O ministro Luís Roberto Barroso pediu desculpas públicas, nesta quinta-feira, por ter chamado o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa de "negro de primeira linha" em discurso durante cerimônia realizada ontem. Visivelmente emocionado, Barroso afirmou, logo no início da sessão do plenário na Corte, que é necessário enfrentar o racismo, "mesmo o que se esconde em nosso inconsciente".
— Manifestei-me de modo infeliz e utilizei a expressão "negro de primeira linha". Não há brancos ou negro de primeira linha porque as pessoas são todas iguais em dignidade e direitos, sendo merecedoras do mesmo respeito.
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Barroso explicou que pretendia fazer referência a um "acadêmico negro de primeira linha", ao falar da trajetória de Barbosa na cerimônia de aposição do retrato na galeria de ex-presidentes do Supremo, realizada ontem. Mas reconheceu que utilizou a expressão "de primeira linha" em relação à condição de negro.
— Gostaria de pedir desculpas às pessoas a quem possa ter ofendido ou magoado com esta frase infeliz. Gostaria de pedir desculpas sobretudo se, involuntária ou inconscientemente, tiver reforçado um estereótipo racista que passei a vida tentando combater e derrotar — disse Barroso, acrescentando:
— Mais de uma pessoa me disse se eu justificasse a minha fala e pedisse desculpas eu daria mais visibilidade ao fato. É provável. Mas é sempre boa a oportunidade para enfrentar o racismo à luz do dia, mesmo o que se esconde em nosso inconsciente.
Barroso finalizou o pedido de desculpas citando Martin Luther King, símbolo mundial da luta contra o racismo, com a frase "Sempre é hora certa de fazer a coisa certa". O ministro Edson Fachin prestou solidariedade aos colega, afirmando que a própria trajetória de Barroso é prova de que a declaração foi um equívoco.
Conforme noticiou o GLOBO, Joaquim Barbosa chegou sorridente à cerimônia de aposição de seu retrato na galeria de ex-presidentes do Supremo ontem. Abraçou Ricardo Lewandovski, com quem trocou duras farpas e ofensas ao longo do julgamento do mensalão, de forma animada.
O semblante descontraído mudou quando o ministro Luís Roberto Barroso falou, na tentativa de fazer um elogio e na verdade cometendo uma gafe, que Barbosa era um "negro de primeira linha" durante discurso na cerimônia sobre a trajetória profissional do ex-ministro:
— A universidade (Uerj) teve o prazer e a honra de receber um professor negro, um negro de primeira linha vindo de um doutorado de Paris.
Questionado pelo GLOBO sobre a declaração de Barroso, Joaquim Barbosa disse que não ia comentar. A expressão virou motivo de piada entre militantes da causa negra que estavam presentes à cerimônia. Em tom de brincadeira, mas também de reprovação, eles diziam que se o ex-presidente da Corte era de "primeira linha", eles seriam de quarta, quinta ou mais.
Reprodução: Bahia Já