Bahia

Pai de criança morta na BA afirma que tiros foram da PM: 'Acontece sempre'

Menina morreu no dia 17 de março, em suposto tiroteio com policiais

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Menina de 6 anos foi morta em casa (Foto: Reprodução/TV Bahia)Os pais da menina de seis anos que morreu após ser baleada na sacada da própria casa, no dia 17 de março, no bairro de São Caetano, em Salvador, prestaram depoimento na quinta-feira (23) ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que abriu um inquérito para investigar o caso.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a criança morreu durante uma troca de tiros com suspeitos no local. Já os moradores e a família contestam a versão e dizem que foi a polícia que chegou atirando, quando a rua estava vazia porque chovia no momento. Em entrevista ao G1 nesta sexta-feira (17), Robenilton Barreto, pai de Mirela do Carmo Barreto, reafirmou que os tiros partiram dos policiais. Ele acredita que não havia condições de acontecer uma troca de tiros no local onde mora.

"Os policiais chegaram em uma ação policial e chegaram atirando, e acabou acertando nossa filha. Não houve tiroteio, porque no dia estava chovendo e no local onde moramos, são várias casas uma do lado da outra. Não tem espaço. Em frente da nossa casa é corrimão, não tem condições de ter tiroteio ali, não tinha ninguém na rua. Minha esposa estava junto com minha filha e só viu eles [policiais] na rua. Minha filha estava estendendo roupa com a mãe, possivelmente quando ela se debruçou na calçada foi atingida”, contou ao G1.

Robenilton Barreto diz que informou a versão da família e dos vizinhos à Polícia Civil, para que os responsáveis pela morte da filha sejam punidos. "O que aconteceu é o que vem acontecendo sempre. Eu acho que as autoridades competentes têm que ver isso. Toda vez que um pai de família e uma criança é atingida por bala de policial, dizem que foi bala perdida e não assumem, não dizem que erraram e não pedem perdão à família", afirmou o pai da criança.

"Eu creio que no bairro nobre, a polícia não entra atirando, mas em uma rua apertada, com várias casas do lado sai dando tiro, oferecendo perigo. O Estado vai aceitar? Eu preciso de apoio das autoridades competentes para que não seja mais uma criança morta. O caso não pode ser esquecido", desabafa Robenilton. Ele conta a mulher, a dona de casa Edineide Barbosa, está muito abalada por perder a única filha.

"Lembramos da nossa filha e de tudo que vivemos com ela. Tudo que fizemos era por nossa filha e ela sempre retribuía com carinho e amor. Acabaram com minha vida e da minha esposa. Ela diz que a vida para ela não tem mais sentido", diz o segurança.

O vizinho da família da garota, Dino Rosa, também esteve na sede do DHPP, na Pituba, para ser ouvido pela polícia. Ele disse em entrevista ao G1 que estava na sacada de casa quando os policiais chegaram.

"A gente não viu troca de tiros nenhuma. Quem estava na frente da casa foram os policiais eu estava na sacada de casa e vi. Eles [policiais] atiraram para cima no momento", contou o vizinho.

Morte
Após ser baleada, Mirela chegou a ser socorrida para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da San Martin, mas não resistiu aos ferimentos. A Polícia Militar disse que todas as informações referentes ao caso serão passadas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP).

Por sua vez, a SSP informou que só iria se pronunciar sobre o caso após o resultado da perícia realizada pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT). As armas utlilizadas pelos policiais foram recolhidas pelo DPT e vão passar por perícia para determinar de onde veio o tiro que matou a menina. O DPT informou que não existe um prazo para o resultado da perícia ser divulgado.

Com relação aos policiais envolvidos na ação que resultou na morte da menina, a SSP informou que eles continuam atuando normalmente.

Conforme a SSP, a vítima foi morta durante uma troca de tiros entre policiais militares e bandidos. Os policiais estavam no bairro porque seguiam o sinal de GPS para rastreamento de um celular furtado e, quando chegaram ao local indicado, foram recebidos a tiros por bandidos.

Segundo a polícia, o proprietário do celular que teria sido furtado, e que acionou a guarnição da PM, testemunhou toda a ação e será ouvido. As armas dos policiais que participaram da ação foram recolhidas. A SSP infomou que diligências tentam identificar os suspeitos de trocar tiros com a polícia.

Conforme a secretaria, apenas o resultado dos laudos poderão revelar de que arma partiu o disparo que matou a criança. O confronto entre PMs e bandidos é investigado pela Corregedoria da Polícia Militar. Já a morte da menina de 6 anos, teve inquérito aberto no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Denúncia
Moradores do bairro de São Caetano contestaram a versão do caso divulgada pela SSP e questionaram a ação da PM após o crime. De acordo com duas moradoras que preferiam não se identificar, os policiais que estiveram no local já chegaram ao bairro realizando disparos. “Eles só chegam atirando, não pergunta se tem gente na rua, não pergunta nada. Os policiais ainda tiveram coragem de dizer que ainda foi troca de tiros”, disse uma das moradoras.

Uma outra moradora contou que viu quando a menina foi baleada, e disse que a rua estava vazia no momento do crime. "Eu vi ele chegando agachado, quatro policiais, e o dono do celular. Ele estava no meio, dois policiais atrás e dois na frente. Só que quando eles chegaram aqui não tinha um pé de gente na rua. Não tinha ninguém porque estava chovendo. Eu saí para olhar meu filho, quando eu cheguei só vi os pipocos (sic), eles atirando. Quando eu vi a população correr, eu corri também, e vi a criatura gritando. Pensei que foi o susto, mas a filha dela já tinha tomado o pipoco (sic)", disse.

Reprodução/G1