Bahia

São João 2021: segundo ano sem os festejos traz perda de milhões na economia do Estado

Artistas e prefeituras lamentam situação e pedem aceleração na vacinação

leitor/LD Notícias
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O mês de junho chegou trazendo com ele o São João, uma das festas mais populares do Brasil e símbolo da cultura nordestina. Mais uma vez, o festejo junino foi cancelado em virtude da pandemia da Covid-19, o que reflete na economia das cidades do interior e nos artistas locais que se apresentam nesta típica data.

O LDNotícias conversou com o cantor Tico Cavalcante do Forró do Tico, que concordou com a suspensão dos festejos. "Concordo com o cancelamento, acho que por mais que a gente queira e precise tocar, não deve ter São João. A vida em primeiro lugar sempre. Hoje a gente precisa de vacina antes de qualquer coisa e aí sim depois a gente faz o São joão quantas vezes for preciso", opinou. O músico falou também que o que o salvou economicamente foram investimentos fora da música. "Agora estamos nos virando como pode e levando no braço mesmo porque o brasileiro é bom disso", comentou.

Forró do Tico fez mais de 400 shows em 2019 e mais de 25 só no período do Carnaval em 2020, antes da pandemia começar. "Estamos há quase dois anos sem poder trabalhar. A classe musical vem sendo tratada como bandido, fiz um show onde só posso levar duas pessoas comigo, os dois embaixo do palco eu em cima e por mais que estejamos seguindo os protocolos, ainda não é o certo. É um sentimento muito ruim", falou. O artista revelou que vai fazer parte de algumas lives ao lado de artistas como Solange Almeida, Tarcísio do Acordeon e Eric Land. "Arraiá do Galinho quem sabe? Ainda não posso divulgar", disse ao ser questionado se faria parte desta live.

Em relação a realizar a festa em outro período, Tico disse que não concorda. "São festas que não é só o dinheiro que roda, o trabalho que gera. É uma festa que depende do mês, da energia do verão [como o Carnaval], daquela vinda do pessoal de todo o planeta para Salvador e as outras grandes cidades que fazem o Carnaval. Energia do São João, da ida do pessoal ao interior […]" E enfatizou a necessidade da vacinação. "A gente primeiro tem que imunizar todo mundo e começando devagar, retornando devagar eventos pequenos para 100, 200 pessoas. Depois para mil, duas mil, cinco mil e vendo como vai se comportar isso", comentou.

O cantor Del Feliz também concorda com o cancelamento dos festejos juninos, apesar de ser a época em que ele mais fatura economicamente. "Eu acho que fica mais fácil dizer que sou contra as aglomerações, mas a vida vem sempre em primeiro lugar. Tenho 30 pessoas ligadas ao meu trabalho, a minha estrutura que diretamente sobrevivem das, daquilo que é construído neste mês principalmente", desabafou. O músico disse ainda que as coisas poderiam ser diferentes. "O que nos deixa triste na realidade é saber que tudo isso poderia ter sido evitado, mas foi minimizado. A questao da vacinacão poderia estar muito mais avançada", falou.

Del Feliz contou que neste período de pandemia produziu músicas e em breve vai participar de um programa de TV. "Tenho um projeto de músicas temáticas onde eu fiz a música 'Pra gente se abraçar' com a participação mais de 100 artistas e o clipe está sendo relançado, recebendo o abraço de Carlinhos Brown. A música repercutiu fora do Brasil também", falou. "O projeto Dueto Feliz vai virar um programa de TV e vários artistas maravilhosos como Gilberto Gil, Emanuele Araujo, Elba Ramalho, estarão presentes. O programa vai ser exibido agora em junho", informou. O cantor também vai realizar lives com artistas locais e nacionais. "A gente vai fazer algumas lives que envolvam a participação de artistas locais e a participação remota de artistas nacionais. Sempre reiterando que é fundamental a gente ter respeito a todo protocolo para que a gente não se exponha e não exponha ninguém", concluiu.

PERDAS NA ECONOMIA

O presidente da Associação dos Profissionais de Eventos (APE), Adriano Malvar informou que possui 2207 associados e que eles estão 'se segurando no que pode'. "Olhar para os filhos e não saber o que fazer é doloroso. Nós da APE fazemos o possível e o impossível para amenizar esse sofrimento, distribuímos cestas, lutamos contra os poderes públicos buscando soluções para o que eles acham sermos indivisíveis, além de buscarmos parcerias diretas com empresas privadas", revelou. Malvar disse também que a associação está organizando uma ação neste mês. "Estamos arrecadando objetos ou figurinos de artistas para fazermos um leilão, onde a arrecadação transformaremos em cestas ou pagamentos de contas dos nossos associados", informou.

