Uma técnica em enfermagem que atendeu a dona de casa Cleidiane Silva dos Santos, que disse que estava grávida de gêmeos mas que recebeu apenas um bebê na Maternidade Santa Helena, anexo ao Hospital São José, em Ilhéus, no sul da Bahia, afirmou que, num exame realizado na grávida antes do parto, ouviu apenas o coração de uma criança.
O atendimento pré-parto feito pela técnica de enfermagem, que não quis se identificar, ocorreu em um consultório da unidade de saúde. A profissional disse que a paciente deitou em uma maca e que utilizou um equipamento específico para ouvir os batimentos dos dois bebês que ela disse que estava esperando, mas só conseguiu escutar um coração bater.
A dona de casa diz, no entanto, que antes do parto uma funcionária da maternidade ouviu o coração dos dois bebês. A mulher afirma que estava grávida de gêmeos porque uma ultrassonografia realizada por ela em uma clínica particular 21 dias antes do parto indicou que ela esperava duas crianças. "Na hora que eu dei entrada no hospital, a mulher foi e deu o toque e escutou o coração dos dois lados. Escutou dos dois e falou que os dois estavam bem", destacou.
A Santa Casa de Misericórdia de Ilhéus, que administra a maternidade Santa Helena, disse que já recebeu da polícia um documento com várias perguntas sobre o atendimento da paciente. A polícia ainda não conseguiu esclarecer o que aconteceu, mas trabalha com duas hipóteses: ou um dos bebês sumiu, ou hoiuve erro na ultrassonografia.
Ultrassonografia
O médico da Clínica Radiológica de Ilhéus (CRI), Edson Moreno, que fez a última ultrassom de Cleidiane confirmou a versão dela de que o exame indicou que ela estava grávida de gêmeos. O exame foi feito quando ela estava com 37 semanas de gravidez. "Nós realizamos essa ultrassonografia e constatamos realmente que tinham dois fetos no abdômen do paciente", afirma Moreno.
O médico avalia que o "sumiço" do segundo bebê poderia ser explicado como um caso de "síndrome da transfusão feto-fetal". "A literatura médica relata os casos de gravidez múltipla a transfusão feto-fetal. Ou seja, um feto retira o nutriente do outro apra suprir e, quando isso acontece, um feto é absorvido. Eu acredito que no caso dessa paciente tenha acontecido isso, a transfusão feto-fetal", explica.
No entanto, ele pondera que a absorção do segundo feto, com 37 semanas de gravidez, pode não ter sido completa. "Absorvido, 100% não. Como a cesariana é um ato cirúrgico que tem sangue, pode ser que o fetinho absorvido esteja encolvido com compressas e sangue. Nesse momento, como o obstetra dá mais atenção ao feto que vai nascer, aquilo seria coisa secundária. Agora com 37 semanas, eu nunca vi e não sei se tem relato na literatura", avalia Edson Moreno.
Caso
O diretor do hospital onde foi realizado o parto afirmou que o médico responsável pela cesárea, Fábio Pinheiro, estava preparado para fazer o parto de duas crianças e ficou "surpreso" quando fez o corte e encontrou apenas um bebê.
O diretor Carlos Lira ainda disse que a mãe foi avisada que, apesar de estar na expectativa de ter dois filhos, apenas um bebê tinha sido gerado. "Constou no diagnóstico pré-cesariano de gestação gemelar, qual a surpresa quando ele [o médico] abre e só tinha um feto. Esse fato foi presenciado pelo neonatologista que assistiu a criança no momento do parto, confirmando que só tinha uma criança. Segundo a pediatra, porque já investigamos isso, foi informado à própria paciente", destacou o diretor.
Cleidiane também afirma que, antes do parto, ainda chegou a ser informada no hospital que os dois bebês estavam bem. "Na hora que eu dei entrada no hospital, a mulher foi, deu o toque e escutou o coração dos dois lados. Escutou dos dois e falou que os dois estavam bem. Aí, ela mandou eu tomar banho e ir para a sala de parto. E na hora que eu tava no parto, só chegaram com um no outro dia ainda, porque o menino ficou no berçário. Aí no outro dia apareceram com um e eu faleu: cadê o outro? Eu vim para a maternidade para ganhar dois e eu estou aqui com a ultrassom, e eu escutei o coração dos dois lá embaixo, e ela [a enfermeira] falou que os dois estava (sic) bem. E como é que vocês aparecem aqui com uma criança só?", contou.
A delegada que investiga o caso, Andrea Oliveira, afirmou que a polícia ainda tenta esclarecer o que aconteceu. "Temos duas alternativas: ou a a ultrassonografia está errada, o laudo foi feito de forma errada, ou então realmente havia duas crianças e uma delas está desaparecida. Aí a gente tem que solucionar o caso e ver onde está essa criança", disse a delegada Andrea Oliveira.
O caso foi registrado na última quinta feira (6), na delegacia de Ilhéus. A polícia pediu à maternidade que encaminhasse o prontuário médico de Cleidiane e forneça o nome do médico que fez o parto dela, quanto de toda a equipe médica que acompanhou o parto, para que essas pessoas, posteriormente, sejam ouvidas aqui em audiência. "Até porque, nós precisamos, realmente, definir se houve o nascimento de uma ou duas crianças", disse a delegada Andréa Oliveira.
Reprodução/G1