Bahia

Salvador Capital Afro: ação exalta produção afroempreendedora no Centro Histórico

Salvador Capital Afro exalta produção afroempreendedora em ação no Centro Histórico

Reprodução / Otávio Santos
Reprodução / Otávio Santos

Depois de marcar presença pelo Curuzu, na semana passada, o movimento Salvador Capital Afro aportou no Largo do Santo Antônio Além do Carmo com uma feira afroempreendora, caminhada e apresentações musicais, neste sábado (10) e domingo (11). Gratuito e aberto ao público, o evento foi uma oportunidade de mostrar a produção de empreendedores negros na cidade, no território Centro Histórico.

A feira AfroBiz + SCA reuniu, em um mesmo espaço, desde marcas conceituadas até empreendimentos em ascensão, oferecendo artesanato, moda, gastronomia e música, fomentando a troca entre os afroempreendedores participantes do programa AfroBiz. Presente no evento ao lado de outras artesãs do bairro de Itapuã, Rita Kapotira ressaltou a importância da iniciativa.

“A gente faz um trabalho da culinária e artesanato nativo da nossa comunidade. Ainda estamos engatinhando, mas aos poucos vamos aprendendo, sabendo como lidar com o mundo dos negócios. Nosso grupo tem mulheres de todas as idades, então a gente busca compartilhar e incentivar o aprendizado, para cada vez mais apresentar nossa arte ao mundo. Aqui está sendo uma experiência muito boa”, declarou.

A empresária de moda Viviane Vergasta já empreende desde 2017 junto com a prima. A ideia começou pela vontade de ter algo diferente, feito por mulheres negras, para empoderar e melhorar a autoestima.

“Naquele período havia poucas marcas com nosso perfil e então decidimos começar a marca. Acho a iniciativa muito importante, por reconhecer a nossa ancestralidade, que existem pessoas na nossa terra, que a cultura negra pulsa e que estamos em constante movimento girando a economia criativa, e impulsionando o turismo e colaborando com a economia da cidade”, destacou.

A Feira AfroBiz + SCA também abrigou a tenda de Conversas AfroBiz, um espaço para compartilhamento, formação e escuta, incentivando o discurso do Black Money e estimulando partilhas sobre planejamento financeiro e investimentos. “Eventos como esse são uma janela para que empreendedores possam ser conhecidos em um local que normalmente não frequentamos. É importante este momento para o empreendimento negro”, declarou Laura Raquel Silva, que trabalha na microempresa “Chupada Gourmet”, de venda de geladinhos à base de cachaça.

Rolê SCA
Nos dois dias, o público também pôde acompanhar o Rolê SCA, ou Afro-Caminhada-SCA. O projeto, um passeio guiado com vivências arquitetônicas, gastronômicas e históricas no Pelourinho / Centro Histórico, visa fortalecer a rota afro-cultural em espaços públicos, restaurantes e instituições que circundam essa localidade, promovendo uma experiência de deslocamento através da reconstrução dos saberes.

A caminhada teve como ponto de partida o Elevador Lacerda e seguiu pelas ruas do Centro Histórico, até o Santo Antônio Além do Carmo, entregando proporcionando aos 80 inscritos uma experiência turística com diálogos sobre história, arquitetura e gastronomia pelo Centro Histórico de Salvador. Direcionada em três grupos pelas guias Sayuri Koshima, Creusa Carqueija e Rita Souto, a caminhada passa por locais históricos e outros pontos importantes, como o Elevador Lacerda, o Memorial das Baianas, a escultura de Zumbi dos Palmares, a Escola do Olodum, o Restaurante Ó Paí Ó, a Associação Cultural dos Filhos de Gandhy e outros.

“Todas as caminhadas com guias pelo Centro Histórico são importantes e, quando há o foco na história negra, isso passa a ser mais importante em uma cidade com 80% de afrodescendentes, conhecendo a história daqueles que fizeram de Salvador a cidade que ela é hoje. Os pontos que visitamos são de pessoas que fazem parte do nosso universo de afroturismo”, declarou Sayumi.

A espanhola Hebe de Castro é visitante assídua de Salvador e aproveitou para acompanhar a caminhada. “Achei muito interessante, porque sou historiadora e morei na África. É importante valorizar e ofertar uma tradição diferente ao Carnaval, mostrando a cultura de Salvador até para os moradores. Nesta caminhada, por exemplo, já percebi muitas coisas novas”.

Acompanhada de amigos, a servidora pública Paula Barreto, de 38 anos, aprovou a iniciativa. “Já fiz uma caminhada parecida, mas sem essa perspectiva afrocentrada, então para mim foi incrível”.

As apresentações musicais no fim de semana reuniram os grupos Samba Trator e Ministereo Público, roda de capoeira com as presenças do artista Tonho Matéria e dos grupos Mangangá, Aprendendo a Viver e Agô Capoeira, além da cantora Aiace.

Capital Afro
Lançado em agosto pela Prefeitura, o movimento Salvador Capital Afro é uma iniciativa da Prefeitura de Salvador, através da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), no âmbito do Prodetur Salvador, em parceria com a Secretaria da Reparação (Semur). O projeto tem financiamento do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento e é mais uma ação implementada do Plano Étnico-Afro em Salvador.

A ideia do Salvador Capital Afro é fomentar atividades culturais, religiosas, artísticas e econômicas, tais como dança, arte, literatura, música, moda, gastronomia e esporte, destacando a força e expressão da cultura afro-brasileira presente na cidade. Haverá, inclusive, um festival inédito e ações de reconhecimento a eventos ou a empreendimentos que representem a cultura afro, além de uma estratégia para dar mais visibilidade às baianas de acarajé em atividade, denominada de Baiana Legal.

A especialista de turismo e coordenadora do Núcleo de Ações Turísticas da Prodetur, Simone Costa, afirmou que Salvador é uma cidade onde a cultura afro pulsa, então a iniciativa do Salvador Capital Afro é dar protagonismo a essa cultura, fazendo com que as pessoas, os agentes e empresas formadas por negros, que trabalham com o turismo possam se beneficiar e ter protagonismo econômico também. “Este projeto visa projetar Salvador como destino potente, original, único, onde a cultura é genuína e praticamente passa por todos os aspectos da nossa vida. Tudo bebe dessa cultura afro que aqui chegou e floresceu, e que tem a sua expressão de uma maneira rica, gastronomia, arte, cultura, tudo”, relatou.