Bahia

Salvador 470 anos: Barra era ponto estratégico e sede de povoado

A área do povoado que mais tarde ficou conhecido como Vila Velha da Barra se estendia entre o Farol da Barra e o Forte de São Diogo

NULL
NULL

 

Paisagem contempla o monumento marco da cidade de Salvador, a Cruz da Ordem de Cristo, e o Forte de Santa Maria - Foto: Raul Spinassé | Ag. A TARDE

 

O brilho da cidade de Salvador está na rua, nas relações cotidianas, nos sorrisos, em um povo que se reinventa todos os dias. Durante grande parte dos 470 anos da cidade, comemorados na próxima sexta-feira, a Barra foi ponto estratégico de defesa militar. Apesar de, oficialmente, a cidade “nascer” na região do Comércio com Thomé de Souza, em 1549, situava-se na Barra o primeiro povoado pelo qual os portugueses se interessaram.

A área do povoado que mais tarde ficou conhecido como Vila Velha da Barra se estendia entre o Farol da Barra e o Forte de São Diogo e se estabeleceu sobre uma aldeia tupinambá que vivia no local. Inicialment Portugal não tinha tanto interesse no Brasil. É somente em 1531, com a vinda do nobre português Francisco Pereira Coutinho, que a Coroa Portuguesa volta maiores atenções para o local na tentativa de intervir nas investidas francesas de negociação com os índios.  

No local, havia padrões de pedra que marcavam que aquela região era feitoria portuguesa. Nesse sentido, o monumento marco da cidade de Salvador, a Cruz da Ordem de Cristo, inicialmente ficava onde hoje é o Farol da Barra, antes conhecida como ponta do padrão.

Com o desgaste das relações entre índios e portugueses e o fracasso das capitanias hereditárias, Thomé de Souza é enviado para fundar um ponto de apoio, algo como uma nova capital portuguesa que resolvesse os problemas da região. E então é fundada a cidade de Salvador. 

“Os portugueses aportam na Vila do Pereira, como também era conhecida a Vila Velha, em referência ao Francisco Pereira Coutinho, mas eles escolhem a região do Comércio para construir Salvador, pela posição estratégica de defesa militar, com porto natural, na baía, na parte de baixo, e a cidade em cima. Salvador era o que vai da Praça Castro Alves até a Praça Municipal”, lembra o historiador Rodrigo Lopes.

Planejamento

O plano urbano de Salvador vem pronto de Portugal, inspirado em precauções bélicas, com terreno propício, fortificações, alerta e repartições públicas em um mesmo local. “Os navios que trazem a esquadra de Thomé de Souza possuem três naus simbólicas: Nossa Senhora da Conceição, que dá origem à primeira ermida da cidade; Salvador, que é o nome da cidade; e Nossa Senhora da Ajuda, que é a primeira igreja da cidade, erguida na parte alta”, destaca Lopes.     

Mesmo com as atenções voltadas para o Comércio, a partir de 1549, a Barra não ficou de lado e sempre teve papel importante de fortificação, pois, conforme lembra o historiador, não bastava somente “murar” a cidade, mas ter também fortificações que ajudassem na defesa. “Na Barra, você já tinha o Forte de Santo Antônio da Barra, no século XVI, e depois vêm os fortes de São Diogo e Santa Maria, no século XVII. Além de outros para proteger a costa”, diz. 

O administrador do Forte de Santo Antônio da Barra, Reuben Bello Costa, lembra que primeiro veio o forte, depois o farol, que foi construído após o naufrágio do galeão Sacramento. “O forte tinha a função de avisar sobre um inimigo próximo, por meio de tiro de canhão. A primeira resistência à invasão holandesa no século XVII foi com o forte. Cerca de 300 homens estavam no local. Em dias comuns, ficava uma guarnição de 12 pessoas. Hoje, o forte possui função de sinalização náutica”. 

Mas não é somente a questão militar, a Barra era um “refúgio” para a elite, sobretudo ingleses, que possuíam casa de veraneio. A região era frequentada por pescadores, após a construção da cidade. “Esse boom da Barra foi a partir da segunda metade do século XX, com o plano urbano. Essa ideia da Barra como local de convergência é nova, potencializada pelo Carnaval”, diz o historiador. 

 

A Tarde /// Figueiredo