Presos da delegacia da cidade de Itamaraju, no extremo sul da Bahia, fizeram selfies e postaram vídeos em redes sociais durante um motim que ocorreu na carceragem da unidade policial durante o final de semana. A confusão começou após um detento passar mal e só foi controloda cerca de 3h depois. Em um dos vídeos, os detentos aparecem ostentando armas e mantendo um homem como refém.
Nas imagens, disponíveis no You Tube, os presos ameaçam o homem, que aparece enrolado em lençóis. De acordo com a polícia, o homem que aparece como refém é um detento, que aguarda julgamento na carceragem após ter sido preso por suspeita de envolvimento em um estupro.
O delegado Bernardo Pacheco confirmou ao G1, nesta segunda-feira (16), que o vídeo foi gravado pelos próprios detentos durante a confusão.
Em outro trecho do vídeo, um preso pede melhorias. "Não invada com maldade com a gente. Se invadir com maldade , ele vai morrer. Vai morrer. Entra no sapatinho. Vamos negociar. Nós só queremos a melhoria. Queremos ser transferidos para o presídio, porque o preso passou mal aqui e vocÊs não atenderam. Nós só queremos a melhoria" (sic).
A delegada Valéria Fonseca, coordenadora da Polícia Civil na Região (8ª Coorpin/Teixeira de Freitas), disse, no entanto, que a situação foi armada e que os presos simularam que um colega era feito réfem. Não houve feridos na rebelião.
Outro preso preso postou fotos e um outro vídeo da confusão em sua página no Facebook, onde aparece com o nome de "Marlon Blak Dii". O G1 confirmou com a Polícia Civil que o preso que postou as imagens participou do motim.
Nas fotos postadas na rede social, o detento, que responde por tráfico de drogas, aparece com o rosto coberto ao lado de colegas de cela. Na legenda de uma das fotos, aparece a mensagem: "nós que é o controle da situação" (sic).
Em outra mensagem publicada, o preso diz que ia se ausentar da rede social por um tempo: "Vamos ficar sem se falar por alguns dias, mas não esqueça que eu te amo meu amor K.M" (sic), diz.
Em seguida, ele colocou no ar um vídeo que mostra a confusão na celas. Nas imagens, é possível ver os presos destruindo parte da estrutura das celas e gritando. Pouco antes do motim, o mesmo detento postou de dentro da cela uma selfie em que aparece sorrindo, ao lado de outro interno. Ele também é visto em outra imagem fumando.
A delegada Valéria Fonseca informou ao G1 que a Polícia Civil vai analisar as imagens. O delegado de Itamaraju, Bernardo Pacheco, disse que todas as armas que aparecem nos vídeos postados pelos detentos e todos os celulares foram apreendidos e que uma investigação foi aberta para apurar o caso.
Transferência
Ainda no sábado, 13 presos que participaram do motim foram transferidos para o Presídio de Teixeira de Freitas.
Conforme informações da polícia, após o princípio de rebelião foi feita uma revista nas celas e foram encontrados cinco celulares, 35 buchas de maconha e oito armas artesanais. Ainda conforme a polícia, a carceragem da Delegacia de Itamaraju abrigava 29 presos quando houve o motim. Com a transferência de alguns deles, a unidade tem agora 16 detentos, que está dentro da capacidade da carceragem, segundo a polícia.
Rebelião
O motim na delegacia de Itamaraju ocorreu no sábado (14). Segundo informações da Polícia Civil, a confusão começou por volta das 14h, quando um preso passou mal.
O Samu foi acionado e atendeu o preso. No entanto, segundo a polícia, os outros detentos pediam que ele fosse transferido para um hospital. Eles quebraram algumas celas e queimaram objetos.
Ainda segundo a polícia, três equipes da Polícia Civil em Teixeira de Freitas, cidade que fica a cerca de 70 km de Itamaraju, foram para o local, juntamente com equipes de unidades especializadas da PM, como Caema e Peto. A área em frente ao complexo chegou a ser isolada, mas a situação foi controlada.
Fugas
Em Salvador, 17 presos fugiram da cadeia pública, no Complexo Penitenciário da Mata Escura, na madrugada de sexta-feira (13). Menos de 24 horas depois, outros 21 detentos conseguiram escapar da carceragem da 4ª Coordenadoria de Polícia Civil do Interior (Coorpin), em Santo Antônio de Jesus.
Conforme a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização do Estado da Bahia (Seap), os detentos da cadeia pública de Salvador fugiram após serrarem as grades de uma das celas da unidade prisional.
A fuga só foi percebida pela manhã, quando os agentes penitenciários da unidade observaram danos na cela. A unidade prisional tem capacidade para comportar 880 presos, mas estava com 1.227 detentos.
Segundo informou o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado da Bahia (Sinspeb-BA), todos os 17 presos que fugiram são de uma mesma facção criminosa que nasceu em 2015 entre os pavilhões do presídio da capital e se espalhou pelo estado da Bahia
Após a fuga em massa, o governador da Bahia, Rui Costa, determinou ao secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização, Nestor Duarte, a exoneração do diretor da Cadeia Pública, o capitão da PM Pablo Fagner Araújo Carvalho, e do diretor adjunto da unidade prisional, Paulo Cesar Gonçalves Sacramento.
Interior
Já em Santo Antônio de Jesus, 21 presos fugiram da carceragem da 4ª Coorpin, na noite de sexta-feira. A informação foi divulgada na manhã de sábado (14) pela assessoria de comunicação da Polícia Civil.
Um homem apontado como um dos líderes de uma facção criminosa que atua na Bahia, e que estava preso há um dia, foi quem planejou a ação. Danilo Santana de Jesus, que foi preso na quinta-feira (12), no bairro São Benedito, com um moto roubada, e parte dos demais detentos que conseguiram escapar seriam da mesma facção que os presos que fugiram da cadeia na capital baiana.
Segundo a polícia, a fuga em Santo Antônio de Jesus ocorreu por volta das 23h30, quando um grupo de detentos conseguiu quebrar uma barra de ferro de uma das celas. Em seguida, utilizaram a mesma barra para quebrar os cadeados de outras celas e liberar outros detentos. Após isso, a Polícia Militar informou que o grupo utilizou cordas feitas com lençóis para pular o muro da carceragem. A unidade tem capacidade para comportar apenas seis presos, mas 21 estavam no local e todos fugiram.
A polícia informou que um delegado plantonista, um escrivão e dois agentes de polícia estavam na unidade policial, mas não perceberam a fuga, porque os presos escaparam pelos fundos. Na ação, não houve feridos.
Reprodução/G1