Bahia

Pedra de Xangô conserva ancestralidade e cultura afro-brasileira em Salvador

De acordo com a presidente da FMLF, Tânia Scofield, a proposta de implantação do novo espaço de convivência da capital baiana foi além de um novo desenho urbano para a localidade

Valter Pontes/Secom
Valter Pontes/Secom

A partir desta quarta-feira (4), Salvador ganha um novo espaço de lazer, integração à natureza e, principalmente, que reverencia duas fortes características do local: a história e a religiosidade. Inserido na poligonal da Área de Proteção Ambiental (APA) Vale da Avenida Assis Valente, em Cajazeiras X, o Parque Pedra de Xangô foi inaugurado pela Prefeitura, no dia em que completa cinco anos de tombamento do monumento lítico como Patrimônio Cultural da cidade. A solenidade contou com as presenças do prefeito Bruno Reis, gestores municipais e representantes de entidades de matriz africana.

Emocionado, o prefeito destacou a importância do parque para a comunidade e para os adeptos das religiões de matriz africana. "Nunca antes, na história de Salvador, houve uma gestão que se preocupasse tanto com as religiões de matriz africana. Temos aqui todo um trabalho de reconhecimento dos terreiros, isenção de IPTU, cadastro, georreferenciamento e tombamento dos terreiros, além de parcerias para reformas".

O chefe do Executivo municipal ressaltou ainda que o parque é o primeiro em todo o país que faz referência a um orixá. “Isso só poderia acontecer na primeira capital do Brasil, um lugar com um pluralismo religioso. Com o parque, o tombamento da Pedra fica ainda mais assegurado. O povo de santo precisava de um lugar para suas obrigações, celebrações e demais atividades. E hoje, temos mais um parque, de sete novos que iremos entregar nos próximos anos, sempre respeitando a legislação ambiental", concluiu Bruno Reis.

Com investimento de quase R$8 milhões, o novo espaço de convivência se constitui como importante símbolo histórico, cultural e religioso de Salvador, além de ser voltado para a conservação ambiental e desenvolvimento sustentável participativo. As intervenções englobam, ainda, a urbanização da Avenida Assis Valente. A via passou por serviços de macrodrenagem, pavimentação asfáltica, construção de meio-fio e passeio em concreto, pavimento em paralelepípedo de granito selecionado, além de 636 m² de espelho d’água.

Projeto – O projeto urbanístico do Parque Pedra de Xangô foi coordenado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) e teve efetiva participação da comunidade local, especialmente de representantes de religiões de matriz africana. Também houve colaboração de acadêmicos, pesquisadores e ambientalistas.

De acordo com a presidente da FMLF, Tânia Scofield, a proposta de implantação do novo espaço de convivência da capital baiana foi além de um novo desenho urbano para a localidade, expressando, sobretudo, as relações sociais, culturais e religiosas.  

“O projeto foi um grande convite para entender estas relações, trazer as discussões, construir um espaço sagrado, de valor religioso e de significado a persistente luta contra a intolerância e a discriminação. Um espaço verde que naturalmente abraça e reverencia a Pedra de Xangô”, avaliou a gestora.  

Poligonal ampliada – Com uma área de intervenção urbanística de 67 mil m², o projeto do Parque da Pedra de Xangô contemplou a criação da via de monitoramento e o desvio da Avenida Assis Valente. Isso permitiu que a Prefeitura ampliasse a poligonal do parque, protegendo a Pedra de Xangô, que está envolvida por uma vegetação remanescente de Mata Atlântica, reforçando, assim, o caráter sagrado do local.

O equipamento apresenta-se como uma contribuição para a melhoria das condições socioambientais da região de Cajazeiras e adjacências. Moradores e frequentadores do local entendem que a criação da APA Municipal é uma estratégia que atua como escudo contra um avanço indesejado sobre a Mata Atlântica, evitando a derrubada de árvores para implantação de loteamentos clandestinos em áreas de proteção.