No meio do Arraial do Retiro, no centro de Salvador, a lagoa que leva o nome do bairro é um espetáculo de beleza natural à parte. Mas, para os moradores, falta algo. Falta urbanizá-la. Tornar aquele ponto – tão bonito e característico do bairro – mais adequado para ser usufruído por quem vive lá.
“Precisa fazer uma limpeza, organizar, porque o pessoal aqui toma banho, pesca. É uma lagoa que todo mundo usa, porque não tem outros espaços de lazer. Eu mesmo, de vez em quando, dou uns mergulhos lá”, conta o caldeireiro José César Duarte, 52 anos, que mora no Arraial do Retiro há oito. Segundo ele, ali, na lagoa, é fácil encontrar peixes como tambaqui, tucunaré, tilápia e até camarão – todos inicialmente levados por moradores para criação.
Em breve, o ambiente deve ficar melhor para as mais de 352 famílias diretamente ligadas à rotina da Lagoa do Arraial do Retiro. Com um projeto de requalificação orçado em cerca de R$ 600 mil, a área de 1,8 mil m² deve ser revitalizada e totalmente reformada pela prefeitura em breve. O edital deve ser lançado nas próximas semanas e as obras concluídas em até seis meses.
“Ali tem uma pedreira, é uma área pobre e densamente ocupada, onde eles não têm nenhuma área de lazer. Vamos fazer a urbanização dessa lagoa e promover uma área de lazer para a comunidade como um todo”, adianta a presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield, responsável pelo projeto.
Reivindicação antiga
De acordo com Tânia Scofield, as melhorias na lagoa são demanda antiga da comunidade. Por isso, o projeto foi apresentado e discutido com eles. “A lagoa é resultado do assoreamento das rochas ali, daquela pedreira. À medida que foram quebrando, ela foi surgindo. Ela é natural, tem água renovada”, explica ela.
O comerciante Reinaldo Anunciação, 35, que mora bem em frente à lagoa, dá até uns pitacos de como ficaria melhor, quando o local receber as intervenções. Hoje, não há nenhum tipo de infraestrutura. Só o natural: água e muito verde em volta, além da antiga pedreira. “Se fizessem um parque, colocassem um deque, uma área para pesca… Ia ficar massa”, opina.
Reinaldo pode até não saber ainda, mas Tânia Scofield garante que ele vai ficar feliz. Uma das novidades da lagoa será justamente a implantação de um deque. “Vamos construir porque eles nadam e pescam na lagoa”. Ainda de acordo com ela, o objetivo da reforma é priorizar a preservação de áreas de valor ambiental e requalificar o espaço urbano com paisagismo – como a criação de jardins e plantio de árvores – e com equipamentos de lazer.
Na lagoa, ainda será construída uma academia e um parque infantil. Também serão instaladas mesas para jogos, sanitários e um quiosque para baianas de acarajé ou até para que os moradores façam um churrasco. “É uma faixa estreita, mas teremos uma área de lazer que vai ficar bem bonita”, promete Scofield.
‘Parecido com o dique’
De fato, moradores ouvidos pelo CORREIO parecem ter aprovado a novidade. A auxiliar de serviços gerais Roberta Vasconcelos, 37, é uma das moradoras que viram o projeto. Garante que gostou. “A lagoa é maravilhosa. Quando revitalizar, vai ficar linda. Eles vão fazer e vai ficar parecido com o Dique (do Tororó), com pedalinho e tudo”, comenta.
Ela e a mãe, a doméstica Maria José Campos, 64, costumam frequentar o local com a família. Mas elas dizem que quem toma banho mesmo são as crianças e os adolescentes. “Tem vezes que desce um bocado. Eles saem da escola e vêm para cá tomar banho na lagoa”, explica Maria José. Os mais velhos, segundo elas, preferem a pesca.
As duas contam que os resultados ali podem ser impressionantes: afirmam ter até foto de peixes capturados que pesavam entre 15 e 20 quilos. “Se você ver o tamanho dos peixes, menina… Tudo assim, ó”, apontava Roberta, indicando o tamanho do bicho com os braços abertos.
Fonte: Correio