As duas unidades do Ponto de Cidadania, serviço que atende pessoas em situação de rua em Salvador, desde 2014, foram fechadas. Os atendimentos foram realizados até o dia 31 de maio em dois contêineres instalados na capital baiana, um na Praça Marechal Deodoro, no bairro do Comércio, e outro na região da Sete Portas. O serviço nasceu em Salvador e foi copiado em outras cidades. “Todas as necessidades que eles trazem como demanda a gente vai fazer uma avaliação e, imediatamente, a equipe está preparada para atender aqui mesmo no dispositivo ou fazer acompanhamentos e encaminhamentos para outros locais”, explicou o coordenador técnico do projeto e psicólogo, Tiago Cerqueira.
Mais de 14 mil pessoas vivem nas ruas da capital baiana, segundo um levantamento recente feito pelo Projeto Axé. Com o fim da ação nos contêiners, além dessas pessoas ficarem sem assistência, 20 profissionais, entre psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros perderam o emprego. Eles fizeram um protesto na manhã desta quinta-feira (8), na Avenida Jequitaia, pedindo que os pontos de cidadania voltem a funcionar. Edlúcia Menezes, líder do Movimento População de Rua está preocupada com o fim do projeto. “O pessoal toma banho, o pessoal faz sua higienização, é acompanhado para dentista, médicos clínicos e várias outras coisas”, afirmou.
O projeto, idealizado pelo psicólogo e psiquiatra Antônio Nery Alves Filho, foi financiado pela Secretaria Estadual de Justiça Direitos Humanos e Desenvolvimento Social. Segundo a pasta, o ponto de cidadania funcionava com auxílio de recursos do Governo Federal, mas, com os cortes de verbas do executivo, o projeto teve que ser suspenso. A Bahia, segundo Nery, teve a possibilidade de ampliar os espaços que agora estão fechados.
“Em 2015, Brasília mandou recursos para Salvador para construir mais dois pontos de cidadania em razão do sucesso desse trabalho. Era para ser ampliado. Lamentavelmente esse recurso não foi usado e foi devolvido”, revelou o idealizador do projeto, Antônio Nery Alves Filho. Sobre a devolução dos recursos, a Secretaria Estadual de Justiça Direitos Humanos e Desenvolvimento Social não se posicionou.
João Roberto de Souza é uma das pessoas em situação de rua que utilizava o contêiner. Há 12 anos, ele deixou a família na cidade de Ilhéus, no sul da Bahia, para trabalhar na capital baiana, mas não conseguiu emprego. “A última ajuda que eu tive antes de fechar foi médico, dentista, enfim. E eles sempre vem me ajudando. Não só a mim, como a todos nós que mora [sic] na rua. Quando fechou eu senti falta e estou sentindo falta até agora”, disse.
Reprodução: G1 – Bahia