Bahia

Obras de macrodrenagem de R$ 270 milhões em rios de Salvador geram protesto de ambientalistas

Intervenções são realizadas nos rios Jaguaribe e Mangabeira, que cortam bairros da capital baiana. Governo diz que quer evitar alagamentos.

NULL
NULL

Manifestantes fizeram uma caminhada pela Avenida Octávio Mangabeira (Foto: Reprodução/TV Bahia)As obras de macrodrenagem que estão sendo realizadas nos rios Jaguaribe e Mangabeira, que cortam bairros de Salvador, são alvos de protesto por parte de ambientalistas. Enquanto o governo do estado, responsável pelas intervenções, diz que as obras têm como objetivo evitar enchentes e inundações em épocas de chuva, ambientalistas afirmam que a medida não surte efeito e defendem a preservação das margens dos rios. De acordo com a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), que realiza as obras, o projeto prevê a requalificação de canais com extensão total de 10.135 metros, a partir do revestimento de parte das margens. A canalização é feita com concreto.

A obra, de acordo com o órgão, tem investimento de R$ 270 milhões, captados junto ao Governo Federal, por meio do Ministério das Cidades. Conforme a Conder, as obras já foram iniciadas – o órgão não disse a data exata – e o prazo previsto para conclusão é de 12 meses, para intervenção em cada rio. Segundo a Conder, o investimento é no eixo prevenção de desastres naturais, para evitar as enchentes e inundações registradas com frequência em áreas de risco ocupadas de forma desordenada, ao longo do tempo, principalmente nos bairros da Paz, Piatã, Alto do Coqueirinho e Itapuã.

Entre os benefícios que as obras devem trazer, segundo o órgão, estão: redução de danos provocados pelas enchentes, que, conforme a Conder, chegam a atingir uma população superior a 50 mil habitantes; reassentamento de famílias que vivem em áreas de risco e criar as condições necessárias para as correções do lançamento de esgoto.

O órgão também diz que o projeto prevê proteção e reforço das adutoras de água da Embasa, que abastecem metade da população de Salvador, evitando acidentes que possam provocar um colapso no abastecimento; urbanização de áreas nas margens dos rios com implantação de ciclovias e quadras esportivas, além da substituição de pontes e passarelas, melhorando a qualidade de vida e a acessibilidade da população, e ainda canteiros verdes que irão preservar espécies nativas e recompor a arborização.

Protesto

No último final de semana, um grupo de ambientalistas protestou contra o projeto de canalização. Os manifestantes fizeram uma caminhada pela Avenida Octávio Mangabeira. O professor de hidrologia Lafayete Luz foi um dos que participaram do protesto. "Esse, infelizmente, tem sido o destino dos rios de Salvador: a canalização. Mas, como pode se ver, não é a solução dos problemas. O rio mostra que são problemas da cidade, que é falta de infraestrutura de esgotamento sanitário e o problema do lixo", destacou. O Rio Camurugipe, que nasce perto de Pirajá, passa pela região do Iguatemi e desagua no bairro do Costa Azul, também passou por processo de canalização. O rio tem 14 quilômetros de extensão e recebe muito material de esgoto, depois vai parar no mar.

"O problema é o convívio nas áreas urbanas. Temos que conviver com a estética ruim [dos rios], com o mal cheiro e com exposição a diversos outros vetores que trazem doenças", destaca o professor. Em 2008, o Rio do Seixas, na Avenida Centenário, além de canalizado, foi coberto por concreto e no local construída uma área de lazer. O mesmo foi feito em 2009, no Rio das Pedras, no Imbuí, onde atualmente funcionam as tradicionais barracas do bairro. Toda as obras foram executadas com o mesmo objetivo: acabar os alagamentos. No entanto, o professor Lafayete Luz diz que o problema não foi solicionado.

"Isso cria um outro problema. Esconde a sujeita embaixo do tapete e, por outro lado, há uma necessidade de manutenção [das canalizações], por acúmulo de resíduos sólidos. Tem um custo enorme abrir e tirar placas de concreto das canalizações para poder dar essa manuteção ou fazer alguma outra intervenção diferente", destaca.

Uma parte do rio, no entanto, ainda está decoberta, mas o rio está poluído e quase sem mata ciliar, que perdeu espaço para construções. "Essas áreas deveriam não ter ocupação, mas a cidade se desenvolve muito de maneira espontânea. Então, é normal você vê contruções dessa forma, confinando o rio e, na hora em que há um alagamento, você vai ver essa água inundando as casas, e inclusive inundando com esgoto, criando um problema de saúde pública seríssimo", disse o professor.

A prefeitura de Salvador disse que as obras de macrodrenagem são de responsabilidade do governo do estado e que, através da Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), apenas renovou a licença ambiental para a realização do procedimento. A administração municipal, no entanto, diz que a macrodrenagem é uma intervenção fundamental para evitar problemas futuros, como alagamentos.

A Conder disse que o projeto prevê a requalificação de canais a partir do revestimento de parte das margens, ao invés do tamponamento realizado em obras similares em outros rios da capital, como no Imbuí e na Avenida Centenário, e que trará benefícios.

Reprodução: G1 – Bahia