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Colaborador da transição é alvo de PF e Receita

Segundo a operação, batizada de Chiaroscuro, a suposta quadrilha funcionava a partir de um escritório de advocacia que atuava em conjunto com empresas laranjas e reais.

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Na manhã de 27 de novembro, policiais federais e fiscais da Receita entraram no apartamento do advogado Thiago Taborda Simões, em São Paulo, em busca de provas sobre a suposta atuação de uma quadrilha que operava um esquema de fraude, sonegação e lavagem de dinheiro que pode ter dado prejuízo de R$ 500 milhões ao Fisco.

Durante as buscas, os investigadores apreenderam documentos, encontraram uma caixa com maconha e cocaína e um crachá de acesso ao local de trabalho da equipe de transição do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), em Brasília.

Segundo a operação, batizada de Chiaroscuro, a suposta quadrilha funcionava a partir de um escritório de advocacia que atuava em conjunto com empresas laranjas e reais.

A PF afirma que as empresas simulavam a venda de produtos e serviços e, ao receber os pagamentos e emitir notas fiscais sobre as transações fictícias, distribuíam os valores para contas no Brasil ou no exterior, ou realizavam a entrega de dinheiro em espécie aos envolvidos no grupo.

"Há indícios de que esses pagamentos eram realizados para diminuir valores devidos em impostos, lavar dinheiro e pagar propinas a agentes públicos", diz a polícia.

As empresas teriam continuado a operar mesmo após passar pela fiscalização de um funcionário da Receita que pertencia ao grupo.

Simões virou alvo porque, segundo a investigação, indicou a um cliente com problemas com a Receita um advogado envolvido no esquema. Teria recebido uma comissão por isso.

Simões não é formalmente da equipe de transição, mas participou de reuniões com o grupo comandado pelo economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia.

O advogado admitiu à Folha, via sua assessoria, que teve dois encontros com a equipe de Guedes como especialista convidado. Teria atuado, segundo ele, como consultor em assuntos tributários.

Ex-conselheiro do Carf (Conselho Administrativo da Receita Federal), órgão administrativo que julga processos em segunda instância na Receita, Simões é ligado aos irmãos Abraham e Arthur Weintraub, integrantes da equipe de transição na área econômica.

Um episódio recente ilustra a proximidade do advogado com os irmãos. Foi a Simões que Arthur Weintraub recorreu quando decidiu processar por dano moral uma aluna sua da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que o acusou de ser "mau caráter".

Isso apesar de Simões ser tributarista, quando o normal para esse tipo de processo é que fique a cargo de um especialista na área cível.

Procurado pela Folha, Arthur não atendeu aos telefonemas. Seu irmão, Abraham, negou que tenha sido o responsável por indicar Simões ao governo de transição.

"Ele foi advogado da gente num dos casos em que tratamos da perseguição que sofremos na faculdade", disse Abraham.

"A partir da hora em que apareceu esse caso, a gente cancelou todo o relacionamento com ele. Ele não chegou a ser oficializado na transição, que eu saiba", declarou.

Abraham é cotado para assumir como secretário-executivo da Casa Civil, para ser o principal articulador da reforma da Previdência.

A Polícia Federal ainda analisa o material apreendido e não terminou o relatório nem decidiu sobre indiciamentos.

Por causa da descoberta das drogas, o advogado teve que assinar na polícia um termo circunstanciado, que é o registro de uma infração de menor potencial ofensivo. A pena máxima nesses casos é de até dois anos de prisão ou multa.

OUTRO LADO

A assessoria de imprensa de Thiago Simões diz que ele "participou de duas reuniões [na transição], mas meramente como especialista convidado". Segundo a nota, sua contribuição foi apenas de caráter consultivo.

Com relação às drogas encontradas em sua casa, a assessoria disse se tratar de "questão de foro pessoal, já esclarecida e arquivada pelas autoridades e sobre a qual não há o que comentar".

"No que tange à Chiaroscuro, Taborda não é acusado, mas apenas investigado pela Polícia Federal, a quem já explicou que seu trabalho foi inteiramente técnico em defesa de um contribuinte perante a Receita Federal."

O advogado Fábio Toffic, que defende Santos, diz que ele "apenas indicou um advogado a uma empresa que era sua cliente e só agora veio a saber que esse advogado usava métodos ilícitos".

Procurada, a assessoria da equipe de transição não se manifestou.

Flhopress // AO