Bahia

'Só querem vingança, não é mais dinheiro', dizem parentes de gêmeos mortos sobre as constantes ameaças

Para a família das vítimas, o assassinato dos gêmeos seria uma vingança de um grupo de ciganos por conta da morte do também cigano Jair Ferraz de Almeida

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Os familiares do cinegrafista Cézar Sílvio e o advogado Sílvio Cézar Carvalho Santos, dizem que,   mesmo depois de  três membros da famílias  já terem sido mortos, as ameaças dos ciganos eram constantes.

“Cezinha me contou um dia desses que tinha ido pegar a filha na escola e sentiu que estava sendo seguido por uma moto, mas ele não teve certeza”, informou uma pessoa ligada à vítima que, por medo de represália, pediu para não ser identificada.

Outro familiar dos irmãos mortos, que também pediu anonimato, informou que  já foi perseguido e a suspeita é que tenha sido por alguém ligado aos ciganos. “No dia do julgamento de Jailton, por exemplo, eu  fui perseguido por uma pessoa que estava em um veículo modelo Amarok. Quando cheguei lá no fórum, o mesmo carro que tinha me perseguido estava no local”, contou.

Os familiares das vítimas contaram ainda à delegada Marilene Lima, que esteve no local do crime, que Jailton foi transferido de Simões Filho para Salvador porque haviam boatos de que o grupo de ciganos estavam encomendando a morte dele dentro do presídio da cidade, na Região Metropolitana de Salvador.

“Todo mundo tem medo de falar porque a polícia de Simões Filho e Dias D’Ávila é toda comprada por eles [os ciganos]”, denunciou um parente da vítima. Conforme relatou o familiar, foi  o irmão Sílvio Cézar, que era o advogado de Jailton, quem conseguiu a transferência dele para a capital baiana.

O CORREIO procurou a assessoria de imprensa da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) para confirmar a informação, mas eles alegaram que não tinha como responder ontem.

Para a família das vítimas, o assassinato dos gêmeos seria uma vingança de um grupo de ciganos por conta da morte do também cigano Jair Ferraz de Almeida. “Nós não estamos pensando em nos mudar ainda, mas a família está toda em choque. No entanto,  estamos aguardando o trabalho da polícia. O que eles querem agora é só vingança, não é mais dinheiro”, informou outra pessoa da família.

Mortes dos gêmeos

O cinegrafista Cézar Sílvio e o advogado Sílvio Cézar Carvalho Santos, 45 anos, irmãos gêmeos, foram executados ontem, na Baixa do Tubo, em Cosme de Farias. A polícia investiga se houve participação de ciganos no crime. É que o irmão das vítimas, Jailton Carvalho Santos, foi preso em setembro de 2014, após matar o cigano Jair Ferraz de Almeida, em 14 de agosto de 2014.

Nesse mesmo dia, a ex-mulher de Jailton, Nilda Maria Fiuza, o filho dele com outra mulher, David Santos, e o sobrinho Uanderfon Alves dos Santos foram sequestrados, torturados e tiveram os corpos carbonizados. No dia seguinte, a polícia encontrou os corpos de Nilda e de David num terreno baldio, na localidade de Lamarão do Passé, no município de São Sebastião do Passé. Já o corpo de Uanderfon foi achado num local ermo, em Dias D’Ávila.

Na ocasião, a polícia informou que dois ciganos conhecidos como Bira e Gilmar eram apontados por testemunhas como participantes do triplo homicídio. Agora, com a morte de mais duas pessoas da mesma família, o  Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) já solicitou às delegacias de São Sebastião do Passé e de Dias D’Ávila, responsáveis pela apuração dos crimes, que enviem os inquéritos para que eles possam ser estudados e a polícia possa avaliar a ligação entre os casos.

A delegada de São Sebastião do Passé, Joana Angélica Santos, informou que a investigação sobre as mortes de Nilda  e David ainda está em andamento.  “Soubemos que as vítimas têm parentesco com os irmãos que foram assassinados em Salvador, mas não tenho certeza se eles foram mortos pelas mesmas pessoas. A investigação aqui está em andamento”, afirmou. O CORREIO não conseguiu contato com o responsável pela delegacia de Dias D’Ávila, que investiga a morte de Uanderfon.

Dívida
A confusão  começou em abril de 2014, quando a esposa de Jailton, que é  irmão dos gêmeos, pegou um empréstimo de R$ 7 mil  na mão de ciganos. Poucos meses depois, eles viram a dívida subir assustadoramente, chegando a R$ 122 mil. Pressionado, o casal chegou a pagar R$ 43 mil ao cigano Jair Ferraz de Almeida, que exigiu como complemento do pagamento a casa deles, avaliada em R$ 400 mil.

Em depoimento à polícia, Jailton informou que, para se livrar da dívida e das frequentes ameaças, matou Jair. O comerciante foi julgado e terá que cumprir uma pena de 14 anos de prisão. Mesmo após quatro vidas terem sido interrompidas de forma violenta, a guerra não tinha sido finalizada ainda. 

O crime
Ontem, dois homens chegaram em uma moto no imóvel onde funcionava o escritório de advocacia de  Sílvio, na Rua Paraipaba, e um deles atirou contra o advogado, utilizando uma pistola de calibre .40, de uso exclusivo da polícia. O advogado morreu no local, após ser atingido na cabeça pelos disparos. A delegada Marilene Lima, que esteve no local, não soube precisar quantos tiros atingiram a vítima.

Já o cinegrafista Cézar, estava na praça circular da rua, a menos de 10 metros do local onde o irmão foi morto. Ele conversava com um amigo  e, ao ver Sílvio ser morto, correu em direção à entrada da rua, que não tem saída. Ainda assim, o atirador conseguiu acertá-lo.

Ele ainda foi socorrido com vida por um vizinho para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu. Até o fechamento desta edição, segundo a delegada Marilene Lima, a perícia não havia tido acesso ao corpo ainda para informar a quantidade de tiros e o local onde a vítima foi atingida. O horário e o local do enterro não foram divulgados.

Perseguido
Testemunhas contaram à delegada que um vizinho que tentou socorrer Cézar chegou a ser perseguido e que um Palio azul fechou a entrada da rua para dar cobertura aos criminosos.  “O carro que prestou socorro a ele ainda foi perseguido e alvejado. A perícia encontrou uma marca de tiro no fundo do carro”, informou a delegada.  Também próximo ao local onde Cézar foi baleado, a polícia encontrou uma cápsula. Com medo, os moradores da área não quiseram falar com a imprensa.

A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que as imagens das câmeras que haviam próximas ao local do crime  já tinham sido recolhidas e seriam examinadas ontem ainda.  O caso está sendo investigado pela 1ª Delegacia de Homicídios (DH). Ontem mesmo, as testemunhas que presenciaram o crime e familiares das vítimas começaram a ser ouvidos pela diretora adjunta do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Cleuba Regina Teles, e pela coordenadora da 1ª DH, Andréa Ribeiro.

Reprodução/Correio24h