Centenas de pessoas estão cruzando clandestinamente a pé a fronteira da Venezuela com o Brasil. Nesta segunda-feira (19), mulheres com bebês de colo, crianças e idosos atravessaram a fronteira por terra que une os dois países.
A Venezuela, país fronteiriço a Roraima, fechou os pontos de acessos com o Brasil e a Colômbia por decreto presidencial que visa enfraquecer as máfias que descaminham notas de bolívar, a moeda venezuelana.
O vice-consulado do Brasil em Santa Elena de Uairén estima que quase 100 brasileiros estão tentando sair do país pela fronteira com Roraima. Uma comitiva do estado foi a Venezuela para resgatar cerca de 37 turistas que estão retidos no país.
A rota ilegal entre o Brasil e Venezuela é chamada de 'caminho verde', porque é por dentro da mata. Há até um pântano no meio do caminho. A passagem liga Santa Elena de Uiarén a Pacaraima, cidade brasileira na fronteira e a 250 KM da capital Boa Vista.
A travessia clandestina entre os dois países dura entre 10 e 20 minutos.
Brasileiros e venezuelanos em busca de comida e remédios fazem o trajeto tanto para sair do país quanto para voltar levando mantimentos.
A brasileira Lenir da Silva, de 51 anos, atravessou a fronteira para levar os netos, de 10 e 5 anos para Boa Vista. As crianças devem permanecer no Brasil até que a situação na Venezuela melhore.
"Esta é a segunda vez que cruzo a fronteira. A primeira travessia foi para comprar comida, pois não há alimentos na Venezuela", conta Lenir que vive em Santa Elena de Uairén.
O comerciante venezuelano Ulisses Sanches, de 38 anos, também cruzou a fronteira de forma clandestina para comprar mantimentos. Ele admite saber que o ato é ilegal, mas diz que precisou se arriscar porque não há comida na Venezuela.
"Essa travessia não é legal, mas temos de fazê-la porque não há comida na Venezuela", contou o comerciante que mora em Santa Elena de Uairén.
Ele disse que dentro da Venezuela o clima é de incerteza. "Ninguém sabe o que vai acontecer. O futuro é incerto. Enquanto não abrirem a fronteira, vamos continuar viajando por aqui", afirma.
Há cerca de 10 dias, a brasileira Vilanir de Souza Santos, de 32 anos, veio ao país natal para ter o filho na maternidade de Boa Vista, já que na Venezuela hospitais sofrem com a falta de remédios.
Ela cruzou a fronteira pé com o filho, um bebê recém-nascido, para voltar para casa, na manhã desta segunda.
"Fui ter meu filho no Brasil, porque a situação na Venezuela é péssima. Não dá nem para sair na rua, porque estão saqueando tudo. Mesmo assim, tenho que voltar para minha casa em Santa Elena", relata.
Brasileiros e venezuelanos que atravessam a fronteira dizem que há pessoas cobrando dinheiro para auxiliar nas travessias. Eles afirmam que homens do exército também indicam que apesar da fronteira estar fechada, é possível transitar entre os dois países pela rota ilegal.
Itamaraty
Em nota divulgada no último sábado (17), o Itamaraty informou que a embaixada brasileira na Venezuela atua junto ao governo do país para buscar uma solução para os brasileiros que desejam retornar ao Brasil.
Além disso, o Itamaraty reforçou que os brasileiros que estão na Venezuela e que precisarem de assistência devem procurar o vice-consulado do Brasil em Santa Elena de Uairén, que fica na fronteira entre os dois países.
Fronteira fechada
Na terça (13), o presidente venezuelano Nicolás Maduro decretou que as fronteiras da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia fossem fechadas. Na quinta (15), o presidente prorrogou a decisão por mais 72h e no sábado anunciou que a medida irá valer até o dia 2 de janeiro.
Segundo o líder chavista, a Venezuela está sendo vítima de um "ataque econômico" contra sua moeda. O fechamento visa combater as "máfias" que entram no país para desestabilizar a economia da Venezuela.
Maduro também decidiu estender a vigência da nota de 100 bolívares, que, como anunciara o governo no domingo passado, deveria ser retirada de circulação na última quinta.
O fechamento das passagens fronteiriças foi estabelecido, ainda de acordo com a visão de Maduro, justamente para evitar que as notas de 100 que tinham sido tiradas do país por grupos ilegais voltassem a circular.
Reprodução/G1