Trechos de áudios divulgados pelo g1 na última terça-feira (13) dimensionam a confusão envolvendo uma estudante trans e uma professora da Faculdade de Comunicação da UFBA, ocorrida durante uma aula da disciplina Produção e Circulação de Conteúdos e Mídias Digitais na última terça-feira (12).
Em um dos cortes, e possível ouvir a estudante Liz Reis, que é uma mulher trans, apresentando seu ponto de vista sobre um texto indicado pela professora Jan Alyne. A mediadora pergunta o nome da aluna que, segundo o site, participava da aula pela primeira vez desde o início do semestre, ocorrido em 14 de agosto.
Em seguida, Alyne pede que a discussão inicial da aula seja retomada, e a aluna rebate, afirmando que a sua leitura está dentro do contexto e dialoga com o indicado. Nesse momento, a professora nega que o assunto levantado pela estudante esteja de acordo com a abordagem, e a aluna rebate.
"A senhora não está querendo falar o real do real", afirma Liz. Alyne rebate "você não leu o texto". "Em seguida, é possível ouvir Liz apalavrando, em alto tom "eu li o texto, meu bem". Alyne insiste "não [leu]".
Neste momento, Liz se dirige aos colegas de turma: "Oh, gente, eu posso mandar individualmente textos do que eu estou falando, que conectam e dialogam. Eu acho que textos, quando a a gente passa na faculdade, a gente tem que trazer coisas para dialogar e debater, porque senão fica só em um lugar, né?".
A discuscussão sobre as divergências de abordagem prosseguem, e a professora fala que Liz, ficou "chateado". A troca de pronomes acalora ainda mais a discussão.
"Chateada! Liza Liz", corrige a aluna. "A curadoria sua está tão distinta que você não consegue nem me enxergar como uma mulher", diz a estudante.
Interpretação
Ao g1, a professora reconheceu que interpretou mal a identidade de gênero da estudante
"Eu não a conhecia, nunca a tinha visto e não fiz a chamada no início da aula. Ela não foi identificada como mulher trans para mim. Eu confundi a minha interpretação, de fato. Eu poderia ter identificado ela tanto como um homem gay, tanto como uma mulher trans. Eu errei. Quando ela começou a se sentir muito ofendida, porque a tratei primeiro no masculino, corrigi. Estava ficando nervosa e acho que falei outra vez, mas depois não voltei a falar. Ela começou a se exaltar muito, ficava falando coisas ali que não tinham conexão com a condução da aula, com o programa da disciplina", explicou.
Autoridade
Em outro trecho do audio divulgado pelo g1, é possível ouvir Liz questionando a metodologia de ensino da professora, e a dinâmica realizada. A discussão prossegue, com a estudante bastante exaltada, e a professora sai da sala em busca de um funcionário.
"Ela se exaltou bastante, e eu tive que sair da sala, porque ela não estava deixando a gente continuar a aula. Eu desci para chamar um servidor, porque eu estava com um pouco de medo também. Eu pedi apoio a ele, porque eu queria convidá-la a sair da sala, já que eu não estava conseguindo dar minha aula. Aí ela começou a se exaltar mais ainda", explicou.
Em nota, a Universidade Federal da Bahia informou que a estudante foi acolhida pela pró-reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil Cássia Maciel, e a estudante registrou queixa junto à Ouvidoria da universidade. A universidade também informou que é reconhecidamente inclusiva, diversa e predominantemente negra, jovem e feminina, e a criação de cotas para pessoas trans, em vagas supranumerárias, foi outra ação de inclusão criada pela universidade.
Na última quarta-feira, estudantes realizaram um protesto durante inauguração do novo prédio do Instituto de Humanidades e Artes Milton Santos (IHAC), que contou com a presença de reitores e pró-reitores, pedindo providências ao caso.