina em 2020, contra 15% em 2016. É um aumento de 1,6 milhão de meninas sem ao menos a primeira dose do imunizante.
De acordo com o levantamento, a maioria das crianças sem os imunizantes vivem em comunidades afetadas por conflitos, em locais remotos ou com acesso limitado a serviços básicos de saúde e sociais. A queda na cobertura vacinal foi registrada em todas as regiões do mundo, mas de forma mais acentuada no Sudeste Asiático e no Mediterrâneo Oriental.
"Mesmo antes da pandemia, havia sinais preocupantes de que estávamos começando a perder terreno na luta para imunizar crianças contra doenças infantis evitáveis, inclusive com os surtos generalizados de sarampo há dois anos. A pandemia tornou essa situação muito pior", conta a diretora-executiva da Unicef, Henrietta Fore.
Segundo a OMS e a Unicef, a concentração de recursos para o combate à pandemia da covid-19 levou à interrupção na prestação de serviços de saúde em muitos países do mundo.
"Em alguns países, as clínicas foram fechadas ou o número de horas em funcionamento reduzido, enquanto as pessoas podem ter relutado em procurar atendimento médico por medo da transmissão ou enfrentaram dificuldades para chegar aos serviços devido a medidas de bloqueio e interrupções no transporte", afirma às organizações.