Malvar esteve no programa Ligação Direta, na rádio Salvador FM em fevereiro e, na ocasião, defendeu o retorno dos eventos com mais de 200 pessoas. "Ali já se permitia, e então votaram a proibí-los, qual o critério? Pois defendemos a volta gradual dos eventos. O início do processo tinha sido em outubro, eventos para 50 pessoas e aos poucos foram reabrindo, no final de janeiro proibiram novamente, qual o critério? Temos estudos com o hospital das clínicas de São Paulo, temos exemplos pelo mundo a fora que eventos seguros, com protocolos rigorosos não são meios de transmissibilidade", disse. "Desde maio de 2020 apresentamos protocolos, modelos, eventos experimentais, até estudos e se quer sentam conosco para dialogarmos juntos", criticou.

Em nota, a prefeitura de Cruz das Almas, uma das cidades com uma tradicional festa junina na praça, além do Forró do Bosque, informou que o município deixou de arrecadar cerca de R$ 30 milhões e que uma alternativa para diminuir os impactos está em construção. "Não só para os artistas, mas para os pequenos empreendedores e agricultores familiares", diz um trecho da nota. 

O prefeito de Amargosa, Júlio Pinheiro (PT), disse que o município deixa de arrecadar em torno de R$ 20 milhões no período junino. "É um grande negócio para a economia da cidade. É um recurso extra que é injetado com o setor de serviços e pessoas que alugam suas casas para garantir uma renda para a família até o final do ano", informou. Pinheiro disse também que é uma data muito importante para o comércio. "Para nós a data do São João é uma data de vendas para o comércio local mais importante do que o Natal então de fato é um prejuízo muito grande. Ainda mais no momeno que estamos tão prejudicados por causa da pandemia e do desaquecimento da economia nos últimos anos que com a pandemia foi agravado", concluiu.

MEDIDAS RESTRITIVAS NO SÃO JOÃO

Com o intuito de diminuir o aumento dos casos de Covid-19 na Bahia, o governo do estado anunciou que o transporte intermunicipal será suspenso pelo segundo ano consecutivo, até o período de São Pedro. Além disso, nenhuma festa junina será permitida na Bahia, independentemente do número de pessoas. 

No ano passado, Rui Costa e o então prefeito ACM Neto anteciparam os feriados de São João e Dois de Julho, respectivamente 24 de junho e 2 de julho, para os dias 25 e 26 de maio. Ou seja, a véspera dia 23 e o São João, dia 24, fora considerados dias normais no calendário baiano. 

ALTERNATIVAS PARA OS BAIANOS

Para amenizar a frustração de mais um São João com restrições, os baianos reinventam os festejos juninos. A estudante de Publicidade e Propaganda Júlia Cintra, de 20 anos, contou que ano passado realizou o 'Arrastapé da Ju Solidário'. "Para não perder a tradição eu reverti todos os ingressos que seriam comprados para o arrastapé e fiz uma campanha de doação para uma ONG que ajudava famílias em vulnerabilidade, e falei que ao invés de comprarem o ingresso, porque não ajudar quem precisa?", revelou. Ela também organizou um pack com comidas típicas, fogos e entregou por delivery para algumas pessoas. "Para levar um pouco desse sentimento na casa dasa pessoas, mesmo com todos isolados", falou. 

O estudante de Engenharia Elétrica, Lucas Lago, de 25 anos, também falou sobre a saudade dos festejos e concordou com o cancelamento por mais um ano. "Acredito que esse sacrifício seja necessário por parte da população para não complicar ainda mais a já grave situação de pandemia. Pra esse ano, resta comprar licor, colocar uma boa Live de forró e dançar com a vassoura na sala de casa", disse. 

O professor de dança e um dos donos da escola “Forró 4 andar”, Igor Cavalcante, afirma que neste período de pandemia houve um aumento de alunos procurando as aulas. “Tem acontecido muita procura, mas só voltaremos com toda a população vacinada. Precisamos ter segurança para retornar as atividades normais”, falou. “Estamos fazendo vídeo aulas disponibilizadas de graça na nossa página do Instagram”, informou para os amantes do forró ou para aqueles que buscam aprender uma dança diferente.

Para matar a saudade da festa, alguns artistas prepararam lives juninas para o mês de junho. Confira abaixo a lista:

Sexta-feira – 4 de junho 
Gusttavo Lima, “Embaixador In Concert” 

Sábado – 5 de junho 
Arraiá Bell Marques
Wesley Safadão, “Safadão Amplificado” 
Live de São João com Frank Aguiar

Domingo – 6 de junho
Sol João, com Solange Almeida

Domingo – 13 de junho
Arraiá do Rei com Zelito Miranda 

Sábado – 19 de junho
Arraiá do Safadão com Wesley Safadão

Quarta-feira – 23 de junho
Mastruz com Leite, Magníficos e Limão com Mel                                                                                                                  Arraiá do Rei com Zelito Miranda

Sábado – 26 de junho
Forró do Galinho
Carvalheira e Xand Avião na Fogueira

Terça-feira – 29 de junho                                                                                                                                                      Arraiá do Rei com Zelito Miranda