Oriunda da rede pública de ensino e coordenadora pedagógica da Escola Municipal União Comunitária, localizada no bairro Vila Ruy Barbosa, Edivanira Pires, 39 anos, foi uma das classificadas do ‘Programa de Desenvolvimento Profissional de Professores Alfabetizadores’ e irá participar de um intercâmbio na cidade de Porto, em Portugal.
A pedagoga, que conquistou o primeiro lugar do Nordeste e terceiro de todo o país, estudou a vida toda em escola pública e durante a formação acadêmica foi bolsista integral pelo Prouni, por isso, destaca a importância da educação para mudar a vida das crianças carentes.
“Eu sou fruto da escola pública. Eu sou de uma família de baixa renda, então meu período escolar todo foi em uma escola pública. O cabelo eu tinha que alisar para seguir um padrão de beleza estipulado e nossas crianças, a maioria negras, precisam ter essa identidade fortalecida também na escola. A gente trabalha nessa questão que não são as características físicas que vão impedir delas alcançarem o que elas querem alcançar através do estudo”, destacou a coordenadora.
Ao se tornar concursada na prefeitura, Edivanira se especializou em Neuropsicopedagogia e Psicopedagogia com o objetivo de proporcionar a melhor experiência para os alunos e superar os desafios que envolvem a escolaridade. “A gente vê que a estrutura da nossa escola ainda é muito precária. A gente enfrenta muitos desafios em relação à educação pública, mas a aprovação nesse projeto significa para a gente o resultado de uma gestão escolar de qualidade, a união de saberes e esforços diários dos professores com quem trabalha, a credibilidade da família”, contou.
Edivanira destaca que através do sentimento de pertencimento, os alunos entendem que quem faz a educação da escola são eles e por isso criam responsabilidade com a rotina de estudo, visando uma vida próspera futuramente, independente do contexto social e das experiências familiares.
“Vale destacar que o nosso bairro ainda é tomado pela violência, mas que isso não seja determinante para que eles venham cursar uma universidade, para que eles venham a ser destaque nessa sociedade, entendendo que o papel deles na sociedade é que vai fazer esse mundo melhor. Eles precisam entender esse processo histórico que a gente passa e que quando a gente quer, a gente pode sim, criar esse caminho de sucesso”, afirmou.
O CONCURSO
O Programa de Desenvolvimento Profissional de Professores Alfabetizadores em Portugal terá a duração de seis semanas e acontecerá entre novembro e dezembro. A formação capacita professores com o objetivo de melhorar a alfabetização nas escolas públicas brasileiras, pela neurociência. Durante a pandemia, professores participaram do curso “Alfabetização baseada na Ciência”, disponibilizado pelo MEC em parceria com a CAPES, e os aprovados participaram na seleção para o intercâmbio. Edivanira reforça a importância do projeto.
“É um estudo para o aprimoramento desse processo de alfabetização que ainda é um desafio muito grande, porque no Brasil, a gente ainda tem 11 milhões de analfabetos e não consegue alfabetizar a criança na idade certa. Eu vou estar levando as nossas experiências, socializar, fortalecer a educação de qualidade que a gente tem feito na nossa escola para as crianças da periferia da cidade baixa", destacou.
Portugal tem excelentes índices de avaliação internacional em alfabetização, sendo referência para os demais países. O curso prevê o estudo teórico e visitas técnicas nas escolas que utilizam o método.
“Quando eu retornar dessa formação do intercâmbio eu terei que aplicar esse projeto na escola e também na formação de professores da nossa Gerência Regional, Liberdade e Cidade baixa. Ensinar essas crianças da periferia não é só uma questão de método e de material didático. É despertar nela a autoestima e o potencial de aprendizagem. Elas precisam criar expectativa de vida e lutar através dos estudos para a realização dos seus sonhos para terem uma profissão”, destacou